Além da nota de repúdio da Câmara Municipal, outros órgãos se posicionaram em defesa do secretário, como o Movimento Negro Unificado (MNU)
O caso da referência racista feita pelo Sepe Lagos (Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação) ao secretário de educação de Cabo Frio, Flávio Guimarães, ganhou proporções maiores nos últimos dias. Além da nota de repúdio da Câmara Municipal, outros órgãos se posicionaram em defesa do chefe da pasta, incluindo o Movimento Negro Unificado (MNU), núcleo Rio de Janeiro.
Em uma crítica ao governo municipal lançada nas redes sociais, o sindicato se referiu ao secretário, que é negro, como “capitão do mato” do governo. A expressão levou a sociedade civil a interpretar o termo como sendo racista e preconceituoso, já que figura deste capitão é historicamente conhecida por perseguir, capturar e açoitar os escravos.
Questionado pela Prensa, Flávio Guimarães relatou ser preocupante ter que relembrar a luta antirracista em pleno século XXI, onde há um acesso mais fácil à informação. “O uso de termos racistas para defender qualquer que seja a causa, é injustificável”, ressaltou.
O secretário também afirmou que sua assessoria jurídica está tomando providências para garantir que esses episódios não mais se repitam.
Apoio antirracista
Em defesa a Flávio, a página do Movimento Negro Unificado (MNU -RJ) no Facebook emitiu uma nota em que declara apoio à luta dos servidores da educação grevistas, pauta debatida pelo Sepe Lagos, porém descreve a expressão usada pelo sindicato como parte de um racismo estrutural.
“Devemos nos posicionar quanto a nota emitida no dia 29/03/2021, pelo Sepe Lagos: Um ataque racista ao gestor público, atual Secretário de Educação do Município de Cabo Frio, homem negro e servidor público que sempre atuou em prol das lutas sociais contra o racismo, a intolerância e todas as formas de preconceito, inclusive pela aplicação do ensino de história e cultura africana, determinados pela Lei 10638/03 e 11645/08.
Na nota infeliz encontra-se ostentada a reprodução mais visceral de como o RACISMO ESTRUTURAL possui fincados seus tentáculos em algumas de nossas organizações de luta, das mais tradicionais e resistentes, e como vamos precisar de união e dialogo permanente para redimensionar as dores trazidas as pessoas negras em espaços de poder, quando não se consegue objetivar o profissional e o conceito de gestão pública”.
A Câmara Municipal de Cabo Frio também se posicionou ao lado do secretário. A casa legislativa afirmou “repudiar veementemente” as palavras direcionadas pelo Sindicato. O assunto foi trazido à discussão durante a sessão ordinária desta terça-feira (30), pelo vereador Vanderson Bento, presidente da Comissão de Direitos Humanos. Todos os vereadores presentes se solidarizaram com secretário Flávio.
Retratação
Como forma de amenizar a repercussão negativa do caso, o Sepe Lagos publicou uma nova nota para se retratar.
“Aos trabalhadores negros e negras que se sentiram ofendidos por esta comparação, pedimos sinceras desculpas. Não foi esta a intenção do sindicato, que é um aliado estratégico de toda a classe trabalhadora em sua luta contra a opressão racista e a exploração capitalista. Sabendo inclusive, que é um grave equívoco associar esses personagens exclusivamente ao fenótipo do negro, já que brancos e mestiços também cumpriram esse papel repressor, vastamente comprovado pela historiografia crítica. Por isso, nos surpreendeu a associação feita nas redes sociais, como uma caracterização racista e não política de um repressor”.
Seme
A Prensa questionou a Secretaria de Educação quanto às acusações feita pelo sindicato. A pasta informou que 67 servidores tiveram descontos em seus contracheques no mês de março de 2021, com base no entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de que a falta do servidor pode ser motivo de desconto até que a legalidade da greve seja confirmada pela Justiça. O órgão ressaltou que, em caso de confirmação da legalidade da greve, os valores são ressarcidos aos servidores.
A decisão final sobre o dissídio coletivo de greve ainda não foi firmada pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.
Em nota, a Prefeitura afirmou que os valores descontados são referentes aos dias em que esses profissionais deixaram de atuar em home office (trabalho em casa), durante as mediações com alunos ou presencialmente nas unidades, em formato de rodízio. Essa modalidade de atuação ocorre desde setembro de 2020.