por Francisco Neto Pereira Pinto
A minissérie britânica Adolescência, lançada em 25 de março de 2025 no Brasil, tem sido um sucesso arrebatador com o público. Este fenômeno demonstra o crescente interesse das pessoas pelas complexas dinâmicas familiares, algo evidenciado pelas intensas discussões nas redes sociais e pelas diversas matérias publicadas na imprensa sobre o tema. Nesse contexto, este artigo busca enriquecer o debate ao destacar três valiosas lições que podem ser aprendidas com a série.
Primeira lição: Informação não é sinônimo de sabedoria
No mundo contemporâneo, onde os adolescentes têm acesso ilimitado a um vasto oceano de informações, é essencial lembrar que isso, por si só, não os torna sábios para a vida. A sabedoria, conforme ensinada pelo filósofo Luc Ferry, consiste em saber viver de forma mais feliz, livre e em harmonia consigo mesmo e com os outros.
Essa reflexão nos leva à urgente necessidade de adultos responsáveis que possam orientar os jovens, ajudando-os a transformar informação em aprendizado significativo e saudável. É indispensável que os adultos não renunciem ao seu papel de cuidar e guiar, pois, como aponta a psicanalista Maria Rita Kehl, um dos principais propósitos da instituição familiar é assegurar que uma geração se responsabilize pela seguinte. Em tempos de avanços tecnológicos, como a inteligência artificial, os pais e cuidadores continuam sendo peças fundamentais e insubstituíveis na formação dos jovens.
Segunda lição: Resistir ao piloto automático na educação
Aos 13 anos, Jamie não consegue nomear seus próprios sentimentos ou compreender as mudanças de seu corpo. Essa ignorância, revelada em uma sessão com sua terapeuta, expõe um paradoxo da sociedade atual: enquanto temos acesso a todo tipo de informação, temas humanos e essenciais ainda são tratados com constrangimento.
Como já apontava Zygmunt Bauman, em O mal-estar da pós-modernidade, muitos se sentem constrangidos e até intimidados em certos cuidados com os filhos por medo de gerar traumas ou de serem mal compreendidos. Por isso, evitam conversas sobre assuntos fundamentais, como sexualidade, criando barreiras que dificultam o aprendizado desde cedo.
Exemplos disso são os apelidos “fofos” dados aos órgãos genitais quando as crianças são ainda bem pequenas, já indicando o tabu da sexualidade no espaço que deveria ser o primeiro banho de humanização do ser humano: a família.
Terceira lição: Apropriação criativa e responsável da própria existência
Após cometer um assassinato, Jamie continua insistindo, meses depois, que não fez nada de errado. Foi necessário que sua terapeuta, de forma direta e assertiva, o confrontasse com perguntas simples, mas profundas: “Você sabe o que é a morte? Você entende que a garota que você matou não vai voltar?”
Essas perguntas despertaram Jamie para sua própria responsabilidade quanto aos seus atos e sua existência. É como se ele não tivesse real clareza do que tinha feito, empanturrado, por um lado, de complacência e, por outro, de julgamentos.
Será que, alguma vez na vida, alguém já lhe havia ofertado a oportunidade de assumir a responsabilidade pelos seus sentimentos, atitudes e atos? No último episódio, vemos o impacto dessa abordagem quando ele, de maneira calma e lúcida, decide assumir seus atos, dizendo ao pai: “Vou assumir o que fiz.” Como ensina o psicanalista brasileiro Jorge Forbes, primeiro se é responsável, depois livre. Na ficção, talvez com aquele ato de responsabilidade, inicie-se, de fato, a vida de Jamie.
Adolescência nos lembra que, mais do que acesso à informação, os jovens precisam de orientação, diálogo e ferramentas para se apropriar de sua própria vida de forma crítica, criativa e responsável.
E você, já refletiu sobre como essas lições se aplicam ao nosso cotidiano?
Francisco Neto Pereira Pinto é psicanalista, professor universitário e escritor. Doutor em Ensino de Língua e Literatura. É autor do livro infantil Você vai ganhar um irmãozinho.