Moradores do entorno da Praia de Manguinhos, na altura do complexo gastronômico do Porto da Barra, denunciam um possível crime ambiental na localidade que abriga uma área de manguezal, conhecida como Barra Grande. Em um terreno particular, segundo os relatos, montes de areia foram acondicionados vindos de um terreno na Rua Celeste da Costa, no mesmo bairro. O armazenamento, que segundo o secretário de Meio Ambiente, Evanildo Nascimento, tem licença para ocorrer, estaria obstruindo buracos de esconderijo de goiamuns e caranguejos, além de supressão de flora e aterro de veios de água. Uma reunião, solicitada pelo Conselho de Meio Ambiente, foi agendada para esta quinta-feira (29) para analisar os fatos.
A Prensa recebeu as denúncias no domingo (25), e desde então apura os acontecimentos e informações junto aos moradores, a Prefeitura de Búzios, por meio da Secretaria de Meio Ambiente e com o Conselho Municipal de Meio Ambiente.
O receio dos moradores e ambientalistas envolvidos é de que o material utilizado para aterrar o local, que é propriedade particular, seja o início de construções que impactem o meio ambiente e promovam destruição do ecossistema, já bastante degradado pela ação humana.
As primeiras denúncias apresentavam indícios de que uma obra acontecia no terreno, algo ainda a ser confirmado. De acordo com representantes do Conselho e da Ordem dos Advogados de Búzios, que estiveram na área acompanhados da Guarda Marítima Ambiental do município, a terra não foi armazenada de forma correta e estaria, de fato, danificando a fauna e flora característica do local.
A advogada presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB-Búzios, Carolina Maziere, explica que foi observado um aterramento com a presença de manilhas, que precisam ser fiscalizadas do objetivo, já que, caso sirvam para receber a água do córrego, podem causar o ressecamento do canal, e obstrução e soterramento dos buracos feitos pelos goiamuns.
O secretário de Meio Ambiente de Búzios, Evanildo Nascimento, confirmou, em entrevista à prensa, que os proprietários têm apenas documentação para a movimentação de terra de um terreno para outro, e que a licença de obras, no local, ainda não foi concluída e passa por análise dos técnicos da Secretaria de Meio Ambiente.
Assume, ainda, de que no local há fauna e flora diferenciada que, nas palavras dele, foi um manguezal que ao longo do tempo degradado pelo avanço urbano. Mas que, no entanto, se mantém preservada a vegetação típica de mangue, com presença de fauna e flora. Evanildo também explica que a matéria não foi encaminhada, em primeiro momento, ao Conselho Municipal de Meio Ambiente por se tratar de uma ZR-30, zoneamento que não exige este trâmite.
A Prensa conversou ainda, com fontes que explicaram que naquele local não deságua somente água do bairro Cem Braças, mas também águas de toda região em torno da Lagoa de Geribá, inclusive o transbordo da Lagoa. O risco do aterramento deste local vai além do ecossistema de fauna e flora e impacta, também, o caminho das águas.
A Prensa acompanha os desdobramentos da reunião, e das tratativas para o manejo sustentável da localidade.
Sobre os Mangues
Mangues são considerados ecossistemas integrantes do bioma Mata Atlântica e protegidos pelas Leis n. 11.428/2006 (Lei da Mata Atlântica) e 12.651/2012 (Código Florestal). O mangue em questão é um dos últimos remanescentes deste ecossistema na Praia de Manguinhos, também no município de Búzios. Na mesma praia há um mangue também dentro de uma área particular, o Polo Gastronômico Porto da Barra, em que o ecossistema foi revitalizado e se mantém preservado pelos proprietários.
Abaixo vídeo com professor Arthur Soffiati para Agenda 21 Búzios