Já me senti cansada de tanto ser resistência, já me sinto culpada pelo cansaço.
Eu já pensei que era minha obrigação resistir sem ter dias frágeis, sensíveis ou difíceis, que seja, não entendia porque na mesma intensidade que eu queria fazer parte da resistência, me via cansada de ser a mesma.
E no período eleitoral, eu me peguei fragilizada, por coisas que eu não podia controlar, percebendo que em 21 anos, não teve um dia que não fosse de luta.
Muitas contra mim mesma.
O entendimento sobre o que a gente representa, sobre a história por trás de nós, nos apresenta um isolamento cortante, quando você constrói seu amor-próprio, e muitas vezes com esse amor precisa suprir a falta de outros, quando você precisa ter certeza da sua beleza, inteligência e carisma, para que ninguém, mesmo que tente, não consiga te diminuir.
Isso é cansativo, e tem que ser, são mulheres, que estão longe de um padrão estético, tendo que construir certezas, muitas vezes em famílias e ambientes incertos e inconstantes. Construir coisas que podem ser destruídos com uma fala.
Não tem como escolher quais lutas encarar, quando estamos sendo alvo de todas e muitas vezes mortas por muitas, a nossa resistência é questão de segurança, vida ou morte, já que ser uma mulher preta dobra o risco de sofrermos violência no Brasil.
Afinal se pudéssemos escolher, viveríamos uma utopia, já que não merecemos nada menos.
E talvez, entender o cansaço seja também parte do desenvolvimento, nosso e de um coletivo.
Cansaço sobre as opiniões que pregão o nosso clareamento, que opinaram por muito tempo no nosso cabelo, na cor do nosso batom, que de forma geral colocaram nosso corpo na posição de cobiça.
A última que nos cansa é a militância, pois resistência já somos, teremos agora que ser o dobro, para mostrar que mulher preta não tem que ser corpuda, que somos pessoas antes de mulatas, somos corpos antes de peito e bunda; isso vai ser decisivo nos próximos quatro anos.
Talytha Lopes é Mulher preta, poeta e integrante do Coletivo Ônix