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Cidades

Fadiga de Trump.

 

Ele ainda está lá?

Estou falando de Trump. Mas imagino que poderia estar falando do Dr. Michel também. Ele ainda está lá? Eles ainda estão lá?

 

T1Posso atestar que, depois das eleições, mês de novembro, ano passado, muitos cidadãos de mente sã, lá no meu país de origem, os EUA, pensavam, quase literalmente, que estavam vivenciando um pesadelo de que, depois de mais um pouco de suor frio, acordariam.

 

Lá nos EUA, as pessoas tinham várias teorias a respeito de como o pesadelo acabaria, e eu já escrevi sobre duas delas aqui nestas páginas virtuais do Prensa de Babel. (1) Ele seria impeachado. (2) A emenda 25 à Constituição seria invocada e ele seria destituído por seu próprio vice. (Os paralelos entre EUA e o Brasil são longe de exatos, mas impressionantes não obstante.) A 25ª emenda à Constituição americana fala assim: “Quando o Vice-Presidente e a maioria dos principais funcionários dos departamentos executivos, ou de outro órgão como o Congresso possa por lei designar, transmitir ao Presidente pró-tempore do Senado e ao Presidente da Câmara dos Deputados sua declaração por escrito de que o Presidente está impossibilitado de exercer os poderes e os deveres de seu cargo, o Vice-Presidente deverá assumir imediatamente os poderes e os deveres do cargo, como Presidente Interino.” Procedimento, é claro, muito mais rápido do que o bom e velho impeachment, e era obvio que, por causa das suas deficiências intelectuais e psicológicas, o rapaz estava tão inapto para a presidência (ou seja, “impossibilitado de exercer os poderes e os deveres”) quanto uma lâmpada queimada.

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A terceira teoria que menciono aqui pela primeira vez agora: ele se demitiria. Há – ou havia – uma lógica meio crível atrás dessa idéia esperançosa. Conforme uma multidão de observadores, o patife nunca queria ser presidente verdadeiramente. Ele entrou no torneio no espírito de um aventureiro. É dotado de uma auto-confiança desproporcional, acredita na sua estrela, menospreza quase todo mundo que não seja ele. Devido ao seu êxito na versão original (americana) de “O Aprendiz,” acreditava que era um gênio da televisão, e a televisão hoje em dia é o meio de comunicação pelo qual um candidato se comunica mais efetivamente com os eleitores. A televisão e as redes sociais, em que ele também tinha uma destreza incomum, embora perversa. Mas, apesar de tudo isso, até ele devia saber que as chances de ele ganhar eram minúsculas. Ele não era um profissional do ramo. Não era um político testado e tarimbado. Não tinha o respaldo do seu partido (Republicano) de conveniência.

 

Fator que, porque despercebido, nem ele nem os profissionais do ramo levaram em consideração: a fraqueza da oposição. Os adversários republicanos na fase das primárias – um elenco enorme, quase um exército, de senadores e governadores atuais e antigos assim como outras eminências pardas do partido do ramo corporativo e até um conceituado cirurgião de cérebro. Tigres de papel! Ele, o patife, os derrubou, a todos. Nem a Hillary – com as enormes vantagens que ela tinha na fase partido contra partido – resistiu ao furacão. Mas, mesmo assim, parecia evidente que ele não tinha o menor interesse em governar. Sendo competitivo, queria esmagar todo obstáculo no seu caminho. Mas, tendo ganho, qual seria a graça em acordar todo santo dia e pintar no escritório e lidar com problemas em que ele não tinha a menor competência? Com certeza, passaria as rédeas ao seu vice, e ele, o patife, voltaria a sua cobertura de três andares em Nova York e aos seus campos de golfe. Mas, como é confirmado cada vez que ligamos a televisão (pior para quem tem vício por CNN) ou abrimos o jornal, ainda está lá.

 

150231490314420Uma parte expressiva da população que não aguentava nem o visual do rapaz jurava que se mudaria ou para Canadá ou para Nova Zelândia, se ele ganhasse. E, depois de ele ganhar, os supostos emigrados nem mesmo se deram ao trabalho de tirar o telefone do gancho para ligarem para os consulados canadense e neozelandês e indagarem sobre procedimentos e prazos. Com certeza, a oposição militante começou a organizar as marchas de protesto de sempre, organizou campanhas de telefonemas para senadores e congressmen, os deputados de lá. (Há evidências nos EUA que esse tipo de campanha pode surtir efeito.) A oposição começou a organizar-se, é claro, para as eleições legislativas de 2018, e os cartazes com palavras de ordem proliferaram. “Free Melania.” (“Libertem Melania.” Melania é a Sra. Trump.) “Build a Wall Around Trump. I’ll Pay for It.” (“Construam um Muro em Volta de Trump. Eu Pago.”) “We Shall Overcomb.” (Muito engraçado, e não se traduz. Mas tenho um palpite para quem aqui em Búzios queira tentar decifrar: “overcomb” é um jogo na palavra “overcome”, que aparecia nos cartazes dos protestos dos anos de 60. Na verdade, posso ajudar um pouco mais. “Overcome” é “superar”. “Comb” é “pentear”. “Over” é “para cima”.)

 

T3O humor – em cartazes, na televisão, nos jornais e nas revistas, em volta da mesa de jantar, no cafezinho – ajudava, é claro, a baixar a tensão um pouco e para a oposição mostrar a sua resiliência, mas havia também um surto de pensamento mágico mesmo entre as pessoas que mais se orgulham da sua racionalidade. Havia, por exemplo, a fantasia de um grande número de pessoas, que, se não usássemos o nome dele, isso em si ajudaria a fazê-lo sumir. Há outros motivos, obviamente, para não usarmos o nome dele. Usar o nome de uma pessoa confere-lhe dignidade, reconhecimento. Ele não merecia. Mas o pensamento mágico também começou a fazer parte do programa, sem dúvida alguma.

Percebi repetidas vezes que até Paul Krugman, o Nobel em economia, na sua coluna, duas vezes por semana, no The New York Times, evita digitar o nome dele – sim, dele; ele – se não absolutamente necessário. Utiliza rodeios, circunlóquios. Numa coluna de Krugman, semana passada, ele – sim, ele, esse ele cujo nome se pronuncia só com dificuldade, e relutância – foi referenciado duas vezes. Na primeira referência, era o “portly golfer”, ou seja, o jogador de golfe rotundo. Só que “rotundo” não traduz perfeitamente a palavra “portly”. “Portly” pode ser também algo como “imponente”. É um eufemismo por gordo que não se dá ao trabalho de esconder o seu estatuto de eufemismo. Na segunda referência, ele é o “tweeter in chief,” ou seja, tuiteiro em chefe, que é um jogo sobre “commander-in-chief”, ou seja, comandante em chefe, que é um dos atributos do presidente dos EUA; ele é entre outras coisas, comandante em chefe das forças armadas. Trump comunica com o mundo por tuites. Em locais menos augustos do que a coluna de Krugman, ele é, tipicamente, o monstro cor de laranja ou o idiota cor de laranja ou o babaca cor de laranja.

 

A tática me lembra um conselho que as mães americanas davam a suas filhas na minha juventude em meados do século passado – nenhuma idéia se as mães brasileiras diziam a mesma coisa, ou não – quando este ou aquele menino implicava: “É só ignorá-lo.” Tudo bem se é só implicância branda, ou se a implicância seja, em efeito, uma homenagem oblíqua. Mas se o menino comece um programa de bullying rotineiro? Se o menino comece a dar tapas?

 

Krugman escreve uma coluna de opinião, e uma coluna de opinião confere alguns dos privilégios de outra forma reservados aos escritores de literatura imaginativa. Os repórteres que escrevem os artigos noticiosos não gozam desses privilégios. Eles são obrigados a falar de Trump, de Donald Trump, de Mr. Trump, e mesmo de Presidente Trump – uma palavra e um nome que milhões de pessoas esperavam nunca encontrarem justapostos – e a repetição dia após dia é desgastante. O impossível – ou pelo menos o impensável – aconteceu. Pesadelo? Não, é realidade. E, pior ainda, está ficando normal. Presidente Trump. Presidente Trump. Presidente Trump. Ele está lá todos os dias com os seus brados, as suas provocações, as suas injúrias, as suas asneiras, e as suas expressões de desrespeito às leis, à opinião pública, e até à decência comum. O apoio que lhe é prestado por sua base de eleitores atordoados fica forte. E a situação está ficando normal.

 

Eu acho que, para um grande número dos seus críticos mais severos, Trump (o Pato Donald, a avalanche cor de laranja) está ficando uma espécie de prazer pecaminoso – tipo de coisa que uma pessoa odeia ou desdenha como a reality show ou a novela mas de que não consegue abrir mão. De qualquer forma, o efeito é entorpecente. Ou, abordando-se da situação por outro ângulo, é semelhante à descoberta de que o que parecia inicialmente simplesmente um desses incômodos passageiros de saúde – um resfriado, uma gripe, a caxumba infantil – uma dessas coisas que, assim que passada, é esquecida – é, de fato, algo totalmente diferente. Não é necessariamente uma doença progressiva como a de Parkinson ou de Alzheimer ou como esclerose múltipla. É mais como uma dessas doenças crônicas – asma, hipertensão, diabetes. Quem toma os remédios certos convive com a doença indefinidamente.

 

T1Mesmo os meios de comunicação mais sérios e confiáveis nos EUA vêm receitando. Uma dose diária de humor. Uma ação – um telefonema, por exemplo, para o escritório de um legislador. Os Web sites especializados em clickbait, ou caça-cliques, obviamente exploram o momento com promessas de alívio de charlatão – desista da televisão, limite o tempo gasto nas redes sociais, tire férias num lugar onde não haverá acesso fácil à Internet. Ou instale o filtro anti-Trump, na página http://trumpfilter.com, que impede o aparecimento do nome dele nas suas navegações.

Ele não está indo embora tão cedo. É a hora de apertar o cinto de segurança.

Mark é jornalista, é americano, mora em Búzios ( o que quer dizer que escolheu viver no Brasil entre argentinos?).
Mark é jornalista, é americano, mora em Búzios ( o que quer dizer que escolheu viver no Brasil entre argentinos?)

 

 

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