Pular para o conteúdo
Search

Búzios: uma terra arrasada – um artigo de Fernanda Torres na Folha de São Paulo

A atriz e escritora narra sua saga nas décadas em que o principal balneário do Rio de Janeiro partiu de paraíso as proximidades do inferno

Reprodução Folha de São Paulo

Búzios: exemplo “vivo ou morto”, “ocupação” e “terra arrasada”. Assim começa o artigo da atriz Fernanda Torres na Folha de São Paulo. Ela utiliza o exemplo do mais conhecido balneário do Rio de Janeiro para mostrar o resultado previsível das medidas tomadas pela atual gestão do Ministério do Meio Ambiente em relação à ocupação de praias e manguezais em todo o país.

O texto é um relato contundente em que Fernanda narra três momentos de visitas a Búzios no espaço de 20 anos. O primeiro foi em 1975, com 10 anos de idade.

“Eu devia ter uns dez anos quando aceitei passar um feriadão acampada com tios e primos em Búzios. Búzios, na época, ainda era Búzios. (…) O acampamento cigano foi erguido no canto de uma João Fernandes ainda selvagem. (…) Assim que o dia raiou, carente de paz e privacidade, inflei o bote de plástico e passei a sexta, o sábado e o domingo a boiar na marola, sem blusa, chapéu ou filtro.”

Fernanda segue o artigo relembrando um segundo retorno a Búzios em 1985, em uma casa dos pais de um namorado, na Ferradura.


“(…) uma casa linda…, cujo jardim terminava num muro sobre a areia. A maré alta engolia a beira-mar e me pareceu estranho que uma praia pública pudesse ser loteada de maneira tão privée.”

Ainda sobre a Ferradura, mesmo situando no texto as próximas impressões dentro do espaço de 20 anos entre a primeira visita e a segunda, narra uma visão mais próxima do que se concretizou como a regra na paisagem de Búzios de meados até o fim dos anos 90.

“Pela manhã, despertei com o roncar das lanchas. (…) Não só a areia da Ferradura fora privatizada, como o espelho d’água liberado para todo o tipo de esportes aquáticos. Banana boats, motos aquáticas e embarcações variadas zanzavam como moscas no plácido oceano, ameaçando banhistas, afugentando peixes e arruinando o que Deus criara. (…) No apagar das luzes do segundo milênio, os dois penhascos que fecham a entrada da exuberante enseada ainda restavam intactos, mas os grandes resorts já negociavam as encostas recobertas de vegetação nativa, animais rasteiros e ninhos de pássaros.”

Então Fernanda retorna, passadas mais, de acordo com ela, duas décadas, no aniversário de 55 anos, em setembro de 2020 e descreve a todo o país o que quem mora em Búzios já sabe e sofre.

“A engarrafada via de mão dupla que dá acesso à península sempre foi horrenda, mas piorou com a idade. O comércio de casas feias quintuplicou o número de restaurantes, supermercados, postos de gasolina e agências de turismo. Um não acabar de néons, reclames e outdoors vendendo o que não mais existe.”

Ela tenta salvar um pouco do seu retorno a Búzios lembrando que ainda resta o bairro dos Ossos.


“A praia dos Ossos ainda guarda a memória do antigo encanto. A igrejinha do século 18, protetora dos baleeiros, continua lá…”


Mas então faz o desfecho do texto parecendo uma moradora de Búzios discutindo problemas que se tornaram o centro das discussões cotidianas de quem vive no balneário e lamenta que o sonho de manter um paraíso não tenha se realizado.


“( …)o resto foi entregue à especulação imobiliária. Condomínios inteiros avançam sobre as demais praias. Boates bregas, pistas de minikart e pombais batizados de hotéis, onde antes respiravam dunas. Quase nenhum vestígio da paisagem agreste.


A praia da Tartaruga foi tomada por botecões estilo favela. Enormes barracas de compensado e concreto, com mesas que se alastram em direção ao mar. Um festival de latas de cerveja, garrafas, copos de plástico e guimbas meio fumadas.


Minha família jamais deveria ter acampado em João Fernandes; o pai do meu namorado não poderia ter fincado sua casa na areia da Ferradura e nem as malocas-bares destruído a beleza da Tartaruga”

O fato que motivou o artigo

Presidido pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) aprovou nesta segunda-feira (28) a revogação de suas resoluções 302 e 303, que estabeleciam critérios para a preservação de áreas litorâneas de manguezais e restingas. A resolução 303 determinava quais as Áreas de Preservação Permanente (APP) nas faixas litorâneas, protegendo toda a extensão dos manguezais e delimitando como APPs as faixas de restinga “recobertas por vegetação com função fixadora de dunas ou estabilizadora de mangues”. A revogação beneficia o setor imobiliário nas praias de restinga e a carcinicultura, principalmente no litoral do Rio Grande do Norte.

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

Matérias Relacionadas

Cabo Frio sedia Fórum de Desenvolvimento da Região dos Lagos

Tawa Beach Club promete fim de semana repleto de atrações musicais e gastronômicas

Acúmulo de lixo em Itaipava ameaça saúde pública e economia local

Exposição celebra 200 anos da imigração alemã no Brasil

NOTÍCIAS DE GRAÇA NO SEU CELULAR

A Prensa está sempre se adaptando às novas ferramentas de distribuição do conteúdo produzido pela nossa equipe de reportagem. Você pode receber nossas matérias através da comunidade criada nos canais de mensagens eletrônicas Whatsaap e Telegram. Basta clicar nos links e participar, é rápido e você fica por dentro do que rola na Região dos Lagos do Rio de Janeiro.

Receba nossa Newsletter!

Poxa você já está indo? Bem que você, poderia ficar mais um pouco!

Se precisar mesmo ir, não deixe de assinar nossa Newsletter. Todo dia enviamos nossas notícias diretamente no seu e-mail, você fica informado sobre tudo em primeira mão.

Receba nossa Newsletter!

Ahh outra coisa, ao assinar, acesse seu e-mail e confirme que deseja receber nossa newsletter.