O Coletivo de Cultura, Comunicação e Direitos Humanos Marielle Franco promoveu um ato nesta segunda-feira (14), às 18h, através de intervenção cultural na Praça Santos Dumont, no Centro de Armação dos Búzios. A noite foi marcada pela presença de músicos, poetas, ativistas políticos, jornalistas e representantes de movimentos sociais da Região dos Lagos.
Este foi o segundo ato do Coletivo, organizado por ativistas da cidade. Os encontros, contam os representantes, acontecerão todo dia 14, mensalmente, na data em que a Vereadora da cidade do Rio de Janeiro Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram assassinados, crime que ainda permanece sem respostas. O dia 14 de Janeiro marcou 10 meses ainda sem resolução do caso e sem a prisão dos criminosos.
O Coletivo de Cultura, Comunicação e Direitos Humanos Marielle Franco pretende não somente cobrar respostas sobre as investigações do caso, mas também atuar pela defesa de todos os que sofrem algum tipo de violência, fomentar a luta pelos direitos humanos e promover ações culturais na cidade. O pontapé inicial para a criação do coletivo foi a colocação da placa em homenagem à vereadora, que foi destruída por deputados do PSL acompanhados pelo atual governador do Rio, durante a campanha eleitoral. Por todo o país a placa foi recolocada e em Búzios também, na Praça Santos Dumont, no Centro, em frente ao Quiosque Glamour Zero.
A presidente do Psol Búzios, Camila Raupp, abriu as falas com o texto que sustenta o ato e que conta a trajetória pessoal e política de Marielle Franco desde seu ingresso no vestibular social da Maré, passando pela sua vida pública até seu brutal assassinato. A trajetória da ativista é um norte para que políticas públicas acertadas acabem por fim com as desigualdades e ofereçam oportunidade a todos.
“Marielle é símbolo de que todas nós podemos, todas temos a chance de ocupar os espaços, de sermos respeitadas e que nenhuma de nós nunca mais precise morrer, ao contrário, que a luta de Marielle nos faça florescer ainda mais. Nesta noite vamos um pouco mais além de não soltarmos as mãos, não soltaremos do abraço uns dos outros”comentou Camila.
Manifestações culturais
A música, durante a concentração para o ato, ficou por conta do professor e rapper Fábio Emecê que trouxe o Malungo Sound System e músicas que animaram os participantes que aos poucos se reuniam. Fábio representou também, junto com a poeta Thalyta Selezia, o Coletivo Anti-racismo Ônix, organizado em Cabo frio e que vem ocupando o espaço do Teatro Municipal de Cabo Frio com batalhas de rap e poesia. Os dois falaram de poesia e da construção coletiva da luta por direitos.
Os poetas José Antônio e Jiddu Saldanha recitaram poesias inspiradas na luta de Marielle, e nas lutas de tantos outros ativistas de direitos humanos, como Nelson Mandela, lembrado no poema de Jiddu, que emocionou os presentes e fez parar os que passeavam pela cidade. Também não faltou música com o cantor Du Herrera que escreveu uma letra especialmente dedicada à vereadora, intitulada, “Ela”.
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As crianças tiveram seu espaço também, com caneta e papel, livros e diversão durante as falas, com auxílio do coletivo na inserção delas num ambiente de discussão, poesia, cultura e arte.
Representações sociais e políticas
A ativista Sara Wagner York, professora e pedagoga formada pela UERJ e mestranda, falou sobre a importância da figura de Marielle para a comunidade trans, para as travestis e comunidade LGBTQI+, além dos desafios de estar nos espaços sendo vista, e respeitada, não apenas pelos títulos, mas por ser quem se é.
“Ser travesti, ser pessoa trans, falando aqui hoje, permite que as filhas, netas de vocês possam estar neste lugar e precisem muito menos do que eu para ser respeitada. Marielle representa cada vida que não teve importância e que não tem importância. Uma escapou e eles vêm e nos tiram ela,mataram Marielle para dar um recado. Mas eu escapei e a pergunta é até quando vão me permitir andar entre pessoas como vocês”, falou Sara, emocionada.
O jornalista Gerson Dudus, o vereador Marcel Silvano (PT) e a professora Isabela vieram de Macaé para somar com o ato e contribuir na construção de diálogos. Dudus fez leituras sobre o tempo de luta e de tentativa de intimidação na ocupação dos espaços públicos, enquanto Isabella propôs uma roda com palavras de ordem que unidas se transformam em uma bela poesia. “Precisamos estar junto e gritar juntos, pois, se nós não gritarmos, as pedras gritarão”, comentou Marcel, que está sem seu segundo mandato como vereador em Macaé, e é um combatente contra a velha política da cidade.
Segundo os organizadores do evento, a terceira reunião do Coletivo está marcada para o próximo dia 14 de Fevereiro, no mesmo local e horário dos anteriores, na Praça Santos Dumont, Centro de Búzios, às 20 horas.