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O historiador norte americano Richard Hofstadter é praticamente um desconhecido no Brasil, mas nos Estados Unidos, ele é considerado um dos grandes intelectuais americanos do século XX. Na verdade, a Associação Americana de Historiadores reserva à sua obra, um lugar de honra na historiografia. Hofstadter escreveu muito sobre a história social e política dos Estados Unidos, e uma de suas obras mais conhecidas, bem pode servir para entender, ao menos em parte, os tempos atuais, tanto nos Estados Unidos, quanto aqui no Brasil.

Em 1963, Hofstadter publicava “Anti intelectualism in American Life”, um registro da vida intelectual americana nos anos 50. Hoje, no século XXI, a cultura popular nos ensinou a ver a década de 50 nos Estados Unidos, como uma época de intensas transformações culturais e sociais. O surgimento do Rock’n’ Roll nos vêm rapidamente à lembrança, mas havia também o início do movimento pelos direitos civis, que lançaria personagens como Martin Luther King e Rosa Parks, uma mulher negra que recusou-se a aceitar as regras de discriminação racial no transporte coletivo da cidade onde morava. Sua atitude disparou uma enorme discussão nacional sobre os direitos dos negros, reacendeu a discussão sobre a discriminação racial no país mais rico do mundo.

Hofstadter escreveu um livro para mostrar que além de tudo isso, ao menos do ponto de vista intelectual, os anos 50 foram marcados por algo bem sombrio. Trata-se do surgimento de um grande movimento social de desqualificação dos intelectuais e também das universidades, que ele denominou de “Anti Intelectualismo”.

O historiador americano reconhece que no passado, o povo americano nunca se notabilizou pela valorização da vida intelectual, ao contrário, o americano médio, segundo ele, sempre orgulhou-se de ser possuidor de uma mentalidade ‘prática”, voltada para a resolução de problemas, firmemente ancorada no empirismo e na experimentação. A história americana está recheada de exemplos assim. Pessoas como Thomas Alva Edison, um homem que nunca frequentou uma universidade, mas tornou-se um símbolo nacional de inovação e empreendorismo e outros homens de negócio, de origem social modesta alimentaram a ideologia do “Self Made Man”, aquele que construiu riqueza sem necessariamente recorrer “à sofisticação intelectual”.

Havia muito exagero na caracterização destes personagens, na verdade, estes “homens práticos”, pouco afeitos ao refinamento intelectual notabilizaram-se também por uma grande preocupação no que se refere ao aprimoramento da educação do povo americano. Estes milionários foram os grandes benfeitores de universidades, museus e bibliotecas públicas em todo o país. É praticamente impossível escrever sobre a história da produção cultural e científica dos Estados Unidos, sem mencionar que estes “homens práticos” foram autênticos mecenas das artes e das ciências daquele país.

No início do século XX, este americano médio não era “anti intelectual”, muito pelo contrário. Uma faceta pouco conhecida da história americana do século XIX e XX, foi o amplo movimento social pela Educação, que praticamente erradicou o analfabetismo no país, universalizou o Ensino Médio, e fez surgir inúmeras universidades pelo país afora. Mesmo assim, isso não significou a valorização dos intelectuais tenha ocorrido com o mecenato destes milionários. Para Hofstadter, não havia na sociedade americana, um movimento organizado, cujo objetivo era desqualificar os intelectuais e as universidades. Para ele, isso foi uma característica específica da década de 50, e teria sido algo tão inusitado na vida cultural norte-americana, que lhe chamou a atenção, a ponto de escrever um livro inteiro sobre isso.

Casei-me com Comunista. E agora”. Artistas estavam entre os alvos preferidos do movimento antilectual americano dos anos 50.

Onde estão só Comunistas?”

Joseph McCarthy – ascensão e queda de um Cruzado contra o Comunismo

Para Joseph McCarthy, o Comunismo havia se infiltrado em todo o tecido social americano. Intelctuais, professores e estudantes universitários eram “os idiotas úteis” da vez.

O maior símbolo deste anti intelectualismo foi o “maccartismo”. Liderado pelo Senador de Winsconsin Joseph McCarthy, o “macartismo” foi a marca mais visível e sombria dos efeitos da Guerra fria sobre a vida cultural americana. Mccarthy ganhou fama e prestígio como o líder de uma “cruzada”, cujo objetivo era encontrar, processar e prender todo o americano que supostamente estivesse “colaborando para ajudar aos Comunistas a sabotar os Estados Unidos”.

O movimento ganhou as manchetes de jornais, quando audiências parlamentares, com cobertura de rádio e televisão, passaram a transmitir as inquirições dos políticos do Congresso àqueles que ali compareciam, depois de terem sido denunciado de terem praticados “atividades anti americanas”.

Artistas, jornalistas, professores, cientistas, cineastas, dramaturgos, entre muitos outros prestaram depoimento no “Comitê para a Investigação de Atividades Anti Americanas”. Servidores públicos passaram a ter a sua vida vasculhada por agentes do FBI, na busca por supostas ligações destes com pretensões espiões.

O caso de espionagem do casal Ethell e Julius Rosenberg transformou-se na síntese destes tempos sombrios, segundo Hofstadter. Os dois foram acusados de terem colaborado com espiões soviéticos para passarem os segredos de construção de armas nucleares americanas para os soviéticos. O caso ganhou tal notoriedade, que intelectuais de todo o mundo mobilizaram-se em favor dos dois. Ninguém menos que o próprio Albert Einstein foi pessoalmente à imprensa manifestar-se contra o que o governo americano estava fazendo contra o casal Rosenberg. Tudo inútil, ambos foram julgados e condenados à Pena Capital.

Hofstadter assistia a tudo aquilo como um historiador, mas também como um cidadão preocupado com o futuro da democracia de seu país. O que mais o chamava atenção era que os discursos inflamados de oportunistas como Mccarthy, tinham uma ampla aceitação popular. No entender de Hofstadter, o mais intrigante era por quê motivos, em determinado momento, o “cidadão médio americano” passou a ver nos intelectuais, e mais ainda nos intelectuais das universidades americanas, a personificação do “inimigo oculto”, sempre à espera para sabotar os Estados Unidos e disseminar o veneno do “Comunismo.

Acusados de espionagem, e de terem entregue a espiões russos segredos militares, o casal Ethel e Juluis Rosenberg forma condenados à Pena de Morte. O caso mobilizou a opinião pública mundial, inclusive no Brasil.

É impossível ler o livro de Richard Hofstadter e não fazer uma comparação com o que estamos assistindo no Brasil, e também em certa medida, nos Estados Unidos. As semelhanças são maiores e chamam mais a atenção, do que as diferenças. Para Hofstadter, se houve um “início” desta onda anti intelectual nos Estados Unidos, ele pode ser situado precisamente na eleição de Dwight D. Eisenhower, em 1952.

O enredo é muito parecido, lá na América dos anos 50, e também no início do século XXI. Estudantes, cientistas, artistas e outros intelectuais forma transformados em bodes expiatórios das ansiedades de uma população que na época temia mais do que qualquer coisa, uma Terceira Guerra Mundial e a destruição de tudo aquilo que eles consideravam como “civilização”. Ao contrário da alegria e rebeldia do Rock’n Roll da época havia mais sombras do que luz naqueles anos 50.

*Paulo Roberto Araújo é professor de História e suburbano convicto

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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