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As Ruas Cobram – texto de final de ano

 

16361162Por Fábio Emecê

Luiz Carlos Ruas, vulgo Índio, foi espancado até a morte por dois Carecas – extrema direita de São Paulo, no Metrô, em horário de movimento, por defender um transexual de ser espancado até a morte.

O Metrô tem transeuntes, seguranças e Ruas foi assassinado sem intervenção de ninguém, aliás, a intervenção foi dele em impedir uma outra pessoa de ser morta. Os assassinos, réus confessos, que a mídia tradicional insiste em dizer que são suspeitos, alegam arrependimento e diante de tudo que aponta o caso, queria enumerar algumas coisas.

 

1-Ruas era preto, que defende a mana trans de um grupo de fascistas, com histórico conhecido e combatido, pelo menos nas ruas, pelo punks e anarquistas, numa guerra silenciosa. Os Carecas espancam pretos, trans, gays e mulheres faz tempo em São Paulo e ninguém faz nada de fato, fora a resistência punk e anarco.

 

2-Ruas morre na frente de pessoas, com poder de intervenção, até porque ele interveio primeiro para que outro não morresse. O grau de omissão e apatia, além da inoperância da segurança do metrô que só age se alguém pular a catraca, mostra que as comoções e heroísmos estão bem condicionados a determinado grupo social.

 

3-Ruas fez na prática o que as teorias e os slogans de movimentos institucionais vociferam por aí. Você que diz que a vida do preto, da trans, do gay, da mulher vale a pena, morreria pelos mesmos? Você que faz parte de alguma fileira desses movimentos, morreria pelo seu par? Ruas morreu e era apenas um ambulante.

 

Tenho dúvidas sinceras que racistas, fascistas, xenófobos, homofóbicos, misóginos e psicopatas vão mudar seus comportamentos, só que para além disso, existem aqueles que lutam, aqueles que se omitem e aqueles que dizem que lutam, mas, na prática, na hora da cobrança, vacilam.

Ruas, vulgo Índio, não vacilou. Alguém que você nunca ouviu falar, alguém que não empunhou nenhum discurso durante o ano, alguém que não lacrou. Um preto, ambulante, alguém que conhecia a dinâmica da rua, da vida Real.

 

Pra mim foi um gesto, um sinal bem nítido que além de qualquer teoria, se não se tiver atitude, nada vai mudar e é por todo meio necessário. Até a vida. Índio poderá ser considerado por alguns, herói, por outros maluco e maioria vai ignorar.

 

Só que os Ruas lutam e os racistas, fascistas, xenófobos, homofóbicos, misóginos e psicopatas estão por aí, convivendo conosco e nos detonando. Qual vai ser a sua ação?

 

Índio no apagar das luzes nos ensina o quanto estamos moles em não assumir nossa responsa. As ruas do Ruas mostram quem é quem e como mostram…

 

 

 

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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