Búzios se vê diante de uma encruzilhada preocupante, onde há uma apatia política que cresceu muito nesses últimos anos e ameaça agora comprometer a essência da democracia. Uma apatia que irá transformar a cidade em deserto de uma participação política popular, por estar sendo dominada por grupos políticos cristalizados para disputas do processo eleitoral.
Na eleição de 2020, dos 30.600 eleitores cadastrados apenas 23.140 compareceram às urnas, sendo apurados então 21.754 votos válidos, o que é preocupante e potencializado por um recorde: a abstenção de 7.460 eleitores (24,38%).
Esses eleitores apáticos, são agora uma importante parcela da população a ser considerada nas disputas eleitorais, além dos 491 votos em branco (2,12%) e 895 que optaram pelo voto nulo (3,87%).
Esses números da eleição de 2020 indicaram também, que a cidade corre um outro risco: A consolidação política que impede surgir personagens novos e de expressiva representação da população atual, que não apresentam mais aquelas mesmas características e recortes dos tempos em que dominaram as eleições após a emancipação.
Muito disso se deve ao intenso fluxo migratório dos últimos 10 anos e ao crescimento exponencial dos moradores locais. Há hoje uma população maior do que se imagina, que os atuais políticos parecem ainda desconhecer, repetindo o uso de fórmulas eleitorais da antiga aldeia. Continuam a agir, sem notar essa população que igualmente desconhece os políticos atuais. Uma realidade que atualmente é incontestável.
José Carlos Alcântara, o diretor do Instituto Informa, que é referência em coleta e análise de dados das pesquisas eleitorais, enfatiza que “a prepotência dos políticos locais parece ignorar que a participação dos 30.600 eleitores cadastrados em 2020 foi inferior a 76%”. E lembra ainda que o quadro se agrava, ao se observar que a abstenção dos eleitores não foi inferior a 20% nas últimas eleições. Sendo uma tendência que se mantém em 2024, para atuais 34.423 eleitores cadastrados.
Reflexos na Disputa pelo Executivo
Um alerta para a disputa que é iminente pela prefeitura, está apoiado nos resultados do último pleito. Com a estreita diferença de 1.454 votos ou 6,68% entre os principais adversários, Alexandre Martins: 9.451 votos (43,44%) e Leandro do Bope: 7.997 votos (36,76%). Uma pequena margem que enfatiza grande importância em se conquistar os apáticos.
O Legislativo
No legislativo, se apresenta um desafio ainda maior: o desconhecimento sobre os vereadores da cidade. A falta de interesse em conhecê-los só coloca em risco a renovação da atual câmara, prejudicando a participação democrática. Candidatos sem mandato que buscam vaga em 2024 enfrentam o desafio de conquistar esses eleitores desinteressados. Espera-se que os atuais vereadores não caiam na armadilha de acreditar que o jogo já está ganho, porque se analisados com atenção os dados apontam que em 2024 o grande número da abstenção pode aumentar, o que coloca ainda mais difícil o alcance de números necessários para que os partidos consigam ter validados os candidatos mais votados de suas nominatas.
O apelo é claro: a participação ativa é agora essencial para evitar que a democracia em Búzios seja silenciada nas urnas. Mas, também apresenta riscos ao perfil competitivo e ao êxito dos que estarão participando da corrida eleitoral.