O filme “O Filho de Mil Homens”, estrelado por Rodrigo Santoro e já disponível na Netflix, tem Búzios como base visual de grande parte da narrativa. Embora a história aconteça em uma cidade fictícia, as paisagens buzianas sustentam a atmosfera do longa — e o público pode reconhecê-las com facilidade. As cenas mais marcantes foram gravadas na Praia de José Gonçalves, onde uma cabana cenográfica foi construída especialmente para as filmagens. Estive no local durante a produção e registrei, com exclusividade, a estrutura antes de ser desmontada.
Além de José Gonçalves, o filme exibe trechos rodados na Praia da Azeda e na Ponta da Sapata. São passagens que mostram costões, faixas de areia estreitas, trilhas de restinga e áreas de sombra entre as pedras, além da famosa “Casa da Azeda” e a Ponta da Lagoinha — imagens que agora podem ser vistas pelos espectadores diretamente na plataforma. O longa também gravou em Paraty, mas a maior parte das cenas externas reconhecíveis vem de Búzios.
Dirigido por Daniel Rezende e inspirado no livro de Valter Hugo Mãe, o roteiro acompanha Crisóstomo (Rodrigo Santoro), um pescador solitário que deseja ser pai e forma uma família pouco convencional ao lado do menino Camilo e de outros personagens marginalizados. Mas, para o público buziano, o destaque é a presença das locações: a cabana que aparece em momentos decisivos da trama, a encosta que surge em cenas de passagem, as águas calmas registradas em planos abertos.

O filme aposta em poucos diálogos e prioriza gestos, silêncio e movimentos lentos, o que torna as paisagens parte ativa da narrativa. A fotografia valoriza a luz natural e evidencia características das praias escolhidas. A cabana de José Gonçalves, por exemplo, aparece em tomadas que exploram a relação entre o isolamento do personagem e a amplitude visual da praia.
Quem assistir ao longa pode identificar, quadro a quadro, elementos típicos da cidade: a variação de cor do mar em José Gonçalves, a sequência em que os personagens caminham por uma área de restinga. Uma cena em que a personagem de Santoro desce uma escadinha do calçadão da “Casa da Azeda” em direção a um grupo de pescadores. Quando a cena corta para os pecadores o fundo é uma mureta de pedra na Ponta da Sapata próxima à falesia.
Para quem é de Búzios — ou conhece suas paisagens — o filme funciona também como um registro afetivo da região. As imagens ampliam a experiência do espectador e revelam como a cidade se tornou parte essencial da construção estética de “O Filho de Mil Homens”.










Búzios Film Commission e o avanço das produções na cidade
A presença de O Filho de Mil Homens em Búzios reforça o papel crescente da Búzios Film Commission na articulação de locações e no apoio logístico às equipes de filmagem. O órgão, hoje tendo à frente o cineasta e servidor público Leandro Araújo, tem atuado na mediação entre produtoras, moradores e poder público, facilitando autorizações, orientando equipes e mapeando áreas com potencial cinematográfico.
A chegada de projetos de grande visibilidade, como o longa de Daniel Rezende, indica um movimento consistente de expansão desse segmento na cidade. Com processos mais organizados, Búzios passa a oferecer segurança operacional para produtores e, ao mesmo tempo, impulsiona a economia local por meio da contratação de serviços, hospedagem e alimentação.
A Film Commission também contribui para diversificar a imagem do município além do turismo tradicional, aproximando Búzios do circuito de cidades que se tornam referência em produções audiovisuais. O uso de praias como José Gonçalves, Azeda e Ponta da Sapata demonstra que o território tem condições de receber novas obras e se consolidar como polo de locações no estado do Rio.


