Glauce Pimenta Rosa é multiartista, empreendedora social e gestora criativa de projetos ligados à arte, cultura e moda étnica, pesquisadora em linguagem corporal e expressões criativas, estudiosa e amante da cultura afro-indígena brasileira. Maranhense, escolheu Saquarema para viver, aonde é diretora artística da Kazawá, território de saberes e sabores, um espaço de afirmação e resistência cultural, de contação de histórias, rodas de conversa e empoderamento, e aonde Glauce abriu as portas para uma paixão: a confecção das Bonecas Abayomi.
“As bonecas Abayomi eu conheci quando eu fazia arte terapia, na minha gestação. Acabei desenvolvendo alguns fazeres e comecei costurando um boneco xamã, um boneco índio e logo me interessei sobre as bonecas negras de pano, as que eu mais gosto. Percebi que quase não existiam bonecas negras” conta Glauce. O talento para costura foi herdado da mãe, também maranhense: “Com a festa do bumba-meu-boi, as tradições acabam passando de pai pra filho, de vó para neto, todos aprimorando seus fazeres manuais. Costurávamos o couro do boi, tudo feito à mão, com muito cuidado e carinho, muito apreço. Minha mãe tinha grande habilidade com as mãos, tanto nas ervas medicinais quanto na costura, utilizando canutilhos, miçangas e bordados”.
As Abayomi não são apenas bonecas, representam um símbolo de resistência e de identificação cultural: “Enxergo meu trabalho como uma forma de manter a cultura forte e viva, visando o empoderamento da mulher negra e indígena”. Glauce também é ativista do movimento negro e feminista, cantora popular, educadora social, dançarina, já se apresentou em performances, exposições e festivais culturais no Brasil e exterior, além de fazer parte do Manifesto Feminista Primavera das Mulheres.
“Fui pesquisar sobre as bonecas Abayomi que eu tanto desejava fazer. Descobri a Lena Martins, militante do movimento negro, maranhense como eu e que desenvolvia Abayomi com retalhos de tecido” revela. A Abayomi é feita sem costuras, apenas com nós e tranças. “É um símbolo de resistência, tradição e poder feminino. Não tem olhos, nariz e nem boca, para favorecer as múltiplas etnias que existem na África” descreve Glauce.
Mas as bonecas são mais que um brinquedo ou lembrança, possuem um forte valor afetivo e até místico para quem as dá ou as recebe: “Elas também são um amuleto de sorte, simbolizando um elo eterno entre mãe e filho, é um presente muito significativo. É um modo de representatividade e fortalecimento das identidades diaspóricas e da potencialização da auto estima feminina negra” completa.
“A Abayomi é uma ótima opção para presentear crianças, pois são cheias de um valor cultural, feitas com muito amor. Quando fazemos oficina de criação de bonecas com as crianças, elas adoram, se encantam, colocando os nós e roupas. Elas levam alfazema por dentro, têm um cheirinho de vovó e de casa. É um significado muito importante, de grande valor cultural” conclui.
O atelier de Glauce fica no bairro de Barranova, Saquarema, na Casa Kazawá. Os contatos também podem ser feitos através do telefone (22) 99243-8108, pelo email [email protected] ou através do perfil no Facebook de Glauce Pimenta Rosa.