Assim como “Gentileza gera gentileza”, “Voluntariado gera voluntariado”. Chagas e Clemente, dois servidores que têm em comum, além da farda de guarda municipal, a vontade de retribuir as oportunidades que tiveram ao longo de suas trajetórias. Cerca de 200 moradores de Rio das Ostras são beneficiados pelos projetos gratuitos mantidos pela dedicação e comprometimento de ambos. Amor ao esporte e às pessoas é o que os motivam.
No projeto CSK – Chagas Shotokan Karatê, alunos de 4 a mais de 70 anos, alguns, inclusive, servidores do município, praticam nos turnos da manhã e da noite aulas de Karatê, Zumba, Dança de Salão e recebem atendimento em Psicologia, Acupuntura e Fisioterapia, num espaço privado em Nova Cidade. Já no projeto Associação Doulos de Capoeira, que existe em sete municípios do norte do Estado, além de Rio das Ostras, crianças, jovens e adultos da cidade praticam a luta na Casa de Cultura, no Centro.
Francisco das Chagas, faixa preta de 5º DAN, atua como guarda desde 2006 e é concursado desde 2008. Dos quase 30 anos dedicados a projetos sociais, 12 são em Rio das Ostras, onde vive há 21 anos.
Ele conta que a inspiração para ser voluntário vem de sua própria história como atleta. “Não tinha condições de pagar para praticar um esporte, mas ainda assim fui acolhido num projeto social e incentivado a aprender. Quero retribuir as mesmas oportunidades que tive a outras crianças que também não têm condições de praticar esporte porque os pais não dispõem de dinheiro. Minha meta é sempre formar novos atletas”, declarou.
O professor de karatê afirma ainda que foi o aprendizado no esporte que fez com que não se envolvesse com drogas. “Para que tenham perspectivas de vida, é preciso que as crianças recebam educação e ocupem o seu tempo em todos os lugares, em casa, na escola, em projetos sociais. O esporte salva vidas”, opinou Chagas.
Não só de projetos esportivos vive a CSK, que é filiada à Federação de Artes Marciais do Estado do Rio de Janeiro e possui 556 medalhas de vitórias em campeonatos brasileiros, estadual e sul-americano. Periodicamente realiza ações de saúde, utilidade pública e integração tais como Outubro Rosa, Dia da Beleza, Dia das Crianças, Festa Junina, entre outras. Mas para manter isso tudo, só mesmo com a perspicácia e o trabalho voluntário de vários professores, entre eles Adriano Carvalho, motorista de ambulância desde 2011, que além de ser professor nas aulas do mesmo projeto do Chagas, ainda tem o filho de 4 anos como aluno de Karatê.
Para a manutenção dos projetos, a CSK sempre contou com o apoio do ex-presidente da Câmara Municipal, Carlos Afonso Fernandes, prefeito interino e, em algumas ocasiões, com o apoio do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Rio das Ostras – SindServ-RO.
O apoio é fundamental para a instituição, mas ela é sustentada por parte do salário de Chagas. Ele, por exemplo, toda semana faz visitas a brechós para comprar quimonos usados para doar para os alunos, muitos deles até com necessidades especiais.
Mas o professor de Karatê destaca que o controle de gastos é feito regularmente, assim como a presença dos inscritos.
CAPOEIRA – Assim como o colega de farda Chagas, Luis Carlos Morais Clemente, o mestre de capoeira, “Pitu”, começou a praticar o esporte num projeto social. Dos 10 aos 16 anos treinava “escondido” em São Fidélis, pois os pais achavam que “capoeira era coisa de malandro”. Além disso, não tinham condições de pagar. Depois mudou-se para Santo Antônio de Pádua, onde por não oferecer aulas capoeira, acabou fazendo com que o jovem treinasse sozinho. Em seguida, passou a treinar de 15 em 15 dias em São Gonçalo, o que permitiu que começasse a dar aulas com apenas 18 anos.
Dedicação, foco e esforço são características que motivam Pitu, mestre em segundo grau, a dar aulas voluntárias de capoeira. Em Rio das Ostras o trabalho começou em 2011, na antiga sede da Guarda Municipal, onde existia formalmente um projeto, e no abrigo de crianças do município. Mas em 2013, com a mudança de gestão, o projeto foi encerrado. Foi então que conseguiu autorização da Casa de Cultura para realizar seu voluntariado na varanda do local.
Dali dois alunos foram graduados e dão aulas, também de maneira voluntária e sob a supervisão de Pitu, nas escolas municipais de Cidade Praiana e América Abdalla.
Moradores de Nova Cidade, Edenilson Gomes e Cristiane Viana declaram que nas atuais condições financeiras não conseguiriam manter os dois filhos, Júnior, de 22 anos e Amanda, de 11, em projetos esportivos. “Para nós é muito gratificante que os nossos filhos estejam fazendo capoeira, especialmente porque é uma arte que promove o desenvolvimento motor e psicológico. O mestre Pitu faz o trabalho com muita dedicação e ensina os alunos a terem responsabilidade. A gente percebe que muitas vezes ele abre mão de estar com a família, de passear, para ensinar capoeira”.
“Faço de tudo para ajudar, pois vejo que a maioria não tem condições de pagar, mas deseja muito aprender capoeira”, revela Pitu, que tal como o colega Chagas, chega a doar uniforme aos alunos que não têm condições de comprar.
As empresas e pessoas que tiverem interesse em ajudar ou mesmo participar das aulas dos projetos sociais podem entrar em contato por meio dos telefones: Chagas – 22 99878-5573 / Clemente – 22 99926-5367