O Festival de Cinema de Triunfo, renomado evento cinematográfico sediado em Pernambuco, anunciou o filme “Marcos”, gravado em Búzios, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, como um dos seis longas-metragens selecionados da Mostra Competitiva Nacional. O festival, que ocorrerá entre os dias 28 de agosto e 2 de setembro, irá destacar o filme em diversas categorias, incluindo Melhor Filme, Direção, Roteiro, Montagem, Produção, Direção de Arte, Trilha Sonora, Ator e Atriz.
Essa é a estreia nacional do filme que leva o nome do protagonista Marcos, morador de Búzios, vive no balneário com a família.
O longa foi idealizado, escrito e dirigido por Filipe Codeço, primo de Marcos Codeço, cuja vida serve de base para a narrativa. O filme se situa no cruzamento entre a ficção e o documentário, acompanhando a vida de Marcos, um jovem de 22 anos que convive com a discalculia, um transtorno de aprendizagem que o impede de compreender conceitos numéricos e matemáticos. Essa condição afeta profundamente sua vida cotidiana, interferindo em tarefas tão básicas quanto perceber o tempo, entender preços e proporções, e até mesmo reconhecer endereços.
A trama se desenvolve em torno da experiência e do cotidiano do protagonista. No filme, Marcos interpreta a si mesmo como o personagem principal, e as pessoas que o cercam em sua vida real desempenham papéis tanto no elenco quanto na equipe de produção. A narrativa acompanha os dias após a morte fictícia da mãe de Marcos, um evento que o força a buscar autonomia para viver. A trama ficcional é entrelaçada com imagens de sua infância e sua voz narra e reflete sobre o que é mostrado na tela.
A sinopse do filme descreve a luta de Marcos para encontrar autonomia em meio às barreiras que a discalculia impõe. A morte ficcional da mãe se torna um ponto de virada na vida dele, levando-o a confrontar a questão central de sua existência: como conquistar independência apesar de suas limitações?
Além da seleção para a Mostra Competitiva Nacional no Festival de Cinema de Triunfo, “Marcos” também foi escolhido para ser exibido na Mostra do Filme Livre, participando também da WIP Meeting da Conexão Brasil CineMundi, uma categoria da Mostra de Cinema de Tiradentes, destinada a filmes em processos.
“Marcos é um filme sonhado e gestado ao longo de muitos anos. Quando o Marquinho era criança, nossas brincadeiras aconteciam com a gente interpretando personagens, criando histórias e improvisando músicas. Quando ele tinha uns 6 anos, fiz uma pequena experiência cinematográfica onde ele atuava. Já era impressionante vê-lo dançando e cantando qualquer melodia com uma afinação impecável, mas quando vi sua desenvoltura diante da câmera, tive a dimensão do artista que era meu primo. Desde então imaginava criações artísticas com ele. Chegamos a fazer mais duas filmagens de trabalhos experimentais, mas o desejo era de realizar um grande projeto com ele e para ele”, disse Filipe.
Mas a trajetória para chegar até a peça final não foi simples. Filipe conta ainda que durante o processo de aprendizagem do primo houve momentos desafiadores.
“Os anos foram se passando e os processos de aprendizagem começaram a se mostrar extremamente desafiadores para sua subjetividade, gerando nele bloqueios internos e angústias. Ele foi ficando para trás na escola, foi se fechando e muito de sua potência foi ficando embotada. Depois de muita busca de entendimento, a questão da discalculia foi se caracterizando, delimitando melhor o foco de sua dificuldade. Há ainda um número muito escasso de informações a respeito da discalculia no mundo, mesmo sendo um distúrbio que afeta 1 a cada 20 pessoas em diversos graus. São raras as obras literárias ou audiovisuais abordando o tema ou histórias de pessoas que convivem com o transtorno, e essa falta de conhecimento sobre o assunto dificulta ainda mais o diagnóstico daqueles que convivem com essa condição psicológica”, explica.
Diante disso tudo, no final de 2018, Filipe decidiu que faria um longa-metragem baseado na vida de Marcos, onde ele seria o protagonista.
“Queria uma obra que fosse um ensaio de vida, onde ele pudesse vivenciar toda a sua potência e ter a experiência, ainda que na ficção, da autonomia que lhe parece tão distante em seu cotidiano. Ele veria na tela, aquilo que ele ainda não consegue conceber em sua vida. E, claro, acreditamos que, ao fazer isso, poderemos contribuir, ainda que minimamente, com os processos de outras pessoas que tenham a oportunidade de assistir ao filme”, conclui.