O Geoparque Aspirante Costões e Lagunas do Rio de Janeiro, que abrange faixas litorâneas de 13 municípios da Costa do Sol e de três da Costa Doce, pode receber o título de Geoparque Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Na última semana, de segunda (22) a sexta-feira (26), dois geólogos da Unesco estiveram visitando os municípios para conhecer os territórios. Os avaliadores Artur Sá, de Portugal, e Miguel Cruz, do México, analisaram as condições que podem conceder o título ao conjunto de atrativos naturais e culturais da região. O resultado final será divulgado após Assembleia Geral da UNESCO, em data a ser definida.
“Ao longo da semana, apresentamos aos avaliadores a nossa região, nossa gente, nossas riquezas culturais e naturais. Foi um momento histórico. Essa visita, por si só, joga luz sobre a importância do nosso território para a história, além de trazer outra perspectiva para o turismo e o meio ambiente na região. Torcemos agora pelo selo da Unesco, de prestígio internacional, que valoriza as boas práticas de gestão territorial, reconhece o patrimônio existente e promove o desenvolvimento local”, comenta Marco Navega, presidente do Condetur, entidade coordenadora da visita.
O conselho gestor do geoparque enviou um dossiê à Unesco, em novembro do ano passado, solicitando a inscrição para receber o selo. Em março, a organização divulgou a lista anual com 18 locais, de 15 países, que seriam avaliados pelos técnicos do órgão. Entre as candidaturas estava o Brasil, com o Costões e Lagunas.
A região que foi avaliada na última semana tem ainda sítios históricos que testemunharam o Descobrimento do Brasil, as primeiras povoações brasileiras, a exploração do pau-brasil, a invasão francesa em Cabo Frio e o Caminho dos Jesuítas. Na região foi registrada a passagem de naturalistas como Charles Darwin, príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied e Saint-Hilaire.
Para se tornar um Geoparque Mundial da Unesco, a área deve cumprir quatro requisitos fundamentais: ser um patrimônio geológico de valor internacional, com sítios arqueológicos avaliados por pesquisadores; ter gerenciamento que inclua todos os atores, autoridades locais e regionais relevantes; realizar trabalho em rede, com outros geoparques; e ter visibilidade, com uma identidade corporativa e turismo voltado para as paisagens, a conservação, as pessoas e à evolução da Terra. De acordo com Navega, “é preciso que, ao menos 70% do material do dossiê enviado à Unesco esteja de acordo com o que foi apresentado aos avaliadores para passarmos na avaliação da Assembleia Geral”.
“Temos uma história muito antiga, geológica, de mais de dois bilhões de anos, da colisão e da separação com o território da África, em que um pedaço do continente africano ficou colado no nosso território. Temos aqui estruturas como os estromatólitos, que são bioconstruções de pedra, feitas por micro-organismos a partir de seu metabolismo. São as mais antigas evidências de vida na Terra, que estão no sistema lagunar de Araruama e na Lagoa Salgada, entre Campos dos Goytacazes e São João da Barra. Vem gente do mundo inteiro estudar aqui. É motivo de orgulho para a população do Rio”, explica a geóloga Kátia Mansur, que orienta os estudos na região.
O Geoparque Costões e Lagunas surgiu em 2011 para conservar vestígios arqueológicos e sítios de interesse histórico e cultural em 460 quilômetros de litoral, de norte a leste do estado. A região vai de Maricá a São Francisco de Itabapoana, passando por Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Campos dos Goytacazes, Carapebus, Casimiro de Abreu, Iguaba Grande, Macaé, Maricá, Quissamã, Rio das Ostras, São João da Barra, São Pedro da Aldeia e Saquarema. A gestão é feita por um comitê, com representantes dos municípios, de órgãos públicos estaduais e federais e de ONGs, universidades, empresários de vários ramos e da população em geral.