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Conheça o atleta que vendeu a geladeira da mãe e percorreu 90 km de skate para ser o único brasileiro campeão mundial de Longboard Dance, na Holanda

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Quem teve a oportunidade de ver Brenno Brélvis ganhar o título mundial de Longboard Dance, na Holanda, pode não conseguir enxergar de onde veio o campeão. Neto de pescador e criado à beira da Lagoa de Araruama, em São Pedro da Aldeia, no interior do Rio, Brenno já precisou vender geladeiras da mãe para comprar um skate e percorrer 90 km em cima do longboard durante uma madrugada para ir ao Mundial, em 2016. Tudo para “fortalecer a cena do longboard” no Brasil, como gosta de dizer o maior nome do esporte no país.

“Eu surfava, só que era longe da minha casa e eu não tinha dinheiro pra ir até a praia sempre. Pesquisei uma forma de me aproximar do surfe na minha cidade, que não tem mar, e vi o longboard. Via minha prima Paolla descendo as ladeiras e percebi que simulava o surfe. Pra comprar o primeiro long, eu peguei uma geladeira usada da minha mãe, que ela não tava usando, e troquei por um skate que um colega meu tinha. Quando comecei a treinar, caí e quebrei o braço na primeira semana. Aí tivemos que vender a outra geladeira, que tava em uso, pra eu botar os pinos no braço”, conta Brenno em meio a risadas.

Nos três meses em que usou o gesso, Brenno só pensava em andar de long. Quando se recuperou, viajou com o pai para Santa Catarina, onde ganhou um skate de melhor qualidade.

Daí para frente, ele aprendeu passos como o Cross Step, Peter Pan e Slide, que exigem alto grau de técnica, com tutoriais na internet. Foram cinco anos de treino no dance e títulos em modalidades diferentes, como o downhill (descida de ladeira), em Brasília e São Paulo até a chegada do primeiro patrocinador, em 2014, quando Brenno completou 18 anos.

No mesmo ano, ele passou a produzir vídeos para divulgar o longboard dance, até então pouco conhecido no país. E foi pesquisando vídeos de inspirações da modalidade na internet que Brenno descobriu o mundial de dança em cima do longboard, em Eindhoven, na Holanda.

“Era uma luta pra ir porque é um esporte que não tem apoio nenhum. Eu numa condição muito precária… Como que um cara que vende a geladeira pra pegar um long vai pro outro lado do mundo? Precisava de 3.400 reais para a passagem. Uns amigos ajudaram e eu resolvi fazer uma ‘vaquinha’ online. Não deu muito certo: consegui 200 reais. O pior é que já tava inscrito no mundial e faltavam 3.200 reais”, disse.

O desespero foi a mola propulsora de Brenno. Faltavam cinco dias para o mundial de 2016 depois de cinco anos de treinamento.

“Pra um cara que pratica há cinco anos uma modalidade, você ter um sonho tão perto, saber que dá pra realizar, e não ter ajuda financeira, é muito frustrante. Pensei ‘se eu for eu ganho porque ninguém faz o que eu faço e nem tem esse flow, um estilo próprio’. Peguei uma mochila com o pensamento ‘se eu for remando de skate, chego na Holanda. Vou entrar numa embarcação e chegar lá’”, conta o atleta.

Inspirado no livro e filme “Na Natureza Selvagem”, em que um jovem sai pelo mundo em busca de sentido na vida, Brenno resolveu que iria para o mundial, custe o que custasse.

“Tenho uma cabeça muito de viajar, sem medo dos perigos. Fui até Araruama de ônibus. Dali fui de skate até Niterói. Saí 11 da noite e cheguei 8 da manhã. Fiquei impressionado porque tinha parte do caminho que não conseguia ver meu pé. Se tivesse buraco, eu tinha caído. Não senti medo porque tava muito focado, mesmo com os carros passando do lado. Eu mesmo me motivava e fui ouvindo músicas que me inspiram, como Cage the Elephant e The Strokes. Parei perto da placa ‘Você está em Niterói’. Em frente a uma igreja, peguei esse livro e li a imprudência que o Alex Supertramp, personagem principal, tava fazendo com os familiares e vi que eu tava fazendo o mesmo. Percebi o quão errado eu estava de não ter avisado meus pais. Parei, pensei. Li a carta que o Supertramp escreveu antes de morrer pra um cara que conheceu na viagem. Botei na cabeça ‘Eu vou pra casa, conseguir o dinheiro e realizar o sonho’”, narra Brenno.

Brenno tinha dinheiro suficiente para voltar de ônibus. Em casa, vendeu o celular, skates que sobravam e contou com a ajuda de amigos e parentes para comprar a passagem para Amsterdam em poucos dias. No entanto, não tinha dinheiro para alimentação e hospedagem. Mesmo assim embarcou.

Na Holanda, foi recebido na casa de amigos até então virtuais, que deram abrigo e comida a ele.

No dia do campeonato, Brenno levou uma coreografia de estilo próprio com elementos da cultura brasileira, como passos de frevo. Foi o suficiente para deixar os outros 66 concorrentes, entre ídolos do brasileiro, para trás e levar o prêmio em Eindhoven.

“Foi uma explosão. Não acreditei que tinha ganho o mundial. Tava muito nervoso porque não conhecia quase ninguém é só falava português, na época. Traduziram pra mim, e me disseram que meus ídolos falavam que eu era o melhor do mundo no longboard. Foi um sonho! Antigamente, eu já tinha valor, só que eu não sabia desse devido valor. Fiquei muito constrangido na parada. Foi por causa da manobra Spin Brelvis que eu ganhei. Essa fui eu mesmo que inventei com meus amigos. É um passo de frevo em cima do long. Fiquei procurando alguém pra comemorar, e só tinha o meu amigo Roger. Ele subiu e me deu o maior abração. Queria ver minha família… ainda bem que tinha ele”, conta o atleta.

Depois do título mundial, Brenno viajou para a China para divulgar o esporte e descobriu que o reconhecimento na Ásia é maior que no Brasil. Hoje, ele se sente como representante da modalidade no país, já que foi o único brasileiro a conquistar o topo do mundo no longboard dance.

No início de agosto de 2018, Brenno Brélvis foi o convidado de honra da última Dock Sessions, realizada em Venice Beach, na Califórnia. O evento, inclusive, se chamou “Dock Sessions meets Brenno Brelvis”, em homenagem ao atleta de São Pedro da Aldeia. Brenno foi jurado de competições de melhor e pior manobras do fim de semana.

“Aconteceu uma coisa muito doida. Eu tava lá gravando um vídeo com o pessoal da Paris Truck, e chegou um garoto meio tímido perto de mim. Ele era francês e eu não entendo a língua dele. Então, ele pediu pra mãe me dizer, em inglês, que era muito fã e que queria tirar uma foto comigo. Quando fomos tirar a foto, ele tava tremendo muito. Não esperava esse tipo de reação. Foi irado demais”, disse Brenno.

Brenno aproveitou para realizar o sonho de andar de longboard onde o skate foi inventado, na década de 50. Ele também conheceu as maiores fábricas de longboard do mundo e compartilhou com skatistas de vários países as ideias que tem para o crescimento do longboard dancing na América.

 

Brenno tem treinado movimentos de capoeira e aprimorado os de frevo no longboard para a próxima edição do campeonato mundial de longboard, em 2019.

 

Brenno ficou em 2º lugar na Categoria Open da 2ª Etapa Preparatória da Liga de Longboard Dancing Freestyle, em São Paulo, em junho. Ele também ficou em 2º lugar na Push Race, uma corrida ao redor do Ernst-Happel-Stadion, o estádio municipal de Viena, na Áustria, no mês de julho.

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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