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ChatGPT pode ajudar na inovação de ensino e pesquisa, diz professor da Uerj

Nas últimas semanas, instituições de ensino brasileiras e internacionais demonstraram preocupação com a possibilidade de uso do ChatGPT para fraudes em avaliações e estudos por alunos e pesquisadores. Para o professor Marcelo de Araújo, do Departamento de Filosofia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), essas dúvidas refletem um problema real. No entanto, ele sugere evitar o pânico inicial de achar que tudo é ruim com esses sistemas porque a ferramenta pode ser o início de uma revolução no modo como se produz e se assimila conhecimento. 

“Há um imenso potencial para fraude e as universidades vão ter de aprender a lidar com isso. O objetivo da pesquisa científica e do ensino universitário é estimular a produção de ideias e teorias criativas. Os docentes terão de repensar seus métodos de ensino e avaliação, e, também, o que esperamos dos estudantes e da formação de novos pesquisadores”, diz Araújo.

O ChatGPT, tecnologia desenvolvida pela Open AI, permite interações da inteligência artificial (IA) com humanos através de um chat de texto, que responde desde as perguntas mais simples às mais complexas e é considerada a mais avançada tecnologia do tipo até agora. A ferramenta ganhou popularidade ao ser disponibilizada online e de forma gratuita no fim do ano passado, provocando debates na imprensa e nas mídias sociais, principalmente sobre seus impactos na educação e nas ciências, de modo geral, por causa da dificuldade de se distinguir textos escritos por humanos daqueles gerados pelo chatbot. 

Segundo Araújo, apesar de não ser plágio, utilizar o ChatGPT para escrever textos e depois assumir sua autoria configura um caso de fraude. “Parte do problema é que nas pós-graduações, sobretudo de ciências sociais e humanas, muitos trabalhos têm o perfil de revisão de literatura e compilação de ideias e teorias que já foram discutidas em outros textos. Contanto que o estudante não copie diretamente nada das fontes originais, os trabalhos são aceitos e avaliados e não há razão para falarmos em plágio ou fraude. Mas sistemas como o ChatGPT são capazes desse tipo de trabalho também. E a tendência é que essas ferramentas fiquem cada vez mais sofisticadas e que a detecção do seu uso se torne praticamente impossível. Além disso, as pessoas estão sob enorme pressão de tempo, a concorrência para bolsas é grande, e isso gera um alto potencial para fraude na área acadêmica”, pondera o professor.

Contudo, para Araújo, nem todas as expectativas são negativas. Ele avalia que a ferramenta pode ser incorporada de maneira positiva para o ensino, formação de pesquisadores e até ser utilizada por agências de apoio e fomento à pesquisa para avaliar projetos na disputa por bolsas. Instituições como CNPq, Capes ou Faperj, por exemplo, que lidam com a distribuição de recursos financeiros para bolsas, poderiam utilizar esses sistemas no futuro para verificar se já não existem trabalhos tão ou mais inovadores e interessantes do que aquele proposto para um processo seletivo de bolsas.

Além disso, como uma parte substancial das pesquisas de mestrado e doutorado envolve revisão bibliográfica, Araújo acredita que a ferramenta também pode ajudar positivamente nesse sentido. “Existe uma quantidade absurda de material online – textos bons, originais, inovadores etc – que pesquisadores precisam ler antes mesmo de começar a redigir seus trabalhos ou projetos de pesquisa.  Isso demanda tempo e esforço, mas é parte do trabalho acadêmico.”

Por outro lado, ele não vê como um grande problema na produção de um trabalho original que uma máquina seja utilizada para facilitar certas etapas de um estudo de forma que o pesquisador possa pelo menos ter uma ideia do que já foi escrito sobre um determinado tema.

“O sistema poderia produzir um tipo de relatório ou ensaio sobre o que já existe e o que pode ser feito, e o pesquisador teria, então, a oportunidade de ver o que ainda poderia ser explorado para poder ir além do que já está disponível na literatura. Visto dessa maneira, acho que sistemas de IA como o ChatGPT podem se tornar ferramentas importantes para o avanço do conhecimento e produção de novas ideias”, acrescenta Marcelo de Araújo. 

Marcelo de Araújo é professor do Departamento de Filosofia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Araújo estuda o tema desde 2014 e lançou, no ano passado, uma nova edição do livro Novas Tecnologias e Dilemas Éticos: Inteligência Artificial, Genética e a Ética do Aprimoramento Humano (Editora Kotter, 2022). A obra contém um capítulo no qual o autor analisa o uso GPT3, tecnologia antecessora do ChatGPT, para responder questões de provas de filosofia. Araújo também é autor do artigo O uso de inteligência artificial para a geração automatizada de textos acadêmicos: plágio ou meta-autoria?, publicado na revista Logeion: Filosofia da Informação, vol. 3, n. 1, 2016, p. 89-107.

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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