Próximo ao dia dos professores, peço aos alunos para escreverem uma carta endereçada a uma professora/professor na qual eles tem empatia. A ideia é usar a Língua Portuguesa como lugar do dialogismo real, em que o respeito e admiração fazem parte do ser cidadão.
Eu recebo algumas cartas e alguns destaques. No olhar deles sou atencioso, compreensivo, humilde e paciente. É interessante fazê-los exercitar o olhar sobre o outro, fazer os alunos realmente pensarem quem está na frente deles e o que se está proposto a apresentar.
O olhar é relativo, óbvio, mas coloco em questão, é a nossa relevância enquanto professor, na sociedade presente. E relevância engloba caminhos, decisões e comprometimentos, tanto do professor e do aluno, a partir do contato com o professor.
A sociedade presente apresenta um discurso ambíguo. Não há uma certeza sobre o que vale o professor hoje. E isso é perigoso. Somos privilegiados, somos vagabundos, somos doutrinadores, principalmente, de ideias que vão contra a família, a propriedade e os valores morais. Ok, uns acreditam que somos importantes, desde que aceitemos as condições nas quais são colocadas para trabalharmos.
Trabalho numa escola, cuja essência é conservadora. Implicitamente a família, a propriedade e os valores morais estão alocados na instituição. E diante desse fato, a maioria dos alunos foi simpatizante do candidato a presidente com ideias autoritárias e sem nenhuma empatia pela diversidade ou emancipação humana.
Vivo num lastro territorial em que votação para o mesmo candidato chegou a 70% e aí me pergunto, que doutrinação seria essa? O candidato com viés autoritário tem enormes chances de ganhar, sendo que muitos deputados e senadores, apoiadores do candidato e suas ideias, foram eleitos e pasmem, os votantes, passaram pela escola, por nós, professores.
E aí vem aquelas verdades que as pessoas preferem ignorar, por conta da conveniência. Professores que dentro da sua prática pedagógica, se preocupam com a formação cidadã e a emancipação humana são minoria e muitos se sentem frustrados por não ter êxito real naquilo se propõe a praticar. Imagina, 30 anos de constituição, de educação pública universal, se tivéssemos tido êxito em alguma geração dessas, existiria um candidato a qualquer cargo público com viés autoritário e anti-humano?
Querem uma escola sem partido, já sugeriram uma sociedade sem escolas e pelo andar da carruagem, querem um mundo sem professores. Queimar documentos, livros e artefatos que de alguma maneira poderiam atrapalhar um projeto de poder de um grupo, sempre foi uma estratégia usada e aliás, sempre funcional
Estamos naquela coisa de chegar ao ponto da sociedade decidir o que fazer com os professores: queimar, jogar num buraco, exterminar, invalidar? Já somos relativos na sociedade, será que terá algum tipo de comoção se nos tornamos inexistentes?
Enfim, reflexões como essa ainda tem vez e pergunto a quem lê o texto, qual é a relevância do magistério nos nossos dias?