Após seis meses de suspensão das aulas presenciais, 40% dos alunos da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) ainda não têm acesso ao material pedagógico online. O dado é de um levantamento da própria instituição, divulgado durante audiência pública virtual realizada pelas comissões de Educação e de Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). A direção da instituição de ensino deixou claro que não há perspectiva de retorno às aulas presenciais, inicialmente previstas para outubro.
“De abril a julho, 60% dos alunos tiveram acesso à plataforma Cecierj, responsável pela disponibilização do material pedagógico para os ensinos fundamental, profissional técnico e superior. Semanalmente são disponibilizados materiais pedagógicos e quem não tem acesso à plataforma digital recebe tudo impresso”, afirmou a professora vice-presidente Educacional da Faetec, Leila Antunes.
Dirigentes de unidades, lideranças sindicais e representantes dos estudantes relataram que a falta de infraestrutura tem prejudicado tanto ensino remoto quanto o planejamento de um eventual retorno ao presencial. A diretora da Escola Técnica Estadual República (ETER), em Quintino Bocaiúva, na Zona Norte do Rio, Cláudia Marques, contou a dificuldade dos alunos para acessar o material disponível na plataforma da Cecierj. “Mais de 40 alunos já nos solicitaram material impresso, porém nossa máquina fotocopiadora está quebrada”, lamentou.
Cláudia ressaltou a falta de pessoal terceirizado para os serviços de manutenção, problema também relatado na audiência por outros diretores de unidades.”Há salas cujas janelas não abrem e há carência de pessoal para manutenção do prédio. Muitas das vezes, só pude contar com aquele terceirizado que não tinha salário. Três estão trabalhando voluntariamente. Isso é impagável”, disse Cláudia.
A diretora da Faeterj/Petrópolis, Lucimar Cunha, afirmou que não vê possibilidade de um retorno seguro às aulas presenciais: “Não tenho terceirizados e a equipe de serviços gerais não tem condições de manter uma higiene segura na unidade. Há alunos de outros municípios que usam transporte público.Vamos esperar com vacina e a gente retorna com segurança”, disse.
Integrantes dos grêmios estudantis relataram irregularidade na distribuição de cestas básicas e cobraram acesso ao vale-transporte. Alguns alunos disseram não ter como buscar material impresso por falta de dinheiro para a passagem. “Não temos nenhuma estrutura para estudar.Eu faço enfermagem, então não aprendi nada esse ano. Não consigo ter acesso aos materiais. Como pensar em Enem. Além disso, ninguém pensa na nossa saúde mental. Não há como retomar o ano letivo esse ano”, disse Sarah Cristina, aluna de enfermagem do Escola Técnica Estadual (ETE) República.
O vice-presidente Educacional da Faetec, Maicon Lisboa, afirmou que ainda não há previsão de retorno às aulas presenciais. “Haverá uma reunião na próxima semana para definir o protocolo de retomada mas isso só deve ocorrer após todas as condições satisfatórias. Tem que haver manutenção de aparelhos de ar-condicionado, desinfecção das salas de aula, entre outras ações”, destacou.
Lisboa também ressaltou que a fundação não recebeu do Governo do Estado o repasse de recursos previsto para custear o vale-transporte dos alunos. O dirigente informou que o pagamento de bolsas foi regularizado em julho. E disse que o seguro de estágio será restabelecido. Já sobre contratos de alimentação escolar e vale-transporte, ele explicou que estão sendo concluídos.
As comissões envolvidas no reunião pediram que a Faetec envie, o mais rápido possível, um relatório contendo um detalhamento sobre os fornecimentos de materiais pedagógicos impressos e digitais. O objetivo é analisar medidas que o Poder Legislativo possa tomar para assegurar a melhoria do acesso à educação, além do pagamento de bolsas, regularização de cestas básicas e outros problemas apontados. Também se comprometeram a cobrar do governo o repasse da verba destinada ao vale-transporte aprovada para o orçamento da fundação.