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O governo federal começa a dar sinais de que pode adiar o calendário do ENEM. Na semana passada o Presidente Jair Bolsonaro, depois de resistir muito, sentou-se com o Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para, digamos, ajustar os ponteiros. Não custa lembrar que Bolsonaro vinha participando de manifestações em que o alvo dos protestos era justamente Maia, além dos ministros do STF. O mito, com um sorriso atravessado, teve que ouvir do deputado federal o pedido para que adiasse as provas do Exame Nacional, marcadas para novembro. Ontem (segunda, 18/05) o ministro Luiz Carlos Ramos, da Secretaria de Governo, disse a Maia que o governo já está estudando a mudança. Resta saber como se comportará o chefe da pasta da Educação, o destemperado Abraham Weintraub, defensor ferrenho das provas em novembro. Aceitará a alteração determinada por seu chefe, ou fará como Sérgio Moro, pedindo a demissão?

A insistência das provas do ENEM em novembro é um sinal de insensibilidade extrema diante das desigualdades de condições dos alunos brasileiros. A escola pública vem tentando se adequar à difícil realidade de adotar o ensino remoto – o que vem sendo feito não é Educação à Distância, é bom enfatizar – para diminuir os prejuízos impostos aos seus alunos, mas a tarefa tem sido árdua. Cerca de 43% dos estudantes não têm internet em casa, nem computador. Acreditar que um jovem, na terceira série do ensino médio, conseguirá estudar doze, treze matérias pelo celular, fazer exercícios, enviar  para o professor, assistir aulas no Google meet, etc, beira a crueldade. 

A UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) tem se mobilizado nas redes sociais, pressionando pelo adiamento. O movimento deu certo e várias escolas e grêmios estudantis também aderiram. No Congresso, até o (ops!) deputado federal Alexandre Frota se colocou ao lado dos estudantes e apresentou um projeto pela mudança nas datas. A tendência é Weintraub se isolar se insistir na manutenção do calendário. Como ele já deu mostras de que sabe agradar seu chefe, bastará um sinal de Bolsonaro e as provas mudarão de dia. 

A pandemia de covid-19 serviu para escancarar muitas das nossas deficiências enquanto nação. Um sistema de saúde sucateado, sem material para os enfermeiros e técnicos trabalharem (profissionais tendo que levar suas próprias máscaras e luvas, por exemplo), mostra o quanto vamos mal das pernas. E se o drama da Educação não é menos impactante, penso que para os alunos do Ensino Médio – os da última série, os concluintes – este período trará prejuízos que são irreparáveis. Qualquer aluno de outra série ou segmento poderá recuperar o tempo perdido estudando mais horas neste ou nos próximos anos. Mas a juventude dos “terceirões”, que em geral começa o ano pensando na festa de formatura e nas provas do ENEM, está tendo um sonho adiado e, mesmo com a mudança nas datas das provas, estas serão feitas ainda sob os efeitos de todos os acontecimentos dos últimos meses. Que pode incluir a morte de um ente querido motivada pela pandemia… Portanto, faz-se de extrema importância que as direções escolares, as secretarias de Educação e os professores, quando retornarem às aulas, tenham um olhar diferenciado para os seus alunos concluintes. Por vários motivos, mas principalmente, por humanidade.  

*PROF. PAULO HENRIQUE

Mestre em Ciências Sociais pela UERJ, professor de Sociologia da Rede Municipal de Macaé, palestrante e ativista de direitos humanos

    

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Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

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