Cem Braças, tradicional bairro de Búzios, na Região dos Lagos do Rio, sempre conviveu com água e esgoto como vizinhos indesejados. Alagamentos eram constantes. Em dias de chuva, as bombas de sucção do bairro, que fica abaixo do nível do mar, trabalhavam em dobro, drenando o excesso de água do solo encharcado. Em tempo seco, o sistema primário de captação de esgoto funcionava, mas de forma insuficiente, e o cheiro forte lembrava aos moradores que a situação era crítica. Nas praias de Manguinhos e Rasa, destino final das águas pluviais com contribuição de esgoto do bairro — especialmente na área conhecida como Barra Grande, Rua Rancho Mutã —, os extravasamentos eram rotina.



Agora, ruas e casas do bairro começam a sentir a mudança. Está em execução a maior obra de rede separativa de esgoto da história de Búzios, conectando aproximadamente 700 residências a um sistema que leva o esgoto doméstico à Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). A rede separa águas pluviais e esgoto, garantindo que o efluente seja tratado antes de voltar ao ambiente, protegendo praias, ruas e a saúde pública.
A intervenção é resultado de parceria entre a Prolagos, concessionária responsável pelos serviços de abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto em Búzios, a Prefeitura e a sociedade civil organizada. A Prefeitura fornece materiais; a Prolagos, mão de obra e investimento de mais de R$ 3 milhões; e a sociedade civil fiscaliza e cobra.
“Essa é uma conquista construída a muitas mãos. Mas a participação da sociedade civil foi decisiva para que a obra acontecesse de forma transparente e com foco no resultado. A Associação de Moradores das Praias de Manguinhos e Rasa (Amanrasa) acompanha cada etapa, cobra qualidade e propõe soluções. É assim que conseguimos transformar reivindicações antigas em melhorias reais para a região. O impacto positivo não é apenas no próprio bairro Cem Braças, mas também nas praias de Manguinhos e Rasa, no mar de Búzios como um todo, podemos dizer”, afirma o engenheiro Salviano Leite, associado da Amanrasa e voluntário no acompanhamento técnico da obra.





Ketila, comerciante, também nota a mudança: “Meu negócio está mais protegido. Sem extravasamento, a rua fica limpa. É visível a diferença.”, celebra.

O projeto envolve quase cinco quilômetros de rede, 126 poços de visita para manutenção e ligação direta à Estação Elevatória de Esgoto (EEE), que impulsiona o efluente à ETE. A estação já opera em nível terciário, o modelo mais avançado de tratamento, e suporta a ampliação da rede.
“A intervenção em Cem Braças integra um amplo conjunto de investimentos voltados à ampliação e modernização do sistema de esgotamento sanitário na região. O objetivo desse grande pacote é acompanhar o crescimento e o desenvolvimento das cidades, garantindo a preservação das paisagens naturais e a promoção da saúde da população. Essa iniciativa, que evidencia a força da parceria entre a Prolagos e a Prefeitura, representa mais um passo na trajetória de avanços do saneamento em Búzios, que vem sendo transformado ao longo dos 27 anos de concessão e segue evoluindo com novos investimentos”, explica Aline Póvoas, diretora-executiva da Prolagos.
Recebendo da reportagem a dúvida dos moradores se terão, em algum momento, de pagar nas contas de água pela obra, responde que “Não. A taxa de saneamento da Prolagos já é cobrada junto da conta de água. Não haverá acréscimo”.




Além das obras de drenagem e expansão da rede separativa, a Prefeitura instalou bombas exclusivas para redirecionar o esgoto de áreas ainda fora do sistema, evitando que resíduos cheguem ao mar. O sistema funciona de forma ininterrupta: Na Avenida José Bento Ribeiro Dantas, uma das bombas permanece em operação 24 horas por dia, enviando o efluente diretamente para a ETE da Prolagos, enquanto a bomba reserva é acionada apenas em situações de risco, com acompanhamento de uma equipe de plantão.
Segundo o secretário de Drenagem, Aziel Santos, o volume de despejo emergencial tem diminuído significativamente. “Já são dois meses sem qualquer envio para a rua Rancho Mutã, que desagua na Praia de Manguinhos; todo o fluxo está sendo direcionado à Prolagos”, afirmou sendo complementado pela presidente da Amanrasa, Kiki Lessa: “É perceptível uma redução real no despejo emergencial, o que é positivo para a rua Rancho Mutã e para a Praia de Manguinhos. Seguimos acompanhando cada etapa da obra para verificar seus efeitos e garantir que as metas sejam cumpridas”.
No bairro Cem Braças, uma casa de bombas instalada em ponto estratégico recebe o esgoto vindo da Vila São José e áreas adjacentes, encaminhando-o à estação localizada na Avenida José Bento Ribeiro Dantas — de onde segue para a ETE. Bombas novas estão em standby para substituição imediata em caso de falhas, e a Prefeitura planeja melhorias na via de acesso, ampliando a segurança operacional do sistema.
“É um trabalho técnico, silencioso, mas essencial. Estamos conseguindo reverter anos de passivos e garantir que a água que chega ao mar seja cada vez mais limpa”, conclui Aziel Santos.




Em apenas 60 dias, 40% da obra já foi concluída. A execução ocorre em etapas com funcionamento imediato, o que significa que cada trecho finalizado entra em operação assim que concluído. Dos 700 imóveis previstos, 285 já foram conectados à rede. A Prefeitura está realizando as ligações domiciliares ao sistema de saneamento implantado pela Prolagos — um custo que, pela legislação, seria arcado pelos próprios moradores. No entanto, a administração municipal decidiu assumir essa despesa.
“Estamos garantindo que cada família tenha acesso ao saneamento completo sem precisar arcar com esse investimento. É uma economia de cerca de quatro mil reais por residência e um avanço importante para a saúde e qualidade de vida da população”, afirmou o prefeito Alexandre Martins.
Intervenções no bairro vizinho, o Capão, também fazem parte do conjunto de obras e trazem benefícios diretos a Manguinhos e à Praia Rasa, com ampliação da drenagem e redução dos riscos de extravasamento. A previsão de conclusão total é março de 2026, mas os resultados já são visíveis: ruas mais secas, casas protegidas e praias menos impactadas.
“Essa obra não é apenas infraestrutura. É saúde, qualidade de vida e preservação ambiental”, destacou o secretário de Drenagem, Aziel Santos. Segundo ele, alguns trechos ainda não foram contemplados, como parte do bairro Cem Braças, onde a previsão é que 90% da área esteja saneada ao final da obra.
“Ficará uma pequena parte pendente, que pode ser executada em duas etapas: a primeira, até a área da elevatória de Cem Braças; e a segunda, seguindo pelas ruas que já contam com rede separativa. Essa complementação poderá ser realizada em parceria com o Consórcio Intermunicipal Lagos São João, com investimento estimado em cerca de R$ 2 milhões”, explicou Aziel.
O secretário acrescentou que as ruas transversais, em direção ao Capão, receberão medidas compensatórias, garantindo o fechamento definitivo do sistema de drenagem e saneamento da região.
Cem Braças, bairro popular e histórico de Búzios, começa a registrar os primeiros impactos da obra de saneamento. As ligações já realizadas trazem mudanças perceptíveis para os moradores, com trechos da rede entrando em operação. A obra está em andamento, e seus efeitos completos serão avaliados ao longo das próximas etapas.
“Estou ansiosa para ver tudo concretizado como aqui na minha rua”, finalizou Ketila, a comerciante que quer ver o efeito que já sente em sua rua, se espalhar pelo bairro.

Estação de Tratamento de Esgoto de Búzios – Localização: Bairro São José. Inauguração: 21 de dezembro de 2017. Função:Tratamento eficiente do esgoto da cidade e produção de água de reuso para irrigação. Capacidade: Ampliada em cerca de 20% para atender ao crescimento da demanda. A ETE faz parte do esforço de universalização do saneamento na região, beneficiando a maior parte da população urbana de Búzios e de municípios vizinhos atendidos pela Prolagos, concessionária responsável pelo serviço. Desde a inauguração, a estação tem contribuído para a melhoria da qualidade ambiental e do saneamento local. Atenção ao sistema de drenagem: a mistura de esgoto com águas pluviais pode gerar sobrecarga e alagamentos. Até agora, o bairro Cem Braças era atendido apenas pela coleta de esgoto em tempo seco, tornando essa integração um ponto crítico a ser resolvido.


