Professor Paulo Roberto
Hoje, sábado, dei uma palestra em uma escola secundária de Cabo Frio. Trata-se da Escola Municipal Elza Santa Roza, que tive a oportunidade de lá falar, em 2016. O tema da conversa/palestra era sobre o que havia mudado na situação política do país, neste espaço de 1 ano.
Em primeiro lugar, deixo bem claro que a oportunidade de falar para o público em geral, e principalmente para alunos do Ensino Fundamental e Médio é excelente para exercitar algo que considero muito importante para todo estudioso, qual seja, a clareza.
Tornou-se lugar comum argumentar que o desinteresse com a produção de cientistas sociais, está ligado, em parte, ao fato de que a linguagem utilizada não leva em consideração as peculiaridades do público em geral. Há nisso uma grande dose de verdade. Fui lá falar o que tinha acontecido neste um um ano que separava a minha última fala em 2016, com o país de hoje em 2017.
Se existe uma coisa que poderíamos chamar de “consenso” neste tempo que passou é o enorme sentimento de desencantamento com a política de uma maneira geral. Os sinais desse desencantamento manifestam-se de diversas maneiras: nos números recordes de abstenções ocorridas nas últimas eleições, na aparente apatia de uma opinião pública, que já mais se escandaliza com os escândalos constantes. Na percepção de que as soluções preconizadas para extirpar a corrupção do sistema político, não geraram o efeito esperado, e assim por diante. Poderia desfiar um rosário de razões que ajudam a explicar este sentimento generalizado de desencantamento.
Bem, este seria o principal elemento que identifico no transcorrer deste ano. No entanto, o diabo não parece tão feio quanto se pinta. Há um ano atrás, defendi a tese de que a solução do impeachment da então presidente era um equívoco, posto traria turbulência extra a um sistema político que carecia de grande reforma. Hoje, passados tantos meses da saída de Dilma Rousseff o governo de seu vice Michel Temer encontra-se tão ou mais fragilizado do que o de sua companheira de chapa.
Seria uma maldade com leitor se enumerasse todas as pesquisas de opinião que indicam o alto grau de rejeição que o governo Michel Temer possui hoje junto à população. As últimas denúncias só fizeram piorar o quadro. Temer, assim como Dilma é hoje um zumbi político. Não sai, não cai, não faz, muito menos desfaz. Nesse sentido, usando aqui o dito popular, a “emenda” do impeachment, terminou sendo pior do que o soneto da Ponte do Futuro, prometida por Temer.
Este desencantamento no entanto, foi pelo menos instrutivo para todos nós. Ainda que houvesse toda uma corte de evidências que mostrava como a “solução “ do impeachment era equivocada, ainda assim, para o bem ou para mal, “pagamos para ver”. E sim, quebramos a cara. De nada adianta hoje perguntarmos aos que defenderam o impeachment, “aonde estão as panelas, as camisas amarelas” e coisas do gênero. Perdemos todos, e isso é fato. Porém, volto a dizer é importante reconhecer que nessa perda há também, uma vitória, ainda que pequena. Trata-se, ao meu ver, do reconhecimento de que sabemos agora, aquilo que não queremos, mesmo que não tenhamos, ainda, uma ideia muito clara do que queremos concretamente e do que é preciso para conseguir o que almejamos. Saber que algumas respostas estão erradas, já faz parte da resolução de um problema.
Portanto, o que sabemos hoje, concretamente, sobre como sairemos desta crise? Pouco, mas com certeza mais do que julgávamos que sabíamos no passado. Acreditávamos que o impeachment seria a bala de prata com a qual resolveríamos o nosso problema da corrupção e da reforma política.
De certa maneira, do ponto de vista político, o “Plano Impeachment”, aquele que se traduziu na fórmula “primeiro a gente tira a Dilma e depois consertamos o resto” pode ser comparado à desastrada tentativa do governo Collor de acabar com a inflação com uma única medida. A história está aí para nos mostrar que aquela bala prata esteve muito longe do alvo.
Passadas duas décadas da malfadada tentativa do governo Collor no plano econômico, temos hoje um problema tão sério quanto a inflação se apresentava no passado. A diferença é que ainda não temos um plano político similar ao que foi feito na Economia.
O que tentei falar naquele colégio secundário em Cabo Frio, foi que tal como ocorreu com nossa inflação, a solução não veio de uma “bala de prata”. O impeachment, creio eu, poderá ser analisado no futuro não necessariamente como um “Golpe”, mas quem sabe, principalmente como uma bala de prata que nossa sociedade utilizou para tentar resolver um problema grave e complexo.
Mas, bem sabemos que balas de prata só funcionam nos filmes.
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