Mulheres nascidas no balneário e outras que escolheram o local como lar construíram, cada uma a seu modo, a identidade de Búzios. Uma homenagem da Prensa às mulheres nesse Dia 8 de Março.
Lourdes Aurélio Martins – Lurdeca
Moradora do Centro, na casa que construiu com seu próprio esforço, numa época em que as dificuldades eram muitas, e muito maiores, Lurdeca é exemplo de guerreira. E das boas. Sabedora do valor de suas conquistas, se mantém no mesmo local, e sua casa é referência buziana. Viúva, criou sua prole com sabedoria, e nos conta com orgulho sua história nada fácil, onde até as coisas que nos parecem mais simples, exigiam bastante esforço. Para se fazer um simples café, era preciso plantar, torrar e moer os grãos antes. Lavar roupa, só nos poços, como o da Bomba, perto de sua casa. Um ritual que durava o dia todo, unindo as mulheres que lá trabalhavam e almoçavam juntas levando sempre as crianças menores, unidas em torno da tarefa em comum. “Assim era a vida em Búzios..”
Diva Nunes Chaves
Incansável. Assim é Diva. Católica praticante de verdade, não nega sua energia quando o assunto é cuidar do próximo. Forte, carrega a bandeira da solidariedade com determinação e muito amor. Foi a primeira buziana a se formar professora. Em 1963 começou a lecionar no Colégio João de Oliveira Botas e inaugurou a Escola José Bento Ribeiro Dantas. Filha de família tradicional buziana, imprime nos dias de hoje o legado das grandes matriarcas que construíram este lugar.
Brigitta
Nascida na cidade tcheca de Carluyvary, foi criada na Bavária alemã, passou a juventude em Paris, morou em Tóquio onde aprendeu a falar japonês, se casou em Joanesburgo (África do Sul) de onde veio conhecer os trópicos e subindo o Rio Amazonas até o Peru. Dali passou pelos Andes, conheceu o Chile e a Argentina, morou no Rio de Janeiro e, finalmente, parou na aldeia buziana, onde manteve por décadas um icônico restaurante na Rua das Pedras, divertidos onde foi pioneira em manter shows de dreg quens e manter por todo o ano a bandeira do arco-íris em seus estabelecimento para deixar claro que a comunidade LGBT era bem vinda. Hoje tem um charmoso atelier em sua casa no bairro Ossos. É um dos muitos exemplos de estrangeiros que colaboraram para a imagem cosmopolita da Cidade.
Renata Dechamps
Carioca com cara e sotaque estrangeiros, é filha de alemães, teve uma educação tão rígida que lhe proibia usar baton e pintar unhas, o que não a impediu de ser uma mulher livre para curtir a vida e correr o mundo fazendo amigos. Como uma autêntica embaixadora carioca em Búzios, hospedou em sua casa-armazém da Rua das Pedras, artistas famosos como Mick Jagger, Helmut Berger e Cat Stevens, mas ao contrário do que diz a lenda buziana, nunca abrigou Brigitte Bardot no quarto da filha, a artista global Alexia Dechamps.
Renata se integrou com rara facilidade a comunidade e local e passou a fazer parte dela, sempre se posicionando nas grandes causas de Búzios, como a emancipação, a luta contra a descaracterização da paisagem e o meio ambiente.
Elizabeth Fernandes (Beth)
Ninguém esperava, mas ela interrompeu a reunião que acontecia em Búzios entre Ministério Público Federal, o proprietário da fazenda Porto Velho e o representante do Aretê, um grande empreendimento interessado nas terras da fazenda. Discutiam questões ambientais relativas à ocupação da área, e Elizabeth Fernandes chegou de surpresa para ampliar a pauta.
Naquele dia, pela primeira vez o MPF tomou conhecimento dos quilombolas de Baia Formosa e de sua triste e violenta história de expulsão das terras ocupadas há gerações, por seus familiares.
Desse jeito, puxada por Beth, uma quilombola que queria ver o pai pisar novamente na terra de seus ancestrais, começou a luta que geraria uma decisão pioneira no Brasil.
Após intensas negociações, o fazendeiro que nos anos 70 expulsou cerca de sessenta famílias quilombolas de suas terras, devolveu para a Associação dos Remanescentes Quilombolas de Baía Formosa, seu direito ancestral, inserindo um novo capítulo na história do Brasil, da cidade de Búzios e seus moradores.
Deise Carvalho da Silva
Buziana de corpo e alma, guerreira de todas as artes na bonita e dura tarefa de cuidar dos seus, Deise é a própria tradução da força feminina. Podemos encontrá-la todos os dias carregando alegremente seu carrinho de mão lotado de peixes, vendendo pelas ruas do Centro o fruto do trabalho de seu marido, Carrapato.
Orgulhosa de sua herança cultural, Deise insere nos dias de hoje a tradição culinária e pesqueira desta antiga aldeia de pescadores. Prepara seu peixe escalado com banana para os que chegam e vive a rotina de uma autêntica família de pescadores, do jeito que aprendeu com seus pais e avós.
Dona Zinha – Guilhermina Maria de Assis (In Memoriam)
Quem se lembra da Búzios das latas d´água na cabeça, dos cercos e arrastões de rede nas praias, época em que toda gente temia o boitatá e se juntava nas casas de farinha ralando, moendo, assando o que naquele tempo representava a própria moeda local. Homens sempre no mar, e em terra, mulheres e crianças que tratavam de dar sentido à rotina dura das lavouras e casas de salga. Numa terra seca, onde se esperava minar água no poço para lavar roupa e cozinhar, toda ajuda era bem vinda e a comunidade dava conta de cuidar dos seus.
Nesse cenário, dona Zinha sempre foi referência. Matriarca com toda a força que a palavra carrega, nos remete à união praticada pelos antigos, e tão necessária nos dias de hoje.
Christina Motta
A escultora Christina Motta nasceu em São Paulo, viveu em Londres e mora em Búzios há quase 30 anos. Suas esculturas em bronze estão espalhadas pelo mundo por países como Alemanha, Bélgica, Chile, Colômbia, Côte D’Ivoire, Estados Unidos, Grécia, Holanda, Líbano e Suécia (coleções particulares). Em locais públicos, podem ser conferidas em cidades como São Paulo, (“Homem na Chuva”, no Parque do Povo), Rio de Janeiro, (Tom Jobim, no Arpoador) Belo Horizonte, Rio Branco (AC), Barra de São João e Arraial do Cabo além de Alcester, na Inglaterra.
Mas é em Búzios, porém, que estão suas obras mais famosas: as esculturas da atriz Brigitte Bardot e dos Três Pescadores, ambas na Orla Bardot, Tem também a “Homenagem ao Quilombo”, no trevo da Rasa, que retrata um pai levantando o filho; a “Vela de Windsurf”, no Pórtico (em parceria com o artista Nestor Angel Paul), a “Homenagem à Bíblia”, em uma praça de Manguinhos; e “Chico Mendes”, na entrada do Epaço Zanine, um centro cultural ao lado da Prefeitura, aberto em 2016.
E ainda tem “Menino no poste, Menina na fonte e Gato no telhado”, todos na bela Travessa dos Arcos, na Rua das Pedras; e “Crianças nos Ossos” e “Garota dos Ossos”, na bucólica Praça dos Ossos. A Garota foi inaugurada em 2014. Em Búzios deixa um legado que só engrandece mais o balneário em todo o mundo, para além das praias.
Textos de Maria Fernanda Quintela/ Victor Viana/ Búzios Online