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No sertão brasileiro, a comunidade de Bacurau acaba de perder dona Carmelita, uma moradora respeitada por todos. Na cidade para o velório, Teresa (Bárbara Colen) encontra Domingas (Sônia Braga), Acácio (Thomas Aquino) e outros moradores de quem é próxima. Logo, estranhos episódios começam a acontecer e o povoado desaparece dos mapas online. O fora da lei Lunga (Silvero Pereira) então é chamado para ajudar seus conterrâneos a protegerem sua terra. Indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes e vencedor do Prêmio Especial do Juri.

Trecho de uma das cenas impactantes de Bacurau/ Reprodução

Bacurau é um filme original. Além da rima, essa verdade cria um problema de expectativa. A única inspiração que ficou clara para mim foi o filme O Alvo (Hard Target, 1993) com Jean Claude Van Dame e que aposto que ninguém mais lembra. Embora também tenha me feito lembrar o Ju-on (2002), o Grito, original japonês, porque, ao contrário da adaptação norte-americana, o original japonês tem como personagem principal a casa e não um protagonista específico. Aqui, é a mesma coisa. O personagem principal de Bacurau é… Bacurau, formada por seus excêntricos e normais habitantes.


O roteiro e a direção não têm pressa de nos apresentar a cidade e seus moradores para depois começar a mexer as peças do xadrez. O filme mistura muita, mas muita crítica social com uma violência exacerbada, nudez e uma sensação de nunca saber direito para onde o roteiro está indo, o que é ótimo. E quando achamos que conhecemos aquele mundo, o roteiro vai nos dando uns nós e uns “WTF?” que nos deixam desorientados e cada vez mais curiosos.


Termina o filme e temos a sensação de ter ido além de um filme, mas uma experiência. Bacurau é para ser experimentado, para ser vivido, sem pudor, sem vergonha e sem culpa, como fazem os habitantes da cidade.


Para deixar a coisa ainda mais original e mais “WTF?”, trata-se de uma ficção científica assumida, embora num futuro que pareça não ser tão distante e nem tão improvável e pelo fato de que a história poderia se passar tanto hoje, quanto uns 40, 70 anos atrás, afinal, o Brasil sempre foi assim. A ficção científica entra no recheio da crítica social deixando o filme cheio de camadas para você ficar pensando depois. Mas é bom repetir, a gente vai sempre concluir que o Brasil sempre foi assim, como é retratado em Bacurau.


Agora, a expectativa estraga um pouco. Porque elogios demais e a nossa ligação de intimidade com os filmes de ação de Hollywood cobram um pouco demais do filme. No manual do roteiro hollywoodiano, Bacurau teria menos 10 minutos apresentando a cidade a mais 10 minutos no seu ato final, com um pouco mais de tensão. Não sei se foi de propósito, mas deixou um gosto de quero mais.


Coincidentemente, o filme e seu contexto deixam ganchos para uma continuação. Afinal, que mundo é aquele? Que Brasil é aquele de Bacurau, tão real e tão fantástico? Em tempos de pandemia, Baucau carrega algo de profético.

Para esse povo chato que reclama de excesso de filmes de super-heróis e da Fórmula Marvel, como se fosse obra do diabo, que vá então ver Bacurau. Só não espere um filme de super-heróis e com a Fórmula Marvel. Bacurau é original. Não crie expectativas, apenas abra a boca e prove.

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Clinton Davisson é jornalista e escritor, pós-graduado em educação e mestre em comunicação e doutorando da UFJF. Autor de quatro livros, entre eles, a premiado Hegemonia – O Herdeiro de Basten.

Noticiário das Caravelas

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Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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