3×0. Sentado na arquibancada eu assistia a comemoração da torcida adversária. Presenciava, em tempo real, de camarote, o rebuliço estrondoso de braços coreografados e mãos estalando em palmas. Ouvia com nitidez o grito alheio e agressivo que insultava as cores que eu vestia. Faziam vibrar o espetáculo com uma fúria selvagem que decapitava a mais corpulenta esperança. Ao meu redor um mar de torcedores quietos e frágeis; incapazes de um único grito que encorajasse seu time. Perguntavam o tempo: Quanto falta? Queriam o fim do açoite. A festa tinha outras cores. Neste instante esquecera a camisa. Importava-me a beleza da algazarra. Em campo meu time trôpego e desorientado era mais ofensivo a si mesmo que o próprio adversário. Um passe errado. Um contra-ataque veloz. O atacante e o goleiro. O quarto gol. Uma onda gigante nascia do lado oposto e vinha barulhenta, linda e destruidora. Parecia que saltaria por sobre o campo e nos esmagaria. Os corpos recuavam ligeiramente e sentiam o peso dos berros que nos aniquilava e expulsava do estádio. Levantei. 46 do segundo tempo. Podia ir, estava acabado. Mas antes, olhei para o outro lado das arquibancadas e resolvi sentar novamente. Sim, a festa deles merecia ser vista.
*Rafael Alvarenga é professor de Filosofia e apaixonado por esportes