Lugar é administrado pelo Coletivo Feminista do Autocuidado e Cuidado entre Defensores de Direitos Humanos
Em meio da agitação de Cabo Frio existe um lugar de respiro. Sim, e não se trata só de um local para lazer, é um espaço reflexão, descanso e acolhimento específico para defensoras de Direitos Humanos e feministas brasileiras. A Casa de Respiro Brasil é o primeiro local no país que tem a proposta de restabelecer a saúde das mulheres que se desdobram por uma sociedade mais justa e igualitária. A proposta é incentivar o autocuidado para que elas possam ter força para continuar suas lutas diárias.
A Casa de Respiro foi criada pelo Coletivo Feminista do Autocuidado e Cuidado entre Defensores de DH, formado com a união de sete ativistas, feministas que atuam em espaços de militância em várias frentes, como enfrentamento ao racismo, a lesbofobia, as várias formas de violências as quais as mulheres são submetidas, e a luta pela terra e a floresta. O trabalho autônomo do grupo nasceu em 2014.
Segundo a coordenadora da Casa de Respiro, Tania Lopes, o local tem uma proposta alicerçada numa aposta ética e política. As consequências graves de adoecimento, seja físico e/ou psicológico, são evidentes e inegáveis, portanto, há que se mobilizar e atuar com o objetivo de minimizar, acolher, cuidar e permitir o respiro das defensoras de DH.
“O Coletivo Feminista do Autocuidado é um espaço para falarem de suas lutas, suas angústias, do que sentem em relação às dores que tem que atravessar e individualmente estarem prontas para luta pelos direitos da mulher. Um espaço de cuidado de reflexão, de descanso, um espaço de respiro. Juntas estudamos a possibilidade de estarmos juntas construindo a Casa de Respiro no Brasil. Eu costumo dizer que o movimento feminista no Brasil é o que me alimenta. É esse lugar que eu me encontrei para minha luta pelas mulheres, porque a luta da mulher se estende a toda família a o lugar que estar, ao lugar que trabalha, funciona, age e cria”, disse a coordenadora da Casa de Respiro, Tania Lopes.
Segundo Tania, a base da organização se dá na reflexão, experiência e prática, da dimensão política do autocuidado e do cuidado a partir do feminismo. A proposta é criar e aprofundar estratégias, no âmbito dos movimentos sociais que possibilitem a proteção e segurança de Defensoras de Direitos Humanos, no Brasil. A partir da perspectiva da sustentabilidade das ações políticas, lutas por igualdade e justiça evidenciam a ação do construir o cuidado coletivo.
“Com a instalação de um governo fascista e neoliberal, que tomou posse em 2018, no Brasil, unificando a política de ultradireita no contexto nacional, que se reflete em nível estadual e municipal, especialmente no Rio de janeiro, os planos de governo têm por principal objetivo o desmonte das políticas públicas, direitos conquistados nos últimos 20 anos. Deslegitimam e criminalizam a ação dos movimentos sociais, no país, e perseguem as/os defensoras/dos Direitos Humanos, que atuam pela igualdade de direitos. Esta vulnerabilidade, perseguição, prisões e assassinatos, já vinham num crescer nos espaços de resistência e luta, o que veio potencializar e legitimar as perseguições, e retirada de direitos, conquistados em lutas históricas”, explicou Tania.
Ainda de acordo com ela, “no contexto da pandemia do Covid-19, o governo minimiza as queimadas constantes na Amazônia, penaliza e retira territórios dos povos originários (indígenas e quilombolas), estimula o avanço do fundamentalismo religioso, e o armamento da população. Diante desse cenário assustador, que nos engole há três anos e meio, se faz necessário que a proteção, a segurança e espaços com base nas estratégias autocuidado e cuidado possibilite o respiro, o fortalecimento, o apoio e acolhida às mulheres defensoras de direitos humanos – negras, quilombolas, indígenas, lésbicas, trans, que vivem no Brasil e lutam para transformar seus territórios e lugares de bem viver”, destacou.
Inspirações e alicerces
A Casa de Respiro se baseou na experiência de espaço semelhante ao da Casa LaSerena, no México, cujo modelo, estímulo e apoio técnico acompanha o grupo desde 2018 e deu suporte para iniciar um laboratório neste ano de 2021. São considerados cinco dimensões que alicerçam trabalho de atenção integral feminista: Dimensão Física, Dimensão emocional, Dimensão Energética, Dimensão mental e Dimensão espiritual.
Os alicerces da Casa de Respiro são baseados no trabalho político coletivo, com diálogos, intercâmbios e aprendizagem em conjunto; no modelo de saúde holística, com terapias integrativas e medicina de tradicional de povos originais; na ação política e parte da proteção integral, o autocuidado e a cura integral; na proposta que o benefício da estada na Casa, resulte num plano de cuidado e atenção permanente; nas terapias que são a essência do trabalho desenvolvido, tais como psicologia, yoga, técnicas de respiração, acupuntura, massoterapia, reflexologia, homeopatia, medicina chinesa, entre outras; e as oficinas de criatividade, arte terapia.
Primeira imersão
Em novembro deste ano será realizada a primeira imersão/ laboratório para três defensoras de DH, em que será aplicado o conhecimento e a metodologia construída nesses sete anos de existência do Coletivo. Serão imersões de 5 ou 10 dias com atividades de reflexão e cuidado, a fim de que essas mulheres saiam desse espaço restabelecida em sua saúde e força para continuar na luta.
“As defensoras virão para a imersão na Casa de Respiro, através da sua organização, onde ela milita por uma causa. A casa vai funcionar com uma programação diária com uma alimentação saudável, exercícios terapêuticos, lazer e criatividade. A defensora de DH sairá da casa com um plano de cuidados elaborado por ela junto à equipe de atendimento da casa, que deverá seguir ao retornar a sua rotina diária. A manutenção neste momento de laboratório, é financiada por edital de apoio às Defensoras de DH no Brasil, explicou a coordenadora do Coletivo, dizendo que por questões de segurança das defensoras o endereço da Casa de Respiro não é divulgado.