A economia é uma farsa. A economia é a balança da inviabilidade na eterna busca da crença. Afirmações que já ouvi por aí e por efeitos práticos, fácil de se proferir. Ou não, até porque não se pensa além daquilo do que é chamado de mercantilização das coisas, pessoas e até da respiração.
Num mundo em que se provoca o choro para se vender lenço, a vulnerabilidade é enredo sine qua non das trocas e tentativa de se estabelecer regras num jogo sem árbitro competente. Porque sabemos quem perde, quem é desonesto e quem são os donos das federações do esporte nem sempre preferido, mas obrigatório, que é o viver.
Viver é um risco, mas viver no nosso marco civilizatório se torna insalubre pelo simples fato de que nossas faculdades básicas para vivência e continuidade no Mundo são constantemente negadas com argumentações sobre números, cifras, gastos e mercadorias. Pessoas são meios para juros, dívidas e produtos, com pessoas valoradas a partir daquilo que podem ter acesso, do produto que se pode ter.
Óbvio, com as regras do jogo impostas, nem todos terão acesso a produtos, serviços, água, saneamento, tratamento, possibilidades de continuidade e nada como uma crise epidemiológica para demonstrar o quanto nossas vidas são descartáveis e o modelo de sociedade no qual referendamos, não nos referenda.
Como assim? Ler a informação, interpretar, aferir, buscar fontes, confrontar ideias, ter um posicionamento e uma ação. Um caminho no qual qualquer um deveria ao menos estar capacitado e por isso que temos a ciência, antes de mais nada.
No contexto em que essa habilidade básica foi suprimida para se acreditar que determinados conceitos são invioláveis e quando os mesmos sofrem qualquer tipo de abalo, seria basicamente um plano maligno para se instabilizar as coisas e se ter o controle.
Não há nenhuma reflexão sobre o modelo de sociedade no qual vivemos e de como aceitamos e de como ele se baseia basicamente na descartabilidade de pessoas através do estímulo ou não de habilidades, inclusive a cognitiva. Acreditar que um País criou um vírus para afundar a economia mundial é mais fácil do que perceber a escolha em não garantir o básico para vivência das pessoas a partir daquilo que se é produzido pelas pessoas.
O nosso modelo de produção de riquezas e conhecimento e o não compartilhamento das mesmas não é sequer questionado e ele tá sendo colocado em xeque, mais uma vez. E não há rebelião, apenas pessoas atônitas presas em mais um plano maléfico.
Somos responsáveis diretos por esse momento, porque acreditamos piamente no modelo e na sua distribuição de bens. O modelo é falho, porque não consegue dar conta da maioria e o colapso é iminente. Nossas proposições sobre o mundo a partir do mérito são falsas e caducas.
Deveríamos ser solidários, compartilhadores de experiência e comprometidos uns com os outros em busca de evolução e garantias sólidas de vivência. Não somos. Definitivamente não somos, só que o tempo urge e é soberano. Ele insiste em dizer para mudarmos nosso marco civilizatório, agora se seremos capazes, é outra coisa…
*Fabio Emecê é professor da Rede Estadual de Ensino, mc, poeta e ativista antirracista