O palco do Claro Verão, no Clube Aretê, foi cenário não apenas para os clássicos do rock nacional, mas também para uma viagem às memórias de uma das fases mais desafiadoras do RPM. Em conversa exclusiva com a jornalista Camila Raupp, Paulo Ricardo relembrou como a reclusão em Búzios, na Região dos Lagos do Rio, foi determinante para a conclusão de Quatro Coiotes, segundo álbum de estúdio da banda, lançado em 1988.
“Búzios foi essencial para que 4 Coiotes fosse concluído”, revelou o vocalista, destacando o momento crítico que o RPM enfrentava na época. Após o sucesso estrondoso de Rádio Pirata ao Vivo, que vendeu 3,7 milhões de cópias e consolidou a banda como um fenômeno do rock brasileiro, o grupo enfrentava uma crise criativa e pessoal. Com membros separados por mais de seis meses, o RPM precisou se reunir para cumprir um último esforço, impulsionado pela gravadora.
O refúgio escolhido foi uma casa na Praia de Manguinhos, em Búzios. “Estávamos divididos, mas esse retiro foi fundamental. Ficamos enfurnados, quase como os Beatles em Help!, vivendo juntos e comendo a comida dos pescadores locais. Foi um momento de reconstrução, e Búzios nos deu o espaço para isso”, contou Paulo Ricardo.
O álbum, que teve uma tiragem inicial de 250 mil cópias, trouxe uma sonoridade mais madura e experimental, marcada pela forte presença da percussão de Paulinho da Costa, músico brasileiro radicado nos Estados Unidos. Canções como A Dália Negra destacaram o erotismo, enquanto O Teu Futuro Espelha Essa Grandeza, com a participação de Bezerra da Silva, trouxe críticas sociais. “O som é alto, quase cinematográfico, e se sobrepõe às letras”, afirmou o vocalista, que escreveu todas as músicas, exceto Ponto de Fuga.
Apesar de ser amplamente elogiado pela crítica como uma das obras mais bem construídas do rock nacional, o disco foi recebido com reservas pelo público. “As pessoas esperavam a continuidade do synth-pop de Rádio Pirata. Quatro Coiotes não foi comercialmente compreendido em seu tempo, mas é uma obra à frente de sua época”, refletiu Paulo Ricardo.
O vocalista ainda mencionou que o álbum foi “made in Búzios”, uma criação marcada pela intensidade da convivência e pelo cenário único de Manguinhos. “Há vídeos soltos dessa época que mostram como Búzios foi essencial não só para a conclusão do disco, mas para a reconstrução da banda em um momento tão frágil.”
O show no Claro Verão simbolizou a celebração do passado e a valorização de Búzios como palco de grandes histórias e memórias que marcaram o rock brasileiro. “Búzios sempre terá um lugar especial na história do RPM e na minha vida”, concluiu Paulo Ricardo, emocionado.
Trechos do show de Paulo Ricardo no Claro Verão