Mal o ano de 2018 começou, e a Região dos Lagos foi brindada com uma notícia nada boa. Não bastasse o caos administrativo provocado pela crise que assola todo o Estado do Rio de Janeiro, a “Costa do do Sol”, convive agora com a realidade de ser uma das regiões mais violentas do Rio de Janeiro, comparada mesmo à baixada Fluminense.
Devo confessar que para mim a matéria publicada recentemente no periódico Extra, não me surpreendeu. Já há algum tempo, tenho me dedicado a estudar a dinâmica da violência nesta região e cheguei à conclusões semelhantes.
Neste texto, vou poupar o leitor de análises mais profundas sobre os números da violência nossa de cada dia, mas voltarei a eles em outras oportunidades.
O senso comum, aquele a que estamos acostumados a lidar todos os dias em nossas vidas cotidianas, também já percebeu há bastante tempo que a “Região dos Lagos” é tudo hoje, menos “tranquila”. Isso é dito pelos moradores que falam saudosos dos tempos em que podiam dormir tranquilos, acreditando que a violência era “coisa de cidade grande”.
Tornou-se quase consenso entre os moradores que “alguma coisa aconteceu”, que a situação no que que se refere à segurança mudou para pior. Os números da violência produzem uma série de racionalizações que possam servir de “explicações”.
A primeira, e mais comum tem sido a narrativa “da invasão bárbara”. Chamo de “invasão bárbara”, o argumento de que a raiz do aumento da violência em nível regional pode ser atribuído a um processo externo à própria região. No caso, este evento externo seria a recente política de segurança adotada principalmente na capital do Estado do Rio de Janeiro. Segundo este modelo explicativo, a Região vem sendo “invadida” pelos bandidos da capital, desalojados de seus locais de origem, desde a implantação das UPP’s na cidade.
Embora pobreza não seja uma causa direta da violência, desigualdade, falta de políticas públicas e um mercado de trabalho de baixa qualidade aumentam e muito, a probabilidade do aumento da violência.
Não custa lembrar que não é apenas o cidadão comum que abraça esta tese, mas até os poderes públicos locais e os agentes de segurança. Embora seja possível atribuir certa veracidade a este argumento, isso não significa que ele esteja correto. A meu ver, o erro deste raciocínio reside na suposição (errônea) de que na região não existem condições capazes de produzir níveis altos de violência, independente dos efeitos produzidos pelas UPP’s. Ou seja, creio firmemente que existem diversos fatores que são tão responsáveis pelo aumento desta violência, quanto uma suposta “migração” da violência da capital para o interior.
Há 30 anos atrás, o processo de interiorização da violência iniciou-se em todo o Brasil, e não apenas no Rio de Janeiro. Antes, a violência era apenas uma “coisa de cidade grande”, mas isto não existe mais. Na verdade, pode-se mesmo dizer que as cidades grandes estão com índices de homicídios até menores do que muitas cidades interioranas.
Atribuir apenas às grandes cidades a responsabilidade pela escalada da violência é na verdade uma posição cômoda, pois desvia a atenção do público geral dos problemas reais que são os grandes geradores de violência. Embora pobreza não seja uma causa direta da violência, desigualdade, falta de políticas públicas e um mercado de trabalho de baixa qualidade aumentam e muito, a probabilidade do aumento da violência.
Desde que vim morar nesta região me chama a atenção a maneira como os moradores locais criaram este tipo de narrativa como uma maneira de não enfrentarem de cara problemas sérios que esta região possui.
Mesmo com o aporte milionário de recursos oriundos dos royalties do petróleo, pouco ou quase nada foi feito no sentido de diminuir o impacto da desigualdade na região.
As pessoas não vão deixar de morrer se continuarmos a colocarmos a cabeça no buraco de areia, esperando a tempestade passar.
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