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No duelo e atropelo de narrativas, como observar o contexto sem cair na armadilha da representação coletiva que mascara interesses pessoais e mesquinhos de sempre? O caos se apresenta como ótimo condutor de discursos de líderes ocos de boa intenção, mas na verdade é um terreno fértil de capitalizações, seja no campo financeiro ou simbólico.

Imagina uma cidade como Cabo Frio que durante quase 20 anos, com bilhões de reais transitando nos cofres públicos, e que se encontra hoje com uma infraestrutura precária, serviços básicos em mal funcionamento, patrimônio mal preservado, gentrificação de bairro histórico, não pagamento de funcionários públicos, periferia com crescimento desordenado e com acumulo de violências, o terreno fértil pra líderes, profetas e representantes diversos?

Agora se a gente alocar a maioria das pessoas que se dizem representantes de algo, desde do seu lugar de atuação, até o seu local de ocupação e se formos um pouco mais profundos, se perguntamos pra essas mesmas pessoas, como resolver os problemas mil, citados acima e muitos outros que não conseguiria citar no texto, o que eles poderiam dizer?

E aí que o oco entra em cena e começamos a questionar quem representa quem e o quê. Uma cidade que se acredita que as resoluções, as cabeças pensantes e as revoluções só acontecem no centro, ou melhor de um território que compreende a fonte do Itajurú até o terminal de Transatlânticos, é problemática desde sempre.

Pessoas, trabalhadores, artistas e carregadores de dores que moram além desse território são relegados a segundo, terceiro e último plano. Uma coisa importante a se pontuar é que as pessoas precisam circular a cidade como um todo, periféricos no centro e o centro na periferia. A partir da circulação e entendimento de realidades, reivindicações que almejam um todo, começam a fazer mais sentido.

O que acontece são reivindicações para um todo sem a presença do todo porque simplesmente se ignora o todo. Quem é o resto se a gente pensa por si só né? Quem é o resto se somos letrados o suficiente pra pensar e traçar diretrizes? Quem é o resto mesmo?

Essa é a atual Cabo Frio. No caos, se proliferam líderes que dizem saber de tudo sobre tudo, mas desconhecem ou ignoram a decadência da presente cidade. E lembrando que (quem não lembre, pesquise) que todos os líderes, de todas as áreas de reivindicação atual, fizeram parte de algum governo, se beneficiando simbolicamente ou financeiramente, ou seja, o caos atual tem participação importante dos atuais líderes contra as injustiças.

E tudo isso porque não conseguem nem atravessar a ponte direito ou passar da rodoviária em busca de outras vozes ou de se enxergar mesmo o que é a cidade e ainda mais, fazer uma mea-culpa, ou uma reflexão sobre a inoperância das suas atuações durante os anos.

Ainda quero ver a Cabo Frio real tomar conta das coisas como era de se esperar, pelo menos, nesses 20 anos. A decadência mostra que só o centro pensa a cidade e o resto se isolou, tentando ao menos sobreviver ao caos iminente. E pelos movimentos, só o centro que pensa e a decadência só se aprofunda. Mas me diga, em qual narrativa deveremos acreditar?

 

*Fabio Emecê é mc, escritor e professor de Cabo Frio

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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