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A saga de um preventivo em Búzios, seis anos depois

O artigo que escrevi para o jornal ‘O Perú Molhado’ em 2015 continua bastante pertinente e atual

Em 2015 eu era uma jornalista no início da carreira, e tive a oportunidade de escrever para o maior jornal do mundo (segundo o próprio jornal, o Guiness Book e os cachaceiros da Praça Santos Dumont), o saudoso e extinto ‘O Perú Molhado’. Estávamos às vésperas das eleições municipais que culminariam em um segundo mandato do prefeito André Granado. Escrevi um artigo contando a saga que uma mulher na minha faixa etária tinha que percorrer para conseguir realizar o exame preventivo de câncer de colo de útero, no sistema de saúde em Búzios.

Reprodução da matéria publicada no Jornal ‘O Perú Molhado’ no ano de 2015

O relato pode ser visitado nesse link e recomendo que seja lido antes de seguir por aqui.

Caso você, leitor, não tenha sido preguiçoso, poderá constatar a seguir que muito pouco mudou desde então. A não ser, o fato de que há um novo governo e que já se passaram seis anos desde a publicação do texto.  Preciso dessa introdução, quase nariz de cera, para explicar o que tem sido bastante óbvio nos últimos anos: governantes se alternam sem que mudanças reais aconteçam.

Destaco aqui, que em maio de 2021, não há marcação para atendimentos ginecológicos em Búzios. É o que relatam muitas mulheres nas redes sociais e no meu WhatsApp pessoal, todos os dias. E, constatado por mim, em uma visita no início do mês, à UBS (Unidade Básica de Saúde), recém-inaugurada em Geribá. 

Lembro bem que à época do primeiro artigo, o prefeito questionou o texto e pediu ao editor do jornal (Marcelo Lartigue), que oferecesse o mesmo espaço à médica responsável pelos atendimentos em saúde no município, para apontar a versão do governo municipal sobre a pauta. A matéria em resposta nunca saiu, não porque o editor não tenha dado espaço, isso jamais aconteceria, ainda mais sendo um pedido do prefeito. O fato é que não havia resposta. Como ainda hoje não há.

Afirmo isso, com o relato de algumas moradoras com quem fiz contato, que contam o drama que é precisar de atendimento em Búzios. As identidades foram preservadas.

“A última vez que tentei marcar foi semana passada, na Policlinica, moro na esquina, e de repente agora só posso marcar na unidade de saúde da Aldeia de Geribá… a nova. Aqui (na Policlínica) não fazem mais marcações. Só atendimento e retorno. Mais um empecilho, porque estou indo há mais de 3 meses para marcar”.

“Eu marquei ginecologista, e quando vou na consulta a enfermeira não preguntou nada só me dirigiu ao consultório e fez a coleta (do exame preventivo de colo de útero). Eu perguntei quando poderia ser tendida pelo ginecologista porque não estou me sentindo bem e tenho família com histórico de câncer de mama e para mim e muito importante fazer os exames de mamografia e demais preventivos. Ela meu falo que não tem ginecologista. Tenho 44 anos. ”

“Estou com um mês e 15 dias de cesárea e ainda não marcaram minha consulta de retorno. Fui até a Clínica da Família Olavo da Costa, em Vila Verde, mas lá não tem ginecologista. Precisava passar pelo especialista para poder começar a tomar remédio e marcar minha laqueadura. Minha filha nasceu antes da data marcada, de 39 semanas e eu só iria operar se ela fosse até 42 semanas. ”

Sobre os relatos questionamos a Prefeitura de Búzios e aguardamos posicionamento.

A saga, você leitora, moradora de Búzios, já conhece, e não precisa ser atualizada em 2021 e é por isso que não vou detalhar o atendimento em saúde e bem-estar da mulher na cidade. Vou aproveitar apenas para provocar a reflexão, sobre a necessidade de tantas secretarias, coordenadorias e superintendências destinadas a esse público, quando de fato, o básico, atendimento ginecológico, como forma de evitar o câncer, ocorre de forma tão precária.

O menos quase sempre é mais.

E tenho certeza, para finalizar, que se a atual gestão entregasse esse básico, já estaria fazendo muito mais do que nos últimos oito anos.

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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