A primeira sessão ordinária da Câmara Municipal de Búzios em 2025, realizada nesta terça-feira (4), deixou evidente um novo cenário político na cidade. Os discursos críticos foram predominantes, mas, curiosamente, os vereadores evitaram citar diretamente o nome do prefeito Alexandre Martins (Republicanos), concentrando as cobranças no “governo” e nos secretários municipais. O movimento indica que, apesar das tensões políticas, o embate com o Executivo ainda não está completamente consolidado e a oposição pode encontrar dificuldades para manter a unidade no longo prazo.
Votações unânimes e discursos de impacto
Um projeto, muito esperado, enviado pelo Executivo foi aprovado por unanimidade: o incentivo financeiro para agentes de saúde e endemias. Apesar disso, as discussões que se seguiram revelaram um ambiente de cobrança e independência dos vereadores, com críticas diretas à gestão de áreas estratégicas, como Saúde e Trânsito.
O vereador Raphael Braga (PRD) trouxe para o debate problemas na Atenção Básica de Saúde, como filas nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e falta de insumos, enquanto Aurélio Barros (Solidariedade) focou em questionamentos sobre a permanência do secretário de Saúde, Leonidas Heringer, e uma suposta busca por continuidade visando se aposentar no cargo, o que soou desconexo e sugeriu alguma rusga pessoal.
Outro tema central da sessão foi o trânsito. Felipe Lopes (DC) solicitou uma audiência pública para tratar do impacto do Carnaval, mencionando o caos viário registrado no réveillon. Ele destacou que a cidade precisa de um novo plano viário, além da possível implementação de uma Taxa de Preservação Ambiental (TPA). Aurélio Barros reforçou a preocupação com a segurança no trânsito, citando o aumento no número de acidentes envolvendo motos.
Bloco de oposição unido, mas por quanto tempo?
Embora o tom crítico tenha sido claro, a ausência de ataques diretos ao prefeito sinaliza que o bloco de oposição ainda está se testando. Vereadores que outrora foram aliados de Alexandre Martins, como Aurélio Barros, agora assumem posturas mais combativas, mas ainda sem romper completamente com o governo.
Felipe Lopes, que retorna à Câmara após quase dez anos, busca se consolidar como uma liderança independente, enquanto Raphael Braga, filho do ex-prefeito Mirinho Braga, já tem um discurso afiado contra a gestão. No entanto, a oposição não está completamente alinhada e diferenças estratégicas podem enfraquecer o grupo nos próximos meses.
A base governista, por sua vez, mantém algumas peças-chave, como Uriel da Saúde (Republicanos) e Toni Russo (MDB), e Anderson Chaves(PV), ausente da primeira sessão, que seguem atuando com mais cautela, sem entrar em embates diretos. O presidente da Câmara, Victor Santos (MDB), tem adotado uma postura equilibrada, indicando que o governo ainda pode articular dentro do Legislativo.
Disputa por espaços e influência nos bastidores
Além das discussões públicas, os bastidores da sessão sugerem que nomes influentes da política regional podem estar atuando para fortalecer a oposição. Apesar disso, o governo de Alexandre Martins parece ainda tem margem para reverter o quadro. A falta de uma liderança unificada na oposição e o histórico de reconfiguração de alianças na política local são fatores que podem enfraquecer a pressão sobre o Executivo nos próximos meses.
Cenário político em construção
A sessão inaugural da Câmara em 2025 indicou que o Legislativo estará menos alinhado ao Executivo do que nos últimos anos, mas não consolidou um cenário de enfrentamento absoluto. A oposição mostrou força, mas precisa provar que tem coesão suficiente para manter sua influência ao longo do tempo.
Com embates direcionados a secretários e não ao prefeito, a dinâmica política de Búzios ainda está em fase de construção, e os próximos meses serão decisivos para definir se Alexandre Martins conseguirá recompor sua base ou se terá que governar sob uma vigilância mais rígida da Câmara.
Fiscalização e debates sobre contratos públicos- A sessão também foi marcada por cobranças sobre serviços contratados pela administração municipal. O vereador Toni Russo (MDB) fez críticas à empresa responsável pelos estacionamentos da cidade, afirmando que possui denúncias sobre irregularidades e que pretende apresentar provas que justifiquem a revisão do contrato. O tema gerou repercussão entre os parlamentares, com indicativos de que a fiscalização sobre concessões públicas será uma das prioridades do ano. Outra pauta polêmica foi a exigência de presença física de estudantes universitários beneficiados por bolsas da prefeitura para renovação do auxílio. Raphael Braga criticou a medida, classificando-a como burocrática e prejudicial aos alunos que estudam fora do município. O vereador relembrou embates anteriores sobre o tema e reforçou que a Câmara já havia aprovado um dispositivo para evitar restrições ao benefício.