Médico bem-sucedido, André Granado afirma ter encontrado na política uma extensão de seu compromisso com o serviço à comunidade. Em uma entrevista franca, ele revela as dificuldades enfrentadas durante seu mandato como prefeito de Búzios, aponta falhas na administração pública e discute seu possível retorno à arena política, em um contexto marcado por desafios econômicos, políticos e sociais. Nesta entrevista franca, André Granado revela não apenas os desafios enfrentados durante seu mandato como prefeito, mas também sua visão sobre o presente com duas eleições municipais em apenas um ano, o futuro político de Búzios e os caminhos possíveis para superar as adversidades.
Prensa de Babel: Sendo um médico bem-sucedido, por que entrou na política?
André Granado: Sou médico por formação, ingressei na política motivado pelo desejo de servir à comunidade. É a essência de ser médico, a minha trajetória, marcada pela atuação filantrópica da minha família, me levou a buscar formas de contribuir ainda mais para o bem-estar dos cidadãos de Búzios.
Prensa: Eleito prefeito, quais foram os principais desafios na administração municipal?
Granado: Ao assumir a prefeitura, me deparei com uma série de desafios, um deles falta de apoio da população quando ataquei diretamente questões estruturais como o ordenamento urbano, o trânsito e a limpeza pública. Tive dificuldades de implementar medidas necessárias em meio à resistência de alguns setores da sociedade.
Prensa: Pode explicar melhor quais foram essas dificuldades?
Granado: Em resposta a essa pergunta é preciso reconhecer que é evidente que existe uma ideia difundida na cidade, em todas as esferas, de que a Prefeitura deve se adaptar às necessidades individuais de cada cidadão, em vez de impor medidas que beneficiem o coletivo. Essa peculiaridade da cidade foi algo com o qual eu não estava preparado para lidar. Muitas pessoas expressam desejar o bem da cidade, mas mostram resistência em ceder em determinadas questões. A falta de apoio se reflete em diversos aspectos, como o trânsito, a organização das praias e até mesmo em questões simples como o cumprimento das regras, como a proibição de vidro nas praias. É necessário que a prefeitura fiscalize essas questões de forma mais efetiva, mas também é importante que a sociedade se envolva e apoie as iniciativas municipais. Infelizmente, alguns segmentos agem de forma hipócrita, fazendo média sem um real compromisso com a melhoria da cidade. É preciso um esforço conjunto para resolver esses problemas e elevar Búzios a um padrão de cidade de destaque mundial.
Prensa: Pode se dizer então, que saúde e infraestrutura foram a prioridades dos seus mandatos?
Granado: A saúde e a infraestrutura urbana são áreas fundamentais que demandaram minha atenção especial. O que fiz foi democratizar o acesso aos serviços de saúde e a realização de obras de infraestrutura que promoveram a qualidade de vida dos cidadãos. Criei um cinturão de 100% de cobertura na saúde básica de Búzios, com novas Unidades Básicas de Saúde, policlínica na Rasa, Clinica da Saúde da Família. E ainda enfrentei meia dúzia de pessoas, que usaram o Ministério Público contra mim, que eram contra a construção de uma Unidade Básica de Saúde (UBS).
Prensa: Qual foi essa UBS?
Granado: Antes da resposta à pergunta, é crucial compreender qual era a essência de nossa proposta em plano geral: dignidade. Nos casos específicos das UBS e outras unidades de saúde, buscamos proporcionar um ambiente limpo, amplo e organizado, onde os cidadãos pudessem ter acesso rápido e eficiente aos serviços de saúde. Agora respondendo a pergunta, enfrentamos desafios significativos, como o período de dois anos de espera devido a entraves burocráticos, para transformar um terreno abandonado em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) em Geribá, integrada ao ambiente urbano, com uma praça humanizada e uma vista privilegiada para a lagoa. No entanto, enfrentamos obstáculos como o denuncismo, onde algumas pessoas utilizam o Ministério Público para travar o andamento de iniciativas governamentais. É importante questionar se um posto de saúde é menos importante que uma praça, quando na verdade a UBS democratiza o acesso à saúde, evitando que os cidadãos tenham que gastar tempo e dinheiro para buscar atendimento em outras localidades. Hoje uma pessoa para sair da Rasa para ir marcar uma consulta na Policlínica de Manguinhos quanto custa em tempo e dinheiro? Criamos a Policlínica da Rasa, Clínica da Família, Centro de Fisioterapia, tudo na Rasa. E ainda falando de infraestrutura, desapropriamos a Bem-te-vi e fizemos aquela praça que hoje é o coração do bairro, fizemos uma um cineteatro…
Prensa: Quais foram as fraquezas do seu governo? Pode falar sobre isso?
Granado: Posso sim. Durante meu mandato enfrentei uma crise econômica e política sem precedentes no pais, de 2015 a 2017, que impactou diretamente a administração municipal. Foram obstáculos enfrentados para equilibrar as contas públicas e superar as adversidades políticas. É verdade que no início enfrentamos desafios financeiros significativos.
Prensa: Quais?
Granado: Inicialmente, tínhamos uma receita de royalties considerável, mas ela diminuiu para menos da metade. Além disso, houve reduções nos repasses e nos fundos de participação federal, bem como uma diminuição no ICMS. Lidamos com essas dificuldades da melhor maneira possível.
Prensa: Mas também teve questões judiciais, não?
Granado: Sim, mas também questões políticas. No meu segundo mandato, enfrentei um pedido de impeachment em apenas quatro meses. Teve também o processo que surgiu devido à questão dos concursados, dos quais eu deveria ter chamado 100%, mas não pude devido à falta de vagas. O entendimento do judiciário sobre o assunto foi equivocado. No caso específico do primeiro concurso, o candidato já estava de licença prêmio e havia outro ocupando sua posição. Foi uma decisão política do gestor anterior a mim convocar o concurso inteiro antes mesmo de eu assumir. Outro ponto de controvérsia o processo seletivo para a Educação. Recebi críticas como se estivesse criando um cabide de emprego, mas na verdade era um processo seletivo legítimo. Vale ressaltar que esse foi um período de transição, em que o judiciário estava passando por uma digitalização, o que impactou na gestão dos processos físicos, o que me prejudicou para apresentar nossa defesa. Mas, diante desses desafios, busquei sempre agir dentro dos parâmetros legais e administrativos, enfrentando as dificuldades com transparência e responsabilidade.
Prensa: Não acha que houve alguns erros de comunicação direta com à população?
Granado: Sim, eu me comuniquei mal. Acreditava que ao oferecer espaços públicos revitalizados, como praças, unidades básicas de saúde (UBS) e ruas calçadas, estaríamos atendendo às necessidades visíveis da comunidade, e então isso seria entendido diretamente. No entanto, percebi que a comunicação é fundamental.
Prensa: Voltado lá ao tema do que te prejudicou durante o mandato, teve pessoas envolvias também, não é? Isso te abalou? Pode voltar a ter uma relação com elas?
Granado: Não me abalou e não me abala, pois nunca foram verdadeiros aliados, e não desejo manter contato com eles.
Prensa: E esse período afastado, como está sendo?
Granado: Ao longo do período em que estive afastado da política, concentrei meus esforços em cuidar de minha vida pessoal e profissional. Como médico, tive que dedicar tempo à minha empresa e à minha família. Ser prefeito implicou em prejuízos financeiros e emocionais, mas sempre mantive o compromisso de continuar prestando serviços à comunidade.
Prensa: E qual o futuro político de André Granado?
Granado: Apesar dos percalços enfrentados, não descarto um retorno à política. No entanto, ressalto a importância do apoio da comunidade e a necessidade de uma mudança de mentalidade para enfrentar os desafios que ainda estão por vir. Reforçando: quando questionado sobre meus planos políticos futuros, é importante esclarecer que minha intenção está inteiramente voltada para o apoio à comunidade, não em termos financeiros ou políticos. Isso principalmente no que diz respeito ao ordenamento e ao atendimento das demandas das pessoas. Tenho convicção de que muitas das questões que afligem nossa cidade podem ser resolvidas de forma rápida e eficiente, como o ordenamento, algo que posso resolver em um dia, sem qualquer pretensão de arrogância.
Prensa: O que exatamente quer dizer com ‘vai depender do apoio da comunidade’?
Granado: A comunidade como um todo tem que querer a mudança de verdade. Vou te dar um exemplo: é injusto que aqueles que exploram nossa praia não contribuam para sua limpeza e manutenção da mesma não é verdade? Durante meu mandato, solicitei que cada ambulante cuidasse do seu espaço, e tive resistência. Qualquer retorno à política exigirá um apoio significativo da comunidade, pois almejo implementar mudanças que afetarão a todos, e isso requer um esforço conjunto.
Prensa: Para fechar então, inevitavelmente, temos uma eleição à vista, com campanhas em curso, polarizada. Apenas dois candidatos. Quem André Granado apoia nesse momento?
Granado: João é um indivíduo mais preparado hoje, com vasta experiência e um profundo desejo de servir à comunidade. Sua trajetória política, iniciada como vereador e culminando em cargos de grande relevância, como presidente da Câmara, secretário municipal e estadual, reflete seu comprometimento com o serviço público e sua capacidade de liderança. Quando discutimos o papel de João na política local, é essencial entender sua evolução e seu compromisso com o desenvolvimento da cidade.
Prensa: Mas João decidiu por vir como vice de Rafael Aguiar, ainda assim seu apoio é a João?
Granado: É importante destacar que as decisões de João foram moldadas pelo contexto político e pelas necessidades da cidade. Sua participação em um grupo político com um projeto regional mais amplo demonstra seu compromisso com o desenvolvimento não apenas de Búzios, mas de toda a região. João não é um oportunista; ele já possui espaço consolidado no estado e sua dedicação à cidade é impulsionada por um genuíno desejo de realizar um sonho e contribuir para o progresso local. Búzios enfrenta desafios significativos, incluindo dívidas e contratos que não podem ser cumpridos. Neste contexto, é fundamental que tenhamos líderes como João, que possuam a visão, a experiência e o comprometimento necessários para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades em benefício de toda a comunidade.
.