Por esses dias, tive a impressão que Búzios voltou a ser uma aldeia de pescadores. De novos pescadores na verdade.
Com a cidade fechada por causa da pandemia da covid19, a ociosidade está enlouquecendo muita gente e parece que a pesca artesanal virou uma válvula de escape para a solidão do momento.
Uns saem para pescar em busca de relaxamento, outros no entanto, vão em busca de proteínas mesmo.
Alguns comércios fecharam as portas e não pagaram nada aos seus funcionários. Já os autônomos, como vendedores de passeios náuticos e ambulantes em geral, encontraram na pesca uma opção de conseguir comida.
Da janela de minha casa assisto desde bem cedo o desfile pessoas que nunca pescaram na vida com caniços e puçás indo em direção do cais do centro. Dificilmente voltam com algo. A falta de experiência e de material atrapalha o sucesso. O excesso de pescadores também afasta os peixes. Peixe em geral detesta barulho. Igual mulher de TPM.
Nasci à l beira do Atlântico. Sempre fui frequentador de praia. Migrei de Pernambuco e fui morar na Ilhabela, São Paulo. Depois vim parar em Búzios, aonde resido desde a década de 90. Posso dizer que conheço bem a vida dos pescadores. No entanto nunca achei que ser pescador ou filho de pescador fosse algo especial como muita gente tenta impingir à profissão.
O cara é pescador por necessidade (geralmente é só o que há para fazer no lugar) pois seria impossível algum buziano ser madeireiro ou metalúrgico. Sei que existe aqueles que escolhem a profissão por puro gosto. Mas esses são poucos. A maioria vira pescador por falta de opção mesmo. Como agora. O sujeito era garçom e passou a pescar por falta de trabalho.
Sem ter o que comer, pescar não é uma opção tão ruim. Mesmo porque o o investimenro é baixo. Não é como na agricultura onde temos que plantar, cuidar e só depois colher.
Os peixes estão no mar e não pertencem a ninguém. Basta fisgá -los. Precisa apenas ter tempo, paciência e uma vara com linha e anzol.
Essa quarentena devolveu a nossa cidade a paz e a tranquilidade de cinco décadas atrás. Até as praias estão limpas. Para o quadro ficar igual ao passado faltam apenas os pescadores como referência. Mas como a história não se repete a não ser em forma de farsa ou tragédia, quando tudo isso passar esses falsos pescadores sumirão.
Assim caminha a humanidade.
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