As pandemias ao longo da história trouxeram diversas mudanças e aprendizados, principalmente quando discutimos o desenvolvimento da área de saúde. Entretanto, a primeira grande pandemia do século XXI, não esquecendo da gripe H1N1, a COVID-19, traz grandes mudanças a respeito do conhecimento sobre transmissão, características gerais das infecções virais, dentre outros tantos conceitos já estabelecidos na área de saúde.
Desde o aparecimento no final de 2019 na China até o momento atual, pouco se sabe sobre o agente causador, a forma e velocidade de transmissão, do público vulnerável à doença, da forma de enfrentar e combater a infecção que se apresenta diferente em todos os países. Métodos como isolamento social, lockdown, quarentena, rastreio de contatos têm sido utilizadas para tentar conter a doença, porém não tem se mostrado totalmente eficaz. A contenção, mitigação, supressão e recuperação são os métodos preconizados de combate à doença, e mais utilizados.
A COVID-19 mostra-se como uma infecção em que 60 fatores de riscos contribuem para o agravamento, já atingiu mais de 200 países no mundo, com mais de 18 milhões de pessoas infectadas e números que superam as 690 mil mortes até o presente momento. E apesar da grande quantidade de produção científica e conhecimento adquirido sobre o tema, os números atuais continuam a crescer rapidamente.
Inúmeros pesquisadores buscam incessantemente contribuir para as alterações destes números, visando algo que contribua para a queda dos casos que só crescem mundo afora. Apesar da gravidade, alguns legados devem ser deixados para o futuro com relação às novas pandemias que venham a atingir a população, pois com certeza elas virão.
É indiscutível e imperativa a necessidade de apoio à ciência em nosso país, pois, em momentos de crises mundiais como esta que estamos vivendo o desenvolvimento científico é uma das melhores armas para combater as adversidades. Instituições que abrigam pesquisadores necessitam de aporte financeiro para o desenvolvimento de soluções para a prevenção e contenção de doenças endêmicas e epidêmicas.
Quando falamos de apoio a ciência temos que pensar que está muito além de questões de saúde, elas são também questões econômicas e sociais, pois uma população saudável é economia para o Estado, é trabalhador produzindo, é capital girando, portanto, torna-se um investimento e não ônus.
Seguindo o mesmo raciocínio, a necessidade de investimento no serviço de saúde público é outro ponto a ser considerado. Estratégias de saúde familiar e comunitária, bem como a criação de comitês de emergência em saúde que englobam todas as esferas do poder público apresentaram-se eficazes em outras situações no combate a outras enfermidades como a varíola, que é a única doença erradicada do nosso meio. O investimento em mão de obra especializada para o serviço de saúde facilita o trabalho preventivo, bem como a tecnologia de ponta para um melhor tratamento de dados epidemiológicos que ajudariam a prevenir epidemias e por consequência, os altos custos empregados em tratamentos.
Infelizmente nosso sistema de saúde passa por décadas de estagnação, e a atual pandemia evidenciou fortemente essa situação. A carência de uma gestão eficaz e de investimentos, transformou o SUS de um projeto copiado por outros países em uma realidade triste e defasada de cuidados a saúde.
Temos que ter em mente que esta é uma grande oportunidade para refletirmos sobre os processos que estamos passando, que este momento traz a possibilidade de mudanças com relação a prognósticos melhores em outras situações futuras semelhantes a estas que estamos vivendo. A necessidade de uma discussão mais ampla, onde toda a sociedade proponha-se a rediscutir a saúde, a ciência que é feita em nosso país, onde os valores sociais, éticos e morais sejam revisitados e evidenciados.
Autor: Alessandro Castanha da Silva é biólogo, especialista em Microbiologia Clínica e professor dos cursos da Área de Saúde do Centro Universitário Internacional Uninter.