Por Camila Raupp
Todo dia da mulher é o mesmo papo: flores, parabéns, você é guerreira, amamenta, teve parto normal, trabalha e estuda, dona do lar, rainha da casa, parabéns e flores. Mas é para isso que serve esse dia?
Quem sou eu para dizer para o que serve esse dia, eu sei é que desde que descobri que sou mulher – e isso só acontece quando você é discriminada pela primeira vez – que entendi que preciso lutar. Até aquele derradeiro dia no ano de 2012 quando me coloquei como profissional no mercado de trabalho e fui discriminada, xingada e humilhada que percebi que ser mulher atrapalha pra cassete!
Até então eu era bem sucedida, tinha casado, tinha filhos e uma casa, era amada e estava exercendo minha posição. Ainda que não tivesse terminado a faculdade, a minha bagagem já me colocava no mercado e eu já estava galgando posições. Até esbarrar no machismo que me foi jogado na cara com força pela primeira vez. Ser homem, agressivo e cheio de opinião pode e, inclusive, na minha profissão – te faz chegar bem mais longe, mas sendo mulher não! É feio, atrasa, os parentes comentam e todo mundo olha desconfiado.
“Puts que louca”, “Caramba que gasto de energia”, “Quanto desgaste”, ”Por que ela não concentra no que já tem?”, “Que mulher que reclama de barriga cheia!”. E assim eu passei por tudo isso, e olha que nem galguei nada de muito grande, apenas fui capaz de editar um jornal de interior. Lembro das frases quando tentava me empoderar nesse meio masculino. “Coitada, ela acha que pode competir com mulheres fortes de verdade como juízas e médicas”.
Assim descobri o que de fato incomoda em mim, ser mulher! E ponto! As mulheres incomodam, elas são um estorvo, unidas e empoderadas então ninguém segura. É por isso que a cada minuto tem um cara sentando o sarrafo em alguém, a cada novo minuto temos um estupro, um feminicídio, uma demissão, um assédio, mais uma mulher em um casamento aniquilante, sendo sufocada, humilhada, diminuída, emburrecida, isolada, sozinha, carente, com medo.
Pensando nesse artigo de hoje, enquanto faxinava a casa, colocava a roupa na máquina e adiantava o almoço do bebê e do resto da casa, eu pensava nessas palavras e buscava desesperadamente organizar um momento para sentar no PC para escrevê-lo. Corri e fiz tudo, fruta e banho pro bebê, remédio para o filho do meio com febre, pensar em quem ia buscar o mais velho na escola, “ufa o bebê dormiu”, rapidamente limpo o banheiro e corro para tomar uma ducha antes do bebê acordar. Acordou, almoço, louça, cafezinho, estende a roupa e almoço. Não vou conseguir!
São 15h13, estou escrevendo com o bebê resmungando de novo. Levanto, dou um brinquedo e ele para um pouquinho, corro para escrever esse artigo rápido rezando para que esse relato atinja a quem deve atingir e possa assim como uma gota no oceano trazer consolo à alguém que esteja nessa junto comigo. Lutando para sobreviver e se encontrar como mulher, mãe e profissional de uma forma que essas três coisas tenham equilíbrio e não destruam uma a outra. Porque sim, elas brigam o tempo todo com o tempero da culpa.
O que eu desejo dizer mesmo nesse dia é que não, não quero flores, quero que você homem e até você mulher entendam como é difícil competir com o mundo masculino que dita as regras. Não quero deixar de ser mulher, não quero ocupar o seu cargo, quero ocupar o meu. E que a sociedade entenda que se as mulheres que trabalham não tiverem uma rede de suporte para que os filhos cresçam a sociedade não vai avançar. Não olhe torto pra mãe que precisa sair mais cedo porque o filho está doente, não atrase seu avanço por isso. Nós podemos e somos capazes de muito mais do que se imagina.
Eu tenho muito mais para falar, mas meu tempo acabou, por enquanto minhas colaborações são curtas, tenho uma pessoinha que precisa muito de mim, e mais duas que já são grandes homens e sabem muito bem quem é a mãe deles. Mesmo não sendo medica ou juíza eu sou uma grande mulher porque luto prara oferecer a sociedade três grandes homens como o pai deles é. Sem ele eu não poderia nada, desejo que todas as mulheres tivessem, chefes como o Victor. Esse mundo seria nosso.
Eu poderia estar disputando altos cargos na minha área mas desacelerei, é preciso, portanto não me olhe torto se queria ouvir mais de mim, se acha que não aderi a greve ou as passeatas, das três mulheres que habitam em mim a que mais tem voz hoje é a mãe. Lide com isso!
Feliz Dia de Luta para Todas Nós – Esse espaço é nosso!