Essa tese não se aplica a todo mundo lógico, mas cai como uma luva para a maioria dos casos que citarei abaixo.
Vamos por partes, como diria o estripador. O cara mora numa cidadezinha do interior e não tem nenhum talento ou profissão digna de se ganhar algum dinheiro. Para ascender socialmente. e principalmente economicamente, só lhe resta um caminho. A política! O sonho de muita gente despreparada é começar como vereador. Primeiro porque dá status, e segundo, obvio, e aí é que mora o verdadeiro interesse, porque rola grana. Muita grana na maioria das vezes.
Essa figura, no entanto, se encontra no piso e sonha com o céu. Ele não tem propostas, não tem projetos, não tem sequer um discurso coerente com o que imagina defender. Geralmente diz ser a favor de mais saúde (quem não seria?), melhor educação (idem) e a favor do povo. É um discurso raso que agrada aos ouvidos dos mais débeis e que costuma funcionar. Pois bem: esse idiota sem projeto, sem proposta e sem discurso (de olho na fama e na grana) se junta a um candidato majoritário e dele, exige tudo.
Eleição para vereador geralmente começa um ano antes. Tempo de fazer pequenas reuniões, churrascos, festinhas de amigos, tempo de levar doentes a hospitais, comprar remédios e pagar cachaça. Tudo para criar seu “grupo político”, por assim dizer. Para tanto, é preciso grana. Geralmente pedem um bom salário do grupo econômico que está por trás da campanha do prefeito. No que conheço bem, era de 5 mil reais por mês. Fora carros, motoristas e algumas cositas mas.
O candidato majoritário acha tudo uma maravilha. Nada sai do seu bolso e o futuro vereador trabalha para ele, buscando votos nos rincões, nas ruelas e nas casas de pobre da periferia.
Às vezes, no entanto, por mais que se faça ou invista, certos candidatos não conseguem se eleger. O prefeito ascende e o coitado nada. Porém, nem tudo está perdido. Basta ter uma votação significativa para ganhar um carguinho na nova administração. Aconteceu isso com o vereador Don, que na eleição que levou André Granado ao comando da cidade, não conseguiu sua sonhada cadeira legislativa. Don não se elegeu mas se gabaritou para assumir uma secretaria. E pegou justamente a mais corruptível de todas, de Postura. Irônico não?
A secretaria de Postura trabalha com suposições e não com regras definidas. Quem tem comércio sabe: ai de quem ousar bater de frente com um fiscal de postura mal intencionado. Basta o mesmo dizer que suas cadeiras estão irregulares para começar um verdadeiro suplício. A secretaria de postura de Búzios foi, é, e sempre será lugar sem controle. Eis o lugar ideal para alguém sem escrúpulos que sonha com um cargo eletivo e que só tem como arma de trabalho o fisiologismo. Se essa cidade não for composta apenas de covardes, terei quinhentas testemunhas a meu favor sobre o que vou dizer agora. Don, com a complacência do executivo fez o diabo para conseguir votos. Loteou todos os espaços públicos. Principalmente nas praias da Ferradura e João Fernandes, onde alocou dezenas de amigos em troca de votos.
Don não é o demônio. Apenas o legitimo representante de uma sociedade corrupta que aceita trocar votos por favores. Que aceita uma licença para alugar cadeiras ou equipamentos de mergulho na promessa de votar em quem de maneira irregular lhe garantiu um espaço nas famosas e ricas areias das praias buzianas. Don não foi eleito por ser honesto, sincero, ou por ter projetos para a cidade. Seus votos foram cabalados na base do “é dando que se recebe”, pratica tão comum nesse Brasil brasileiro que muita gente nem se dá ao luxo de atentar que se trata de um crime.
Don não tinha nada a não ser o sonho de ter fama, poder e dinheiro. Mesmo sabendo dos riscos que corria o prefeito André na campanha para sua reeleição fez tudo o que podia para ajudar. Deu no que deu. Quem conhece o Don de verdade sabia que a traição se daria mais cedo ou mais tarde. Ele não votou pela abertura do impeachment do Dr. André Granado por ideologia ou por querer uma cidade melhor. Muito menos pensando em seus eleitores. Votou porque não conseguiu do prefeito o que queria. Se engana quem pensa que depois de eleito com todo o apoio do governo o vereador (qualquer vereador) se satisfaz com o cargo. Em geral exige dezenas de cargos para seus parentes, amigos e cabos eleitorais, e contratos de serviços ou de obras (cartas convites seriam ótimas), tudo para manter e aumentar sua base eleitoral. Se não receber tudo, rompe com quem até ontem lhe deu tudo. Inclusive o mandato. E não importa se a cidade está passando pela maior crise econômica de sua história.
Cargos, cargos e mais cargos é o que todos querem. Os ex-prefeitos Mirinho e Toninho trabalharam bem essa questão. Sentados em cima dos milhões dos royalties, cooptaram quase todos os vereadores e jamais tiveram qualquer dor de cabeça. Mirinho, mais experiente, teve uma câmara tão leniente que ficou conhecida como a câmara do amém. Atravessou 4 anos de seu último mandato em mar de almirante. Dr. André, no entanto, resolveu acabar com a farra e fechou o açougue. Foi o fim dos bifinhos.
Por isso esse processo. Era só o prefeito fazer alguns agrados que nada aconteceria. Como tem sempre alguém disposto a bater palmas para maluco dançar, o rompimento pode ser seguido de qualquer discurso. E aos olhos dos idiotas, o traidor vira herói. A história contemporânea é bem ilustrativa quando se trata de traidores políticos. Seja lá de que forma acabar essa história do Impeachment do prefeito, já sabemos o futuro do Don. Seu destino será igual ao de Aécio Neves, Eduardo Cunha, Temer e companhia, que por covardia e pura demagogia, retiraram do poder uma pessoa legalmente eleita pelo povo.
Se vivo fosse, Carlos Terra certamente estaria muito triste com a atual situação de Búzios, afinal, não foram poucas às vezes em que ele ainda na primeira campanha alertou André para a falta de compromisso com o grupo do agora vereador Don. Tanto Don quanto Genilson Drummond tentaram sabotar André ainda na primeira campanha. A profecia do Terra se realizou. André tem todo o direito de dizer em voz alta que foi traído pelos dois. Ambos, no entanto só podem dizer uma coisa: rompemos com o prefeito porque ele não nos deu tudo o que pedimos.
Para finalizar, uma lembrança ao Dr. André: não se aborreça. Lembre-se que o inimigo nunca trai.
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