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Búzios: Saúde da Lagoa de Geribá posta em xeque desde o início do crescimento imobiliário

Ligação clandestina de esgoto é uma das principais causas da poluição da Lagoa de Geribá. Foto: Divulgação.

Área que faz parte de unidade de conservação respira por aparelhos há muitos anos

Uma das Unidades de Conservação do município de Armação dos Búzios é o Parque Municipal Lagoa de Geribá. Com 14 hectares de área, o local precisou de atenção no início do ano 2000 devido ao crescimento imobiliário desordenado, que resultou no excesso de esgoto lançado diretamente na lagoa que dá nome ao Parque.

Desde a transformação da área em unidade de conservação, em 2004, pelo então prefeito Mirinho Braga, entidades e profissionais engajados em causas ambientais lutam para que o local seja preservado.  Em 2016, a concessionária de água e esgoto da cidade, a Prolagos, iniciou o serviço de esgotamento sanitário por meio da rede separadora de esgoto. À época, foram investidos R$ 5,2 milhões na implantação de 5,8 quilômetros de rede exclusiva no entorno da Lagoa.

Para eficácia do novo sistema era preciso que a população se conectasse à nova rede coletora para evitar que os resíduos provenientes de banheiros e residências fossem lançados diretamente na malha de drenagem pluvial, e, assim, evitasse o transbordamento em períodos de fortes chuvas, o que acabaria lançando os dejetos irregularmente na Lagoa de Geribá.

Em 2021, a falta de conscientização ainda é evidente e segue comprometendo a saúde do leito. Ligações clandestinas ainda são identificadas pela Prefeitura constantemente.

“O entorno da Lagoa de Geribá possui, em trecho significativo, rede separativa de esgotamento sanitário, mas uma parte relevante dos imóveis atendidos ainda não possui interligação à essa infraestrutura. A Prefeitura municipal vem desenvolvendo um trabalho de incentivo à realização dessa conexão à rede para reduzir a contaminação do lençol freático por percolação de resíduos no subsolo”, disse o secretário do Ambiente, Pesca e Urbanismo do município, Evanildo Cardoso.

Além das obras finalizadas em 2016, a concessionária disse avançar na ampliação da cobertura de captação de esgoto por rede separativa, em paralelo ao sistema de esgotamento sanitário em vigor, coleta em tempo seco, que intercepta as redes de drenagem pluvial, levando as contribuições para a estação de tratamento. Em 2020, foram implantados 6,5 mil metros de rede de esgoto em quatro diferentes bairros: Manguinhos, Geribá, Centro e Alto de Búzios.

Este ano iniciou-se a implantação de 3.220 metros de rede coletora de esgoto no bairro Capão beneficiando cerca de 250 famílias com a destinação correta do esgoto. Até 2026, o Plano de Investimentos da concessionária prevê a construção de mais de 60 km de rede separativa, que irá contemplar os bairros Porto Belo, Bosque, Alto de Búzios, Manguinhos e São José.

Além da preocupação com a cobertura de captação da rede de esgoto e com o descuido dos moradores, também é questionada a falta de prontidão dos governantes nos últimos em realizar ações eficazes para resolver a poluição da Lagoa. Evanildo Cardoso explicou que junto com a equipe técnica está desenvolvendo o projeto de intervenção ambiental-urbanística no entorno da Lagoa de Geribá. O projeto envolve fatores de sustentabilidade, mitigação de impactos ambientais e recuperação do assoreamento ocasionado pelo histórico derramamento de esgoto sanitário nesse corpo hídrico.

No que diz respeito a urbanização, a pasta pretende viabilizar uma pista de ciclismo e caminhada interligando a região da praça da Aldeia de Geribá ao Trevo do Ceceu, passando pelo bairro Parque das Acácias e retornando à esta praça pela UBS de Geribá, proporcionando, assim, um espaço de convivência urbanística, lazer ao ar livre e prática de esportes. Soma-se a isso o setor ecológico que será composto de trilha ecológico, contando com placas educativas, sinalização de fauna e flora entre outros itens de educação ambiental. A previsão é que seja iniciado neste segundo semestre.

Segundo a Prefeitura, o desassoreamento serviu para minimizar o impacto de enchentes na região da Lagoa de Geribá. Foto: Divulgação

Ação paliativa

No início do mês de agosto, o município divulgou uma intervenção de desassoreamento realizada pela Secretaria de Obras, Saneamento e Drenagem, devido às chuvas do fim de julho, com o objetivo de evitar o transbordo.  No significado original desassorear é retirar o acúmulo de areia, entulhos, pedras e outros materiais do leito de (rio, canal, lagoa etc.) permitindo o livre fluxo das águas e/ou facilitando a navegação de embarcações.

“A Lagoa enche muito porque está com uma grande camada de lodo no fundo e, portanto, não comporta o volume de água, transbordando. Ela tem um “ladrão”, que é uma saída do excesso de água, que fica no terreno do estacionamento do Supermercado Princesa. De lá, atravessa a Avenida José Bento Ribeiro Dantas e corre por um valão canalizado até sair em Manguinhos. Ela recebe muita água que vem do Albatroz, passa pela Praça da Pista de Skate, inunda a Escola Municipal Antônio Alípio, corre pela lateral de um condomínio e chega na Lagoa depois de atravessar a Rua Rodrigues de Souza”, explicou a representante do Conselho Municipal de Meio Ambiente, Denise Mohand.

Ainda de acordo com Mohand, isso acontece porque a rede coletora de esgoto da Prolagos não comporta os dejetos devido às ligações clandestinas. “O esgoto que vem junto com a chuva desde o alto do Albatroz não pode entrar na rede porque tem água de chuva. A Prefeitura projetou uma miniestação de tratamento para filtrar o esgoto deste ponto de deságue chamado de ‘Wetland’, que são plantas aquáticas cujas raízes se alimentam de esgoto. Mas é preciso um trabalho de educação ambiental”.

Jardins filtrantes

Estudiosos encontraram nos jardins filtrantes, uma solução viável de saneamento básico. O tratamento natural de águas pluviais e efluentes sanitários é um dos objetos de estudo do engenheiro Civil e servidor da Secretaria do Ambiente, Bernardo Corty, um dos técnicos que está trabalhando no projeto de revitalização da Lagoa de Geribá. Para o desassoreamento até ajuda, mas não resolve o problema.

Modelo de jardins filtrantes . Foto: Pedro Hernandes I Reprodução Embrapa

“O Albatroz e o chamado “Suvaco da Cobra” não possuem rede coletora. Então mesmo que todas as casas sejam ligadas na rede disponível, o problema não se resolve. O despejo de esgoto via galeria pluvial continuaria mesmo que as casas do entorno sejam conectadas. Por isso é preciso uma solução mais atual e que equacione esse problema extra”, destacou.

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, jardim filtrante é uma tecnologia para tratamento do esgoto proveniente de pias, tanques e chuveiros, ricos em sabões, detergentes, restos de alimentos e gorduras – a chamada “água cinza”.

Na prática é uma estrutura com pedras, areia e plantas aquáticas, com manutenção simples que permite a reutilização e o descarte de maneira adequada. Além de contribuir com a sustentabilidade, também traz harmonia paisagística.

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