“Eu não achava que eu tinha capacidade para fazer as peças que eu fiz, mas gostei muito do resultado. Eu sou muito ansiosa. Quando começo uma coisa e não dá certo, não tenho paciência para continuar tentando. Mas conforme ia mexendo com o barro, eu ia dando forma à peça e ao mesmo tempo, o trabalho ia me moldando e me dando paciência. Para mim, foi muito além de uma aula de cerâmica, foi uma terapia”. O relato da dona Elcir Pinheiro, retrata como o ‘Somos Divas na Luz do Candeeiro’, projeto realizado com mulheres do quilombo de Maria Joaquina, pelo Instituto Cultural Carlos Scliar e a Prolagos, fomenta a representatividade e a independência de mulheres quilombolas, estimulando o potencial criativo e capacitando para a confecção de peças que poderão apoiá-las na complementação da renda familiar. O material confeccionado durante os 3 meses de oficinas foi exposto nos jardins da Casa Scliar.
Este é o terceiro ano do projeto, que nasceu no início da pandemia. As Divas Marcia Valéria, Elcir Pinheiro, Flavia de Oliveira, Gessiane Maria, Jarilsa da Costa, Juliana Soares, Landina Maria e Thais Monteiro, se reuniram semanalmente na casa museu onde aprenderam modelar a argila, pintar, queimar e inserir ilustrações que tratam sobre a cultura afro-brasileira. Cada turma trabalhou com uma peça distinta, respeitando as particularidades das comunidades de origem, e nesta, foram confeccionados pratos, xícaras e luminárias. “Do mesmo jeito que ocorre com a cerâmica, que antes era uma massa sem forma e é transformada em um objeto, também acontece com todas as participantes, ou seja, essa é uma ação que nos transforma. E esse nosso encontro não acaba aqui. Nosso propósito é alcançar a geração de renda, podendo dar ainda mais independência a essas mulheres”, ressalta Cristina Ventura, idealizadora do projeto e coordenadora da Casa Scliar.
Nos encontros as participantes fizeram uma imersão no universo da cultura, com discussões sobre a arte e o patrimônio histórico nacional. O projeto também ofereceu acesso ao curso “Exercitando a Mentalidade Financeira”, oferecido pela Academia Aegea, plataforma de educação corporativa da Aegea, grupo do qual a Prolagos faz parte. “Nossa intenção é proporcionar estrutura para que elas se desenvolvam e repliquem o aprendizado nos quilombos, impulsionando e valorizando a cultura africana, empoderando as mulheres, gerando renda e ajudando na valorização, no conhecimento e na produtividade”, relata Simony Dias, coordenadora de Responsabilidade Social da Prolagos.
Essa e outras iniciativas são promovidas por meio do ‘Respeito Dá o Tom’, programa desenvolvido há 5 anos pela Aegea, em todas as unidades do grupo, que promove a equidade nas oportunidades de acesso à empresa e de crescimento profissional dos funcionários que se autodeclaram pretos e pardos. O programa promove ações que vão desde oficina de currículos para pessoas pretas, capacitação das lideranças para combater atitudes antirracistas, rodas de conversa para informação e sensibilização sobre o tema entre os profissionais da empresa, até adequações nos processos de recrutamento e seleção, com foco em ampliar a diversidade racial no quadro de trabalhadores, inclusive em funções de liderança. As ações já se refletem no quadro de funcionário, onde atualmente, 59% dos colaboradores e 51% dos gestores, se autodeclaram pretos ou pardos.