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Dia da Mulher – 6 anos depois eu não quero só meu salário, quero saúde mental

Quero saúde mental

2024! 41 anos, três filhos, casada, jornalista, cursando as duas últimas matérias da graduação de Marketing, empresária, dona de um jornal diário e de uma agência de publicidade. Sou eu, depois de seis anos desde a publicação do artigo abaixo, que acho muito foda, muito foda mesmo.

Quando escrevi isso eu era recém mãe pela terceira vez e logo em seguida meu companheito seria demitido do emprego em Macaé e eu perderia todos os meus clientes da agência num espaço de 30 dias. Foi a pior crise da nossa vida juntos. Mas nada dura para sempre e em 2018 eu seria convidada para trabalhar na Prefeitura de Cabo Frio, como assessora de imprensa.

Um desafio que aceitei e onde permanecei entre breves saídas e retornos até dezembro de 2022. Enfim, tudo que listei no artigo se tornava realidade. Eu tinha flores, salário, bons chefes, uma carreira. Estava realizada e plena, No começo ia de ônibus, depois de carro (velho e que me deixava na mão pelos caminhos da Estrada de Búzios, mas me levava e trazia). Primeiro na assessoria geral, depois na Secretaria de Educação.

Vivi nessa fase o melhor da carreira e o pior do amor, o melhor como profissional e o pior como mulher. Ao mesmo tempo que me sentia grande; boa no que fazia, contendo crises, dando visibilidade a ações incríveis; tinha a sensação de que a mulher em mim agonizava.

Eu mal via o Victor, amor da minha vida, meu companheiro e amigo, que me parecia um estranho, ele lá e eu aqui. O amor estava ali, mas o trabalho nos amassava, moía, estávamos perdidos um do outro. Mal via os meninos, que ficavam com a babá, e vez ou outra eu saía com eles dormindo e voltava com eles da mesma forma. O bebê desfraldou, largou a chupeta e perdeu dentes sem a minha presença. Até hoje isso me pesa. Até hoje lá no fundo a culpa me consome. Os dois mais velhos de uma hora para outra deixaram de ser crianças, eram meninos crescidos, que eu precisava conhecer.

Foram três anos assim, esmagada pela culpa e pelo ponteiro da balança que subiu sem controle, meu conforto e recompensa era comer. Mas eu seguia produtiva, combativa, defensiva. Uma assessora impecável, ainda que, andando por aqueles corredores da Secretaria de Educação, morta. Ninguém notava, a não ser o espelho que vez ou outra me encarava e eu virava o rosto. Escondida atrás dos cabelos longos que eram uma bengala.

Setembro de 2021. Subi um lance de escada e pensei rapidamente – Se seguir assim, vou morrer. Não valia mais a pena. Não foi de um dia para o outro. Meu salário era ótimo, quase 4 mil. No interior? Onde mais eu teria essa remuneração? A cabeça pegando fogo com medo de sair, medo de ficar. Só medo.

Aguentei mais um ano, tinha planos. Tracei a meta e comecei a mudar as coisas, academia, tempo para recuperar o amor da minha vida que quase perdi, olhar de novo para os meninos que me solicitavam com a alma – nunca cobraram presença. Nunca. Meninos maravilhosos de quem me orgulho todos os dias do nascer ao pôr do sol.

Dezembro de 2022, dia 28, escrevi o texto que me libertava do personagem que quase me matou. pedi exoneração leve e agradecida por ter tido um puta chefe, o Marcos e uma grande mulher como secretáia, Elicéa. Sou grata e sempre sereia grata, mas o meu lugar é na Prensa. Montei um plano de negócios, se eu atrair 10 clientes a R$400 eu consigo o mesmo valor perto dos meus. Em um ano tinha os tais 10 clientes, que hoje viraram um número menor, mas que me rende a mesma quantia, em média. Muito para alguns, pouco para outros, o suficiente para mim.

Emagreci 60kg, passei a treinar, redescobri o amor do meu companheiro, estou em conexão com meus filhos, que são adolescentes e precisam do meu olhar cuidadoso. Busco o pequeno na escola, faço bolo de caneca a tarde, cuido da casa, do jardim, medito, faço yoga, terapia, me alimento de forma saudável. Estou aqui, me reencontrando, entre dias bons e maus.

E se você chegou até aqui, o que eu tenho a te dizer é que não quero flores, nem meu salário, quero saúde mental. Quero poder trabalhar em um ambiente saudável, com pausas, com pessoas que entendam que sou mulher, regida por hormônios que me fazem ser produtiva num dia e letárgica no outro. Acordo querendo dominar o mundo hoje e amanhã me sinto a maior derrotada vivendo na terra.

Eu sei, é um mundo que não abraça as mães solo, as mulheres pretas periféricas e que só mostra o tamanho do meu privilégio de poder escolher abandonar um emprego bom por questões de saúde mental. Não estou de olhos fechados para a realidade mas posso inspirar você com meu relato e trabalhar para criar oportunidades de mudança para outras mulheres. Isso não passa por eleger ninguém, prefeita, vereadora, deputada ou presidenta; muito menos cultuar um deus que nos salvará se fizermos tudo certo. É trabalho de equipe, uma puxa a outra, todos os dias. Não tenho receitas mágicas mas conto com ela no dia a dia, abrindo caminhos impensáveis.

Te desejo força e coragem nesse Dia da Mulher. Que você receba flores e que tenha seu salário, mas que acima de tudo, busque saúde mental.

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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