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Somos produtos do meio e também somos singulares: fato! A negociação de sermos alguém a partir daquilo que recebemos da sociabilidade e o conflito de sermos padronizados por essa mesma sociabilidade. Quem somos nós nas filas da vida? A resposta é procurada a medida que nós interagimos com o meio.

Agora imagine o meio racista, misógino, homofóbico, resumindo, hostil? Quais pessoas saem desse caldeirão em que ser pessoa passa primeiramente por privações, sanções, escapadas da morte física, apagamento da intelectualidade e dissolvimento do espírito? O empuxo da existência provoca choques, gritos, respiros e invenções. Pessoas essas, existentes aos montes, por aí, por acá, fazedores contemporâneos, na afronta ao sistema mundo.

“Afronta!” também é o nome da série disponibilizada na Netflix, dirigida e produzida por Juliana Vicente, fundadora da Preta Portê Filmes, original do Canal Futura. A série de 2018 entrevista pretos diversos, fazedores, contemporâneos, nas suas dinâmicas a partir da tecnologia presente.

E aí cabe um adendo importante. A tecnologia e a humanidade andam em conjunto, desde sempre e as significações a partir do local, do meio e do interesse se modificam a partir de ideias, valores e construções sociais. Como assim? Raça, classe e constituição da sociedade são fundamentais para apropriação e uso da tecnologia. A série “Afronta!” tenta responder a questão, a partir da contemporaneidade.

Sobre 3 eixos básicos: quem é o entrevistado, como ele lida com o seu manuseio e o link com o Afrofuturismo. A partir do que ele faz, os convidados discorrem sobre o mundo e aí temos histórias fantásticas de cineastas, maquiadores, cantores, atores, artistas plásticos, produtores culturais, músicos, todos eles pretos. E ser preto, no contexto, é adjetivo de valoração e verbo de ação.

Elas, eles, com histórias comuns, de privação a partir dos recortes já mencionados: racismo e seus correlatos e com propriedades de existência e resistência no meio, por conta daquilo que fazem ou insistem em fazer.

No tempo espiralar, em que você imerge para entender quem você é e emerge para dizer o que se dá pra fazer, as personagens adicionam as camadas de singularidade a partir da diversidade, que qualquer pessoa precisaria saber para, pelo menos, almejar um outro futuro possível.

Pretos são singulares e diversos, ora! Não tinha essa noção? Pois bem, além de sermos singulares, diversos e possibilitadores de diversos manuseios, entendemos o futuro, enquanto o presente factível, através de um passado inventivo. Os pretos do Mundo, deslocados dos territórios originários, em África, com os corpos e com as ferramentas disponíveis, moldaram um mundo em que permite uma pessoa, como eu, como exemplo, acessar signos linguísticos, corporais e marcar presença no Mundo.

É o conceito básico do Afrofuturismo, estar projetando um futuro em que os pretos sejam vistos como pessoas plenas, entendendo o presente, e se fundamentando no passado dos nossos ancestrais, que com a tecnologia disponível e palpável, nos garantiu continuidade.

Sun-Ra, o “ideólogo”, do Afrofuturismo, dizia que o povo preto, mesmo tratado do jeito que é tratado, pela ocidentalidade, ainda existia, ainda respirada, ainda inventava, e essa força, provava, que não somos desse mundo, somos mitos, somos das estrelas e estamos aqui enquanto experimento e enquanto seres propondo um outro modelo existência.

Agora imagina esse conceito, associado às redes sociais, à internet. O que temos? Temos pretos do mundo, se olhando, se identificando e se misturando, literalmente falando. E na mistura, o que pode sair? Uma afronta ao status quo, lógico. Aliás, conceituação que se aproxima da Terceira Diáspora – Goli Guerreiro e da Contra-Colonialidade- Nego Bispo.

Assistam “Afronta!” e se dê a chance de entender que se não fossem as limitações padronizantes da nossa sociedade, outro matiz de fazeres ia ser muito mais comum do se imagina e cravo, obviamente, estaríamos bem melhor na foto, no cinema, na política, na vida mesmo. A ladeira do privilégio não seria mais encerada por nós, aliás, nem ladeira existiria. Assista!

Coluna da Angela

Angela é uma jornalista prestigiada, com passagem por vários veículos de comunicação da região, entre eles a marca da imprensa buziana, o eterno e irreverente jornal “Peru Molhado”.

Coluna Clinton Davison

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