Por Matheus Thomaz
O município de Macaé viveu uma explosão demográfica e um suntuoso aporte de recursos nos últimos 35 anos. Deu um salto de uma pequena cidade do interior com belas praias, serras e cachoeiras, com a economia centrada na pesca e agropecuária, para uma cidade de porte médio, com quase 200 mil habitantes, um dos maiores PIB per capita do Estado e a economia centrada na indústria do petróleo e nos negócios relativos a esse meio.
Esse processo acelerado de urbanização e instalação das relações capitalistas na cidade para alguns foi um grande salto de desenvolvimento urbano-industrial, para outros foi apenas a constituição de problemas das metrópoles, como a questão social, violência urbana e as desigualdades, num lugar que não havia experimentado essas “consequências do progresso”. A própria identidade da cidade foi alterada, passou da “Princesinha do Atlântico” para a “Capital nacional do Petróleo”.
Aqui entra questão do desenvolvimento, se absorve a ideia de que quanto mais se expande, extrai recursos e modifica a paisagem, mais se avança para alcançar o tal desenvolvimento. Esse conceito nomeia secretarias, qualifica planos e está sempre no horizonte a ser alcançado. Apesar de toda busca pelo desenvolvimento, este não é um conceito simples de ser entendido e precisa ser muito bem contextualizado para se fazer claro.
Desenvolvimento é um conceito polissêmico, possui vários significados e contextos diferenciados ao longo do tempo histórico. No caso que estamos refletindo aqui, se trata de uma busca por condições de trabalho, riqueza e qualidade de vida. Após a segunda grande guerra mundial o desenvolvimento passou a ser um objetivo a ser alcançado. Naquele momento se dividiam as nações entre desenvolvidas e subdesenvolvidas.
Para a América Latina, lugar em que habitamos, foi criada a CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), que instituiu que o centro do capitalismo era desenvolvido e a periferia subdesenvolvida. Um resumo, bem a grosso modo, poderia dizer que esses países periféricos estavam em uma etapa do desenvolvimento, que para isso deveriam avançar o máximo possível em instituir as relações e o Ethos capitalista para se desenvolverem. Não precisa de muito esforço para perceber que esse caminho, até hoje, não dá certo. Embora esse seja o caminho reafirmado a todo momento no contexto macaense.
Como crítica a esse pensamento, surgiu na América Latina, a teoria da dependência. Que expressa que por esse caminho não haverá desenvolvimento, uma vez que as nações periféricas são dependentes do eixo central capitalista em suas relações comerciais, industriais e no fluxo financeiro. O pensador brasileiro Ruy Mauro Marini é uma grande expressão desse pensamento, ele afirma que as nações dependentes não alcançam o desenvolvimento por esses caminhos.
O que se consegue é estabelecer uma superexploração, que tem aspectos bem contraditórios. Para o capital internacional é mais barata a força de trabalho nas periferias, podendo ser usada em larga escala e de fácil descarte. Já, no ponto de vista do trabalhador superexplorado, se trata de um grande salto em sua vida, pois ser superexplorado pelo capital internacional nos países periféricos é ter um salário razoável e direitos trabalhistas mais próximos dos trabalhadores do eixo central capitalista. Assim, como ele demonstrou nos anos 1970 que o metalúrgico da Volkswagen no ABC paulista quando comparado com o metalúrgico da Volkswagen na Alemanha se notava uma distância enorme entre eles, entretanto, quando comparado com o trabalhador médio brasileiro, o metalúrgico do ABC era quase um privilegiado. Da mesma forma podemos olhar para os trabalhadores do setor onshore e offshore do petróleo aqui em macaé e região e no eixo central do capitalismo, mesmo com uma distância grande entre eles, é um sonho do trabalhador brasileiro ser superexplorado pelo capital internacional.
Acontece que a crise chegou forte, patrocinando um golpe institucional via “Law-fare” derrubou a presidenta eleita, jogou a petrobras para baixo e quebrou algumas empresas de capital nacional que atuavam no setor. As custas do desemprego em larga escala foi-se pavimentando o caminho para entregar as riquezas naturais de nosso país para multinacionais do petróleo, com a SHELL, que chega em Macaé para ocupar o espaço diminuído da petrobras, diminuindo os salários dos trabalhadores e assim repassar grandes lucros para sua matriz e assim deixar seus capitalistas mais feliz.
E como agem os governantes locais, quanto a isso. A prefeitura de Macaé chegou a lançar uma campanha “menos royalties mais empregos”. Afirmando que diminuir as compensações financeiras da exploração do petróleo trará melhoras ao local. E por que esse papo cola, justamente pela ideia da superexploração, o golpe institucional e a lava-jato geraram um enorme desemprego no país, e aqui em Macaé, talvez o maior de toda sua história. O grande capital e seus servos aqui nas colônias de exploração usam da chantagem para crescer seus lucros usando de escada os trabalhadores. Tipo a fala do atual presidente, “é preciso escolher entre ter direitos ou ter empregos”.
Guiado pela crise mundial, o grande capital mira retomar seu crescimento infinito e insustentável extraindo riqueza e valor, pagando menos aos trabalhadores locais. Para o grande capital a superexploração já não é mais suficiente, a superexploração que minimamente estendia alguns direitos que os trabalhadores do eixo central do capitalismo possuem aos trabalhadores periféricos não serve mais. Por isso foi aprovada no governo Temer a reforma trabalhistas, mas eles não querem parar por aí. O grande capital conta com seus gerentes locais, do presidente aos prefeitos, para facilitar seu caminho de lucros infinitos. Por isso é fundamental começar agora a imaginar novas possibilidades, construir resistências e descolonizar o pensamento. Macaé reúne todas as condições para começar já essas transformações.