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Estranho começar com essa frase né? Percebo nesses meios de manifestações, que a coisa mais capaz de nos causar indignação, é a violência, mas só quando ela já está nos atingindo, fora isso, somos indiferentes.

Na madrugada do último dia 09/03, vieram a público mais de 20 relatos de abuso, importunação sexual, e estupro, por meio do Twitter. Foi criada uma página para tratar disso e rolou uma comoção por meio da galera jovem de Cabo Frio, uma galera que tá tão anestesiada, que eu não via se movimentar a muito tempo. Aconteceu uma perseguição aos caras acusados, uma represália ao comportamento, de boa parte da galera, o que hoje, dia 15, já não é tão grande assim.

No último dia 13, na manifestação em apoio a essas meninas, e contra esse comportamento recorrente do esquecimento, vi meninas lá que realmente se colocaram para uma mudança, que estenderam as mãos a outras mulheres.

Em Cabo Frio, via ainda nitidamente uma “competição feminina”. Apesar de saber os grupos dispostos a não reproduzir isso, algumas muitas meninas ainda faziam, por instinto mesmo, reprodução e nada mais.

E lá estávamos nós, todos os grupos, conversando, chorando, gritando juntas, cantando, tendo trocas, que de alguma forma me fizeram muito bem. Das meninas mais populares na cidade, as mais tímidas, TODAS se comunicavam naquele espaço, que parecia um local tão utópico que eu tive medo de sair.

E essa sensação de amor feminino passar, a violência que nos colocou ali, que nos movimentou até ali, não foi capaz de nos modificar, éramos ainda mulheres, amigáveis, sorridentes, empáticas, movimentadas através da violência, movimentando sem violência nenhuma.

Grandeza de jovens, adolescentes em sua maioria, apoiadas por mulheres mais experientes, e ainda assim, parecíamos uma, um corpo disposto a mudar o curso da história.

E quando eu saí daquele dia, eu vi que alguma coisa estava diferente, mulheres com uma ligação invisível, forte o suficiente para MUDAR COMPORTAMENTOS. Existiu uma paz pairando nas nossas falas. É como a violência nos movimentou, nos mostrando outras mulheres e nos unindo de forma que se torne proteção, respeito e admiração a todas aquelas que gritaram comigo. Paciência para todas que ainda tem medo, mas a escrita da história está agora em mãos femininas.

Os homens podem ter se esquecido das denúncias, as mulheres não. Ver isso tão claramente, me mostra que o sexo frágil é o que esquece a dor primeiro, o que protege o amigo, faz tweet em apoio, mas na hora da luta na rua some. Esquecimento tá vindo da parte de homens, mas nós TODAS estaremos aqui pra lembrar que se mexer com uma, vai mexer com TODAS.

 

*Talytha Selezia é poeta, mulher preta e integrante do Coletivo Ónix

Noticiário das Caravelas

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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