O Dia Internacional da Mulher tem mudado ao longo dos últimos anos. Tivemos alguns poucos avanços na superfície, com o aumento das discussões e a reflexão das mulheres de luta sendo pelo menos ouvidas, ainda que com muita má vontade.
Nas redes sociais, aquelas artes cafonas com rosas ou enaltecendo como somos guerreiras diminuíram muito. Os políticos em campanha e empresários adoram esses clichês. Sorte dos que tem mulheres em suas equipes para barrar esse tipo de “homenagem”. Na vida real, no entanto, ainda é bastante comum os presentes para a manutenção da casa, reforçando o estereótipo de que é da mulher a responsabilidade de manter a ordem do lar. Ou aquele almoção maneiro em família, preparado pela mulher.
Falando de direitos, é dia de luta! E luta é um verbo amplo, pode ocorrer em diversos espaços, de maneiras diferente. Nenhuma é maior ou menor que a outra. Cada uma de nós precisa apenas encontrar seu espaço e ser acolhida pelas demais exercendo a sororidade. Um conceito que precisa estar incorporado no dia a dia.
No meu caso, lutei durante 1 ano e meio pelo viés partidário, como presidente do PSol em Búzios e uma das coordenadoras do setorial de mulheres do partido na Região dos Lagos. Tenho a felicidade e alegria de ter guardado experiências maravilhosas nessa caminhada frutífera e que abriu um caminho para que outras mulheres pudessem dar continuidade à essa história. E não vou aliviar a barra dos machistas que contribuíram para que eu optasse por deixar o partido. Vi, ouvi e li coisas que jamais imaginaria encontrar num meio progressista. Sim, existe a invisibilização, o controle, a tentativa de silenciar, de descredibilizar, de adjetivar com o clássico – ‘ela é louca’. Mas, como tudo em minha vida, eles passarão, eu passarinho.
Hoje, me entendo em outro caminho, lutando em outras locais, exercendo minha profissão, como jornalista, na Prensa de Babel, com a minha coluna, nas lutas internas, nas discussões em locais onde posso ver as mudanças acontecerem, sem a espetacularização. Essa, eu devo ao meu ‘cumpadi’ Fábio Emecê, que me disse, agora é o fim do espetáculo, agora é luta de verdade, para transformar, e nem que seja no micro, promover mudanças. Foi o melhor conselho.
Na última semana fiz questão de marcar meu corpo, com uma tatuadora, na casa de duas amigas que amo, com a frase da drag queen mais poderosa do mundo, Ru Paul, com quem tenho aprendido muito, mais do que em formações infinitas, que não produzem mudanças. Ele disse a uma das queens: – Não permita que seu sabotador interno te impeça de ser tudo o que você nasceu para ser – “Remeber who you are”.
Essa marca me lembra todos os dias que não é o lugar onde estou que define quem sou. Ainda que esteja numa jaula, ou em campo aberto, o que eu preciso saber é quem sou. Isso define todos os limites. E me ajuda a perceber que ao meu redor, o mundo de privilégios do patriarcado nos faz ter de correr muito, enquanto eles caminham, tranquilamente, realizando uma tarefa de cada vez, enquanto cumprimos, três, quatro, cinco ao mesmo tempo.
Dito isso, quero reforçar que esse é o quinto país que mais mata mulheres, pela violência contabilizada nas estatísticas. E mata mais, diariamente, roubando sonhos, retirando oportunidades e nos fazendo crer que a competição é entre nós. Nunca na vida foi tão importante entender, que uma sobe e puxa a outra. E se você está no topo, alguém te deu a mão, ou se você está subindo, terá alguém para te puxar. Obrigada a todas que lutaram antes de nós. Obrigada pela liberdade que temos hoje. Obrigada.
E preciso finalizar, lembrando de Cláudia e Marielle. A primeira arrastada pela polícia depois de ser assassinada. A plena representação do que é a mulher no patriarcado. A segunda, ousou levantar-se contra os que se acham donos do poder, da política e de cargos. Morta por representar a mudança, morta porque não permitiu que a interrompessem. Dois assassinatos sem solução. Como tantos outros que ocorrem diariamente. Somos o legado e a continuação dessas mulheres.
Feliz dia de luta para todas nós!