Tô na construção de olhos mais empáticos. Engraçado falar isso, afinal, eu sinto falta disso, parece que ninguém se disponibiliza a sentir, a olhar com paciência, a querer o outro com cautela, então me coloquei na posição de tentar, de me colocar a fazer diferente, me desafiando mesmo, resistindo ao impulso de falar sem pensar, de ser completamente sem filtro, de olhar sempre com mais compreensão do que julgamentos. É uma lição constante e tenho que me manter vigilante.
Uma vez desabafei de uma forma arrogante dentro do coletivo, estava tão sufocada que quando saiu, pareciam demônios arrogantes e juvenis. Hoje acho graça, mas um dia depois, eu me senti mal por ter explodido com pessoas que eu amava, por talvez ter machucado gente que eu nunca teria coragem ou vontade de machucar.
Ali me coloquei pra pensar, me obriguei a ouvir as minhas palavras várias vezes. Entendimento que doía em mim, era incômodo, mas enão deveria ter colocado tal incômodo daquele jeito, com aquele tom de voz.
Vivo num mundo completamente próprio, e as vezes, o que pra mim tá sendo uma afirmação rotineira, pro outro pode tá soando egoísta e confuso. Ter o cuidado muitas vezes não é a necessidade de se explicar, é a tentativa de falar na forma correta. para que não se precise de explicações futuras.
Entender que o escutar ou sentir do outro só pertence ao outro e você tem que se cuidar para não emanar sensações erradas, afinal, o outro é importante, a boa convivência é importante.
Na imensidão de tudo, ser único é importante, mas não maior que ninguém, não pisando em ninguém ou sendo rude. Cabeças levantadas demais perdem o sentido, perdem o humano e o brilho. Entender que faço o meu melhor, reconhecendo que o outro está fazendo o melhor dele e não julgando ou tentando comprar é fundamental, faz bem até pro que é coletivo.
Ao tentar visualizar a grandeza do outro, me vi gigante também e tem sido importante o aprendizado.
Talytha Selezia é poeta, mulher preta e integrante do Coletivo Ónix.