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Desafios do século 21 – O papel de cada um na corrente pela manutenção do maior ativo ambiental de Búzios: o Mangue de Pedras

Seu Pedro José de Souza, 81 anos, aponta o Mangue de Pedras / foto Nenéu Menezes

texto Maria Fernanda Quintela / fotos Ronald Pantoja

Maré baixa, baleeiras encalhadas nas pedras do mangue, Seu Pedro José de Souza caminha. Pescador desde que se entende por gente, hoje diz que parou. Chega de pesca. Tem 81 anos e caminha todos os dias de sua casa na Rasa, até a praia Gorda onde ficam os barcos, e onde inicia o Mangue de Pedras. Quilombola, carrega na própria rotina a história de muitas vidas passadas desta mesma forma.

– A pescada quando é grande ela ronca lá de baixo. Com meia água a gente escuta quando ela ronca. Aí a gente sabe, essa aí é grande! Na pegada que bota lá a gente já sabe, a gente já conhece a pescada quando ela bota a boca. A gente diz: ó chegou uma pescada! E quando é grande ela sai correndo. A gente tem que deixar ela correr. Ela dá aquele ronco…faz êêêêêêrrr.

Famosa por estas bandas, a pescada amarela é peixe nobre, nascido e criado no Mangue de Pedras. Assim como uma infinidade de espécies marinhas, tem nesse ambiente tão raro e delicado, seu alimento, abrigo e tudo o que precisa para crescer.

– Antigamente vinha aquele monte de barcos lá da praia da Armação só para pegar a pescada amarela daqui. Vinha um barco grande puxando um monte de caíco à remo, de fundo chato. Eles vinham amarrados um no outro igual rabiola de pipa. Hoje não tem mais. O peixe sumiu quase todo.

Olhando aquele mar, tudo tão lindo, é mesmo difícil de acreditar nas palavras de Seu Pedro. Mas invertendo a paisagem, é possível enxergar.

Mangue de Pedra ao pôr do sol / foto Ronald Pantoja

Situado no bairro da Rasa, um dos mais populosos de Búzios, o Mangue de Pedras sofre. Assediado pelo lixo, esgoto, e construções irregulares, este meio ambiente que é único no mundo, agoniza e pede socorro.

De acordo com a geóloga Kátia Mansur, da UFRJ, que há anos pesquisa o Mangue de Pedras, o  que torna o local tão precioso e único, é a inexistência de rios para levar água doce à Praia Gorda. Kátia revela que é preciso que a água da chuva infiltre na encosta do morro para minar água doce na praia.

– Um lugar especial, único. É um mangue onde não existe lama nem rio, mas onde encontramos plantas típicas de manguezal, plantas que nascem em áreas com presença de sal e água doce. Quando a maré enche, carrega a água salgada para dentro do mangue. Quando a maré baixa, leva nutrientes para o mar. Isso torna o lugar um  berçário natural de diversas espécies. Em Galápagos eu pesquisei um mangue típico de ilhas vulcânicas, que nasceu e se mantém graças à água de orvalho. Até hoje não soube de nenhum mangue no mundo com as mesmas características que o de Búzios – destaca.

Kátia acrescenta que a construção de casas na encosta do morro e muito próximas ao mangue, representa um enorme perigo ao equilíbrio desse ambiente, pois causa desmatamento, e a pavimentação do solo impede a infiltração de água doce e sua chegada à praia.

E têm outros problemas. Sem rede de coleta de esgoto, moradores da Rasa despejam boa parte de seus dejetos no brejo que fica na entrada do bairro. As águas deste brejo seguem direto para o Mangue de Pedras. Assim como seguem as águas do rio Una.

Atravessando os municípios de Araruama, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Iguaba Grande e Búzios, onde deságua no mar, o Una carrega sempre muita novidade pra praia, como lixo, esgoto, e todo tipo de poluição. Com sua foz próxima ao Mangue de Pedras, tudo o que chega pelo rio afeta diretamente este ecossistema.

foto Ronald Pantoja

Em discussão no momento, a transposição para o rio Una dos efluentes oriundos das estações de tratamento de esgotos (ETEs) de São Pedro da Aldeia, Cabo Frio e Iguaba Grande, gera grande apreensão na cidade. Para a ambientalista Anna Roberta Mehdi, a população de Búzios precisa ser ouvida sobre esta questão. Ela destaca que periodicamente o rio apresenta coloração escura e espuma em suas águas, causados por despejos irregulares.

– A transposição vai trazer mais poluição para o rio e o Mangue de Pedras que está ao lado da foz.

 Pensada como alternativa ao lançamento de efluentes tratados dessas estações na Lagoa de Araruama, a transposição está sendo estudada por equipe da COPPE – UFRJ. De acordo com Mário Márcio, gerente de operações de esgoto da Prolagos, concessionária de água e esgoto, os estudos da COPPE vão orientar as tomadas de decisão sobre esta questão.

– O estudo da COPPE vai apontar se a transposição é a melhor solução. A análise será capaz de nos dizer o que pode acontecer com o rio Una e com o Mangue de Pedras, caso estes ecossistemas comecem a receber 500 litros por segundo de efluentes tratados oriundos dessas ETEs. Vamos optar pelo melhor projeto, decidindo com base nas pesquisas realizadas. Também precisamos saber como a Lagoa de Araruama vai se comportar sem os efluentes que recebe hoje. São diversas variáveis que temos que conhecer antes de decidir, para que tudo possa funcionar perfeitamente, sem surpresas futuras, tudo em equilíbrio com a natureza que nos cerca, que representa o maior ativo da nossa região – explica.

APA do Mangue de Pedras

Criada pelo Decreto Municipal 1059, em 08 de novembro de 2018, a Área de Preservação Ambiental (APA) do Mangue de Pedras compreende uma área de 75 hectares e atualmente está formando seu Conselho Gestor, para que possa efetivamente sair do papel.

Para o prefeito de Búzios Henrique Gomes, o Mangue de Pedras tem valor ambiental, científico, histórico e turístico para a cidade. Ele destaca a infinita beleza da paisagem com fauna e flora específicas, e afirma que vai cuidar do local com mais atenção.

Prefeito de Búzios, Henrique Gomes / / foto Ronald Pantoja

– O mangue é parte da história de Búzios, principalmente da população da Rasa, quilombolas que sempre coletaram moluscos e frutos do mar entre as pedras. O mangue sempre foi o seu quintal. É uma área de extrema beleza e natureza rara. Estou criando condições para termos permanentemente o batalhão florestal lá, cuidando do espaço. Isso já está determinado. E nossa fiscalização está atenta às invasões irregulares, construções em áreas proibidas – afirma Henrique, prefeito que assumiu o cargo em maio deste ano, após o afastamento definitivo do prefeito eleito André Granado.

Atento aos problemas que cercam o Mangue de Pedras, Henrique está limpando o lixo jogado no brejo da Rasa e desobstruindo a passagem das águas em direção ao mar. Ciente da carga de esgoto que a população despeja no brejo, o prefeito já solicitou à Prolagos o projeto de construção da rede separativa de esgotos do bairro da Rasa, e em breve espera tornar viável esta empreitada.

De acordo com a Prolagos, obras recentes de ampliação da capacidade de carga da ETE de Búzios, já deixaram o sistema pronto para receber todo o esgoto da cidade. Atualmente recebendo cerca de 80 litros por segundo, a estação já está dimensionada para receber até 200 litros por segundo. Esse cenário favorece o crescimento imediato da rede separativa, deixando as autoridades mais à vontade para planejar e realizar os projetos.

Mário Márcio, gerente de operações de esgoto da Prolagos / foto Ronald Pantoja

– A proposta da Prolagos é nos próximos anos fazer a universalização do esgoto, ou seja, oferecer 100% de cobertura com rede separativa para toda a região de cobertura. Agora cabe aos prefeitos e todos que fazem parte do Consórcio Lagos São João, avaliarem e decidirem o que é possível fazer. Já enviamos também uma proposta, a pedido do Consórcio, de fazer a cobertura de 25% com rede separativa. E eles estão avaliando em termos de custo, o que dá para ser feito nesse quinquênio – completa Mário Márcio, gerente de operações de esgoto.

Vivendo no maior bairro de Búzios, a população da Rasa dá o seu jeito. O conjunto de fossa, filtro e sumidouro é o sistema mais utilizado, porém o dimensionamento incorreto e o adensamento de casas que não permitem o esgotamento no próprio terreno, geram sempre o mesmo problema, despejo nas ruas, brejos e mar. Dois caminhões limpa fossa numa parceria da Prolagos com a prefeitura, percorrem as casas, mas é pouco frente à necessidade real dos moradores, e o sentimento geral é de urgência para a construção de uma rede de esgotos.

Mangue de Pedras durante a maré baixa / foto Ronald Pantoja

Em meio a este quadro de desejos e indefinições, novos projetos continuam surgindo, mostrando o quanto urgem as ações em prol do Mangue de Pedras e da comunidade da Rasa. A própria concessionária já enxergou isso, e num trabalho que extrapola os deveres que estão acordados na conta de água e esgoto que o morador recebe, criou o Projeto Impulso – “A Natureza da Educação para o Mangue”.

Aguardando aprovação do edital do BNDES, este projeto contempla os jovens que moram no bairro da Rasa, próximos ao Mangue de Pedras. A ideia é capacitar para que se tornem guias da APA, recebendo e orientando as visitas de grupos interessados em conhecer as belezas e peculiaridades do local, incluindo a história da comunidade quilombola, que cruza com a existência do mangue e tudo o que sua natureza oferece.

Sintonizando a mudança de hábitos, tão necessária nos dias atuais, a Prolagos acerta na forma de abordagem para os novos tempos. Através do jovem é possível mudar sempre. A relação da população local com o mangue se revelou sustentável por muito anos. Somente na última década esta corrente se rompeu dando lugar à especulação imobiliária, e ao assédio de lixo e esgoto, deixando a comunidade apática e distante.

Sensibilizar o jovem e apontar caminhos sustentáveis de geração de renda, é gerar também felicidade para as famílias e esperança para a natureza rara e deslumbrante que habita o planeta conosco.

foto Ronald Pantoja

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