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Diário de um Peladeiro 2024 – Parte 3

Terceiro episódio da jornada de Clinton Davisson para superar o autismo e a depressão com esporte

Dois em um

Esse texto é mais longo porque abrange duas peladas. Mas vamos lá.

No ápice de uma semana de bosta. Perdi a data da inscrição no doutorado da Facom (eu queria mesmo o de cinema, mas este era obrigatório não esquecer, mas eu sou uma droga de um autista com TDAH e com um pico de depressão), porque eles resolveram adiantar em dois meses a data da inscrição. Resta o Doutorado de cinema em Juiz de Fora e de Comunicação na UENF. Briguei com os gêmeos também por causa da depressão, agora são três filhos que não falam comigo. Perfeito! A cereja no bolo foi que eu tinha planejado um pequeno curta metragem para filmar semana passada, arrumei equipe, equipamento, roteiro pronto, dava para filmar as cenas em um dia, mas a atriz ficou doente. O tempo que eu tinha era só aquela semana. Filmar alguma coisa agora só ano que vem. Enfim, semana de fezes, para usar um termo mais polido.

E foi com este espírito que fui ao jogo do dia 28 de setembro, sábado passado. Fui me arrastando. Realmente estava muito deprimido e chateado. Mas fiz este esforço porque ficar em casa é pior. Corri meio desajeitado como sempre, mas dei dois bons passes para gol. Chutei duas vezes com perigo, mas não rolou nenhum gol. Voltei mais desanimado do que quando fui. A única coisa boa é que a bola que eu comprei lá em Brasília, quando ainda era rico, passou a ser usada na pelada.

Mas o planeta gira, né?

Ao contrário da semana passada que teve uma série de acontecimentos lamentáveis, esta semana começou bem.  Segunda-feira fui à médica levar alguns exames e apesar da gordura no coração, ela falou que o risco de infartar em campo é zero. Que eu tinha que me preocupar mesmo com o fígado. Este sim, tem gordura demais. Peguei firme na academia. Fui 4 dias seguidos. Perdi 2kg. Ainda não abri mão da Coca-Cola. Não tá na hora ainda. Além da academia, peguei firme no projeto de doutorado, tanto de cinema, quanto para a UENF, interrompi apenas porque chegou a reta final de mandar o livro novo para a editora. E posso dizer que suei mais nesta reta final do livro do que na academia. O livro final tinha um total de 97 mil palavras. Algo que há dez anos atrás seria bom, mas que hoje, com o preço do papel muito exacerbado, não é bom negócio. As pessoas pagam R$ 50 felizes por um combo no McDonalds, que fica pronto em cinco minutos (dependendo da filial do McDonalds que você vai), mas reclamam de pagar R$ 50 em um livro que demorou 12 anos para ser escrito. E me refiro ao livro anterior, o premiadíssimo Baluartes. Imagina o de agora, um drama de hiperfantasia e ficção científica hard, sobre uma menina autista com TDAH? E sabendo que o livro não deve sair por menos de R$ 60? Não adianta falar que este eu demorei nada mais nada menos que 16 anos para escrever. O tempo que o Tolkien demorou para escrever O Senhor dos Anéis, mas a comparação é injusta porque eu abandonei este livro por anos e depois voltava e abandonava de novo. Então, não, não sou Tolkien.

Mas enfim, peguei pesado esta semana para terminar o livro conforme orientação da editora, que por sinal, é a mais profissional com a qual já lidei. E a primeira que tem um profissional para atuar como editor de verdade. Ele me aconselhou entre outras coisas deixar com no máximo 90 mil palavras. Ou seja, eu tinha que sumir com 7 mil palavras. Apontou onde exatamente eu poderia cortar. Eu pensei por meia hora, fui lá e cortei. Depois fiquei uma semana enxugando a história e, ao mesmo tempo, revendo se havia ficado buracos. As cenas de batalha final, estavam grandes e confusas. Não sei os outros escritores, mas eu quando escrevo uma cena de batalha, parece que estou lá dentro, vendo tudo com minha câmera e tentando registrar e escrever o que vejo. Foi preciso me distanciar um pouco e reescrever. Deixar as coisas mais claras. Resultado, mesmo acrescentando coisas e mais o prefácio, o livro ficou com 10 mil palavras a menos. Total 87 mil palavras, com direito a um dicionário de uma língua que inventei para os dragões (não sou Tolkien, mas também crio idiomas).

Com isso, livro terminado e entregue, academia em dia, carteirinha de autista chegando pelo e-mail (será que vou andar de ônibus de graça?), e o remédio novo para depressão finalmente fazendo efeito, parti hoje, sábado, 5 de outubro de 2024, em direção ao futebol com a certeza de que iria chegar lá igual o Thor chegou a Wakanda em Vingadores – Guerra Infinita.

Começou mal, mas acabou muito bem

Ah, ledo engano. No começo eu me senti mais cansado do que antes. A musculação demora a fazer efeito e na prática, meus músculos estavam eram mais duros. A agilidade estava pior que antes, que já era ruim. Puxava o ar e ele não vinha. Cheguei a pensar em ir embora. Mas aí, algo aconteceu. Eu comecei a me sentir melhor, a respirar melhor e a correr mais. Acho que tive umas 10 chances de gol, bem diferente da semana passada quando tive umas duas que não aproveitei. O primeiro gol veio de um rebote que peguei uma bomba de esquerda, o goleiro não conseguiu segurar. Se fosse meu amigo, Igor Sardinha, iria ter calma de mirar onde o goleiro não estava. Mas ele é craque, eu não sou. Meti uma bomba de esquerda. Golaço.

O segundo veio de um passe perfeito da direita. Novamente peguei de esquerda, lindo gol, mais pelo passe. Eu só tive o trabalho de escorar. O terceiro não foi bem um passe, acho que foi um chute mal dado para a esquerda do goleiro que já ia caindo para aquele lado, eu desviei a bola com a ponta do pé (direito) para o lado oposto. Bola de um lado, goleiro de outro.

Sim, hoje bati o recorde, fiz três gols e vou pedir música no Fantástico. Não quer dizer que foi uma atuação de gala. Ainda não me reacostumei com o futebol de salão, apesar de ter passado muitos anos jogando, tanto em Barra Mansa (a gente jogava com bola de campo), quanto em Juiz de Fora no saudoso Guanabara no Alto dos Passos. Mas meu joelho reclama.

Como eu disse, não foi atuação de gala. Eu tentei mais coisas justamente para me testar. Por isso mesmo errei muito mais. O equilíbrio ainda tá horrível. E quanto tentei acompanhar um jogador na corrida que tinha 30 anos a menos que eu, foi um desastre. Mas só vou ter uma noção real de como estou realmente depois que voltar aos 85 kg. E faltam 15 kg ainda para chegar lá.

Enfim, uma semana realmente boa. Aniversário da filha, consegui escrever uma coisa legal para ela que voltou a falar comigo. Livro terminado. Três gols. Falta agora terminar o projeto de doutorado. Vai ser uma semana muito difícil. Já tenho todos os livros que preciso ler e mais alguns. O tema está quase definido, mas sinto que preciso estudar mais a linha de pesquisa dos orientadores. Então é isso, vamos para cima!

Saldo de 20245 jogos8 gols6 assistências

Clinton Davisson Fialho é jornalista, com pós em cultura africana e indígena e mestrado em novas tecnologias de comunicação. Autor de cinco livros dos gêneros ficção científica e terror, vai lançar o sexto ainda este ano, intitulado Hegemonia I – Vellanda.

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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