Faleceu hoje aos 91 anos na cidade de Toulon (sul da França), Brigitte Anne-Marie Bardot, mundialmente conhecida apenas como Brigitte Bardot – uma das maiores atrizes da história do cinema mundial. Quem morreu hoje foi uma mulher velha e ranzinza, que durante a juventude enlouquecia os homens e provocava inveja nas mulheres, mas que não sobreviveu ao tempo, como qualquer ser vivo.
Essa Brigitte Bardot que faleceu hoje, já havia morrido para os buzianos após o réveillon de 1965, em sua segunda visita a aldeia quando resolveu antecipar sua partida por causa do assédio dos jornalistas do Brasil e do mundo. Ela se foi, e ficamos com aquela imagem congelada na memória e que pode ser visitada até hoje na orla que lhe presta homenagem.
A diva se foi para nunca mais voltar e ninguém na cidade se interessou mais por ela. O bem já estava feito e não era preciso agradecer por nada. Bardot seguiu sua vida nos holofotes de fama e da glória e a aldeia de pescadores começou a viver da publicidade grátis que ganhou da bela dama. Se Deus criou a mulher, segundo o cineasta Roger Vadim, La Bardot criou Búzios, que era apenas mais e tão somente, uma simples aldeia de pescadores sem nenhum glamour, como tantas no Brasil.
Foi o aval da francesa que atraiu para a aldeia (depois os argentinos tiveram grande importância, mas falaremos disso em outro momento), gente do mundo inteiro e transformou o que era um povoado arcaico e, sem ofensas, primitivo, num dos destinos turísticos mais cosmopolita do litoral brasileiro. Não se enganem: sem essa fama mundial repentina, seriámos uma Arraial do Cabo da vida, que tem natureza mais bela que a nossa, mas não tem uma sociedade tão plural e miscigenada.
Búzios nunca amou, ou sequer se importou com Brigitte Anne-Marie Bardot. A cidade (principalmente os comerciantes) ama o personagem, admira aquela Brigitte Bardot de 30 anos, em plena forma física que de biquini provocou muitos sonhos eróticos nos jovens da cidade. Em troca de tão importante aval, nossa cidade nunca lhe deu nada. Lembro que um dia, durante o governo do prefeito Toninho Branco, quando Búzios tinha um acordo turístico com a cidade francesa de Saint Tropez, alguém teve a maluca ideia de fazer uma cópia da estátua que temos na Orla Bardot e instalar na Place des Lices – a mais famosa de lá.
Brigitte morava na famosa cidade da Riviera francesa, numa chácara de nome Ville La Madrague, onde mantinha uma Fundação de proteção aos animais. Informações da mídia local dizem que a musa se transformou numa pessoa arrogante, com pensamentos de extrema direita e que passou a ofender os seres humanos e adorar os animais.
Foi nessa ocasião que as autoridades buzianas tiveram a infeliz ideia de levar uma estátua de uma pessoa que continuava viva, mas que não mantinha mais nenhum traço da obra feita em bronze pela artista Christina Motta. Ela iria odiar com certeza e por fim e a cabo, a ideia foi abortada.
Meses antes, em entrevista a um jornal francês, Brigitte disse que ficou sabendo das mudanças que sua visita causou naquela velha e simples aldeia brasileira. Ela lamentou o fato de que Búzios, outrora com suas ruas de terra tenha se transformado numa cidade com todos os problemas sociais que outras cidades pobres do mundo e perdido suas características. De fato, assim como La Bardot, Búzios envelheceu e mudou. Nossa cidade ficou velha, feia e de extrema direita. Na última eleição, por exemplo, o nazifascista Jair Bolsonaro recebeu quase 70% dos votos dos buzianos.
Apesar do bilhões dos royalties, somos hoje uma cidade pobre com violência em alta, praias desordenadas quando não poluídas, trânsito caótico e comércio à beira da falência. Nossas riquezas foram tão mal distribuídas que nem sequer criamos uma elite financeira. Somos uma cidade de PIB alto, mas de renda per capita baixa.
A senhora Brigitte morreu hoje, e merecia que a data fosse aqui, oficializada como feriado municipal.
A Búzios da Brigitte morreu faz tempo e vive de um passado que não volta mais.



