Por Anna Bina
Hoje, recebi este email-desabafo de uma amiga:
“Estou amamentando e aonde vou com meus filhos, não consigo sentar para poder fazer meu trabalho de mãe sem esforço! Sumiram todos os assentos da nossa cidade e a gente não pode sentar! Um ato tão simples e cotidiano ficou quase impossível em Búzios! Não têm mais bancos na Praça Santos Dumont, não têm na Praça da Escola Nicomedes e por aí vai… a verdade é que os bancos existem, mas estão destruídos ou lhes falta manutenção. O mesmo acontece com a pracinha perto do Mica, uma vergonha!
O Porto do Barra também não tem mais assentos públicos, são só dos restaurantes; eu sei que este é um espaço privado, mas não dá gente!, não se pode apenas passear com a família sem ter que consumir!!?? Acho um absurdo e uma falta de respeito ao espírito de Búzios, cidade acolhedora, linda e agregadora. Está ficando difícil : ou você tem grana para sair de casa e sentar ou não têm grana e acaba tendo que sentar na calçada mesmo, como fazem muitos dos que frequentam as praças de noite!
Enfim, amiga, precisava desabafar, hoje fiquei cansada e indignada porque ninguém fala dos assentos! Acho uma falta de respeito com o cidadão e com o turista , a cidade não oferecer bancos. Falo com todo respeito por esta cidade linda que acolhe a gente com tanto amor e alegria! Envio umas fotos que tirei da Praça hoje! Estou triste, sinto que Búzios aos poucos está perdendo seus encantos e não vemos respostas das autoridades competentes…” (Belen)
Minha amiga me fez parar para olhar a cidade e o ato de sentar.
A grande graça de uma praça ou de uma cidade é o banco. O banco é redentor, para quem cansa, para quem amamenta, para quem pára ou espera, para quem burla o cotidiano que nos atravessa veloz. Além de servir a quem espera ou descansa, o banco estimula a conversa, a imaginação e o encontro entre as pessoas.
Os índios dizem que um dos atos mais importantes para o ser humano é o sentar e meditar. Afirmam que quem não tem um banco para sentar é amalucado.
O ato de sentar no espaço público é inspirador. Um banco é um convite para ficar mais tempo na rua, observando e fruindo a cidade.
Búzios tem cada vez mais praças, mas faltam bancos … Assim como faltam iluminação à noite, sombra de dia e lixeiras. Faltam, na verdade, manutenção e cuidado com o espaço público .
– A gente nota que Buzios está se tornando um lugar em que você só pode sentar em espaços privados. Mas a gente tem que começar a pensar a nossa cidade de outra forma. A gente se preocupa muito com o nosso espaço particular, mas o maior patrimônio de uma cidade é o seu espaço público. Se a rua acolhe as pessoas, com bancos e iluminação, os moradores e turistas vão pra rua e isso gera mais segurança e alegria na cidade. A cidade fica aprazível, alegre, viva. É o espaço público que agrega os cidadãos e para isso, ele não pode estar degradado, sujo, fedido, escuro e inseguro.
Aliás, Buzios cresceu com os antigos sentados em cadeiras ou espreguiçadeiras em frente de suas casas para jogar conversa fora, pegar a fresca da tarde ou ver o movimento da rua. O espaço público era simplesmente a continuação do espaço privado. Existia uma relação de afeto com a rua, a cidade era nossa.
Hoje, o espaço público não tem mais lugar. A cidade está triste, escura e com medo.
Talvez nossos gestores nem tenham se dado conta da importância de bancos para o povo sentar, talvez usufruam pouco do espaço público.
Mas nós podemos fazer uma campanha pela volta dos bancos na cidade!
Podemos postar no facebook fotos dos bancos, praças e calçadas por onde passamos. Podemos cuidar das nossas praças. Podemos também sair com nossos bancos a tiracolo e sentar nas praças para fruir, ler um livro ou ver as gentes passar.
Tudo vale.
Fica aí de estímulo a reflexão e o convite.