Uma grande área de vegetação nativa da Mata Atlântica em Búzios, na Região dos Lagos-RJ, se tornou palco de um embate envolvendo empresários, Ministério Público, Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj) e a Prefeitura local. O terreno, pertencente à empresa Búzios Residence Empreendimentos Imobiliários SPE LTDA, é alvo de denúncias de desmatamento irregular e abrigaria projetos para um condomínio comercial e dois residenciais.
Segundo a fiscalização realizada pelo Comando de Polícia Ambiental (CPAm), em apoio à Comissão de Defesa do Meio Ambiente da Alerj, foram encontrados indícios de supressão de cerca de 30 mil m² de árvores nativas, registro de um tamanduá morto, soterramento de área úmida classificada como de preservação permanente e ausência de medidas para resguardar a fauna silvestre. O local é reconhecido pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) como estratégico para a biodiversidade da região.
No último dia 9, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente foi notificada pela comissão presidida pelo deputado Jorge Felippe Neto (PSD), que pede explicações sobre a concessão da licença ambiental nº 091/2025 à Búzios Residence Empreendimentos Imobiliários. Paralelamente, o Ministério Público do Estado (MPRJ) instaurou inquérito civil e recomendou a suspensão imediata das obras, além da entrega de inventário florestal, Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) e projeto de reposição florestal, documentos ainda não apresentados integralmente.
Máquinas e operários trabalhavam no local quando a operação ocorreu. Os responsáveis foram levados à 127ª DP de Búzios. Em resposta à reportagem da Prensa, a Polícia Civil informou que abriu inquérito para apurar a possibilidade de crime ambiental. Segundo o delegado, os representantes da empresa já foram intimados e entregaram licenças que, na visão da defesa dos acusados, legitimam as intervenções. A delegacia aguarda laudo pericial para confirmar ou não a prática de ilícitos.
A Prefeitura de Búzios, até agora, não apresentou esclarecimentos públicos sobre o caso. Organizações ambientais e moradores cobram medidas mais firmes contra a supressão de vegetação nativa. Especialistas lembram que, em casos assim, o esperado seria o embargo imediato das atividades até a conclusão dos laudos, sob pena de irreversível perda ambiental. A área em disputa já havia sido alvo de embargos anteriores, quando o Governo do Estado iniciou, no mesmo local, a abertura de um caminho para uma alça viária que ligaria o bairro da Rasa ao eixo formado por Cem Braças, centro e a saída para Cabo Frio — obra que também foi paralisada sob suspeita de irregularidades ambientais.